Venerável Ordem Terceira do Carmo

Retiro Provincial, São José dos Campos, São Paulo.

De 08-10 de novembro-2019.

Tema: Viver a Fraternidade em Obséquio de Jesus Cristo.

Pregador: Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. Delegado Provincial

Objetivo específico

         O objetivo não é sair da rotina diária, mas sim entrar nela com mais empenho, garra e compromisso. É viver mais intensa e mais conscientemente aquilo que a espiritualidade carmelitana propõe como ideal de vida. Isto tem três aspectos:

Transfiguração.

O retiro deve tornar transparente (transfigurar) o dia-a-dia da nossa vida como carmelitas terceiros. A experiência do retiro deve purificar o olhar e revelar uma nova dimensão desta vida. Fazer olhar o presente com outros olhos. Na expressão do Beato Frei Tito Brandsma, mártir carmelita, “É olhar o mundo com Deus no fundo”.

         Um retiro não é um curso. Um retiro não tem como objetivo ensinar ou fazer saber algo. Mas sim fazer experimentar algo-rezar, parar, refletir. Sentir Deus e viver Deus a exemplo do Profeta Elias na gruta: “Vivo é o Senhor em cuja presença estou!” 1Reis 17,1 e “Eu me consumo de zelo pelo Senhor, o Deus dos Exércitos!”.

         Para que o retiro possa alcançar este objetivo é necessário que ele tenha uma dinâmica própria, tirada da Regra e da Tradição da Família Carmelitana. Trata-se de aprofundar a maneira carmelitana de viver o Evangelho, de “viver a fraternidade em obséquio de Jesus Cristo”.

         Há muitas maneiras de se percorrer este itinerário. Há muitas escolas de espiritualidade. No nosso retiro procura-se percorrer este itinerário segundo a maneira que é própria e característica da espiritualidade carmelitana. O esboço deste itinerário aparece na vida dos santos e santas do Carmelo, nos escritos dos autores espirituais carmelitanos e na tradição das práticas espirituais da nossa família. Aparece sobretudo na vida do profeta Elias, cujo testemunho e exemplo inspirou a espiritualidade carmelitana desde o seu começo.

         A Regra do Carmo recomenda, por bem oito vezes, de maneira explicita, que o carmelita ou a carmelita medite e ore a Palavra de Deus, em particular e em comum. Ela pede que a Palavra habite abundamente na boca e no coração, a ponto de produzir pensamentos santos e de envolver a pessoa em tudo que faz. Tudo deve ser feito na Palavra de Deus. Onde a Palavra de Deus é acolhida, ela produz como resposta a oração que orienta e sustenta no itinerário em direção a Deus.

         Quando uma pessoa decide responder ao apelo da Palavra de Deus, ela inicia uma longa caminhada sem retorno. Na mesma medida em que ela vai em busca de Deus, este mesmo Deus já se faz presente na vida dela. O efeito da chegada de Deus é a escuridão. A pessoa faz a experiência do deserto, do esvaziar-se. É o caminho da Subida do Monte Carmelo e da Noite Escura. A luz escura da contemplação! Aquilo que empurra e sustenta a pessoa neste itinerário para Deus é a oração.

         Por tudo isso, o retiro terá que ser antes de tudo e em primeiro lugar uma experiência concreta de oração; uma oficina onde se aprende a rezar, onde a pessoa se apropria de um método de oração, o método carmelitano. O método de oração próprio do Carmelo é simples e atrevido: tende diretamente à intimidade com Deus.

Quando no Carmelo se fala em perfeição, entende-se a união da alma com Deus e esta jamais é proposta com limites nem medida alguma. Para alcançar o estado de união com Deus é preciso caminhar na presença de Deus. O retiro terá que ser um tempo em que se dê uma atenção quase exclusiva à prática da oração de tal modo que leve a pessoa a viver continuamente na presença de Deus. Numa palavra, o retiro deve ser uma escola da leitura orante, da oração aspirativa e da oração comunitária.

         Os autores espirituais do Carmelo procuram definir este itinerário espiritual marcado pela oração e esclarecem suas etapas, para que os que nele se iniciam não se percam e saibam situar-se. Procuram ainda definir como a pessoa cresce na ora­ção e como a oração vai se modificando e se aprofundando na mesma medida em que a pessoa vai se adentrando neste caminho em direção a Deus. É destes autores espirituais que vamos tirar os elementos para definir as etapas e a dinâmica do retiro.

         Para que o retiro carmelitano tenha este caráter e alcance o objetivo proposto, é necessário que se crie um ambiente. Para que um rio alcance o mar, é necessário cavar um leito. O leito por onde corre o retiro não consiste em primeiro lugar em dar muitas conferências e longas meditações sobre o caminho espiritual, mas sim em colocar as pessoas no caminho, pedir que nele andem e dar algumas breves orientações de como andar nele. Elas mesmas vão ter que percorrer e experimentar as etapas do itinerário espirituais em direção a Deus.

         A caminhada em direção a Deus é muito exigente. Nem todos que começam chegam ao fim. Caminho cheio de riscos, crises e dificuldades! Por isso, os autores espirituais carmelitanos procuram orientar-nos, para que possamos passar pelas curvas perigosas da estrada e chegar sãos e salvos no porto do destino que é Deus, ele mesmo. Eles descrevem as várias etapas deste itinerário e os sintomas que as acompanham.

         São Joao da Cruz descreve este itinerário com imagens e símbolos. A primeira fase é a Subida do Monte Carmelo. A pessoa decide iniciar a caminhada em direção a Deus, deixando para trás o que não combina com este ideal. É a fase da meditação discursiva. A segunda fase é a purificação e a progres­siva iluminação, descrita tanto na Subida do Monte Carmelo como na Noite Escura. É a fase da contemplação. A terceira fase é a chegada no alto do Monte, na união com Deus, descrita na Chama de Amor Viva. Pelos seus conselhos, João da Cruz ajuda a pessoa a se situar no caminho, e a orienta na apreciação exata dos fenômenos que ela sente e descobre em si ao longo do caminho.

         No retiro carmelitano, vamos usar como pano de fundo a vida comunitária. A Leitura Orante da Bíblia deve ser a espinha dorsal do retiro. Deve haver uma orientação bem concreta em dois sentidos: no método de como fazer e nos textos bíblicos a serem usados. O assunto dos textos deve estar em consonância com os assuntos da caminhada a ser percorrida durante o nosso retiro provincial à luz das nossas experiências comunitárias nos diversos sodalícios.

 

Escola de silêncio

         O retiro deve ser também uma escola de silêncio. A Regra fala do silêncio como um dos meios para realizar o ideal do Carmelo. A prática do silêncio como exercício que ajuda a recolher a mente, a ter a atenção voltada para Deus, a ter uma atitude de escuta, a ter um olhar benevolente de contemplação.

*Frei Romualdo, O. Carm e Frei Carlos Mesters, Carm.  Adaptação para a Ordem Terceira do Carmo, Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. 

 

O silêncio no Carmelo

Letra e música: Frei Petrônio de Miranda, O. Carm.

 

A simplicidade falou, o amor foi escutar, era a brisa do Carmelo, com o Profeta a contemplar.

1- Zelo zelatus sum, pro Domino Deo exercituum/ Eu me consumo de zelo, dia e de noite, pelo Senhor (bia)

2- No barulho da grande cidade, na agitação do metrô/ Quem caminha sem o silêncio, jamais encontra, o meu Senhor. (bis)

3-Tem gente que grita aqui, fala alto em todo lugar/ Esse não é o carmelita, aqui o silêncio veio habitar. (bis)

4-Deus não está surdo, não adianta jamais gritar/ Ele ouve a nossa prece, atende o clamor, do pobre a chorar. (bis)

5-No rádio e na tv, no jornal ou no celular/São palavras e mais palavras, e o vazio, sempre a reinar. (bis)

6- Com Teresa e Teresinha, eu quero silenciar/ Com Madalena de Pazzi, buscando essa paz, eu vou me encontrar. (bis)