Dom Vital Wilderink O. Carm. In Memoriam

 

SIMBOLISMO MARIANO

Se perguntar-nos a uma pessoa que traz o bentinho, qual é a razão deste seu proceder, a resposta poderá variar, mas, em última análise, acentuará sempre uma relação entre o Escapulário e a Virgem Maria, E, de fato, tal relação existe. Mais ainda: é ela que dá ao Escapulário o seu valor específico. O Escapulário é símbolo da devoção mariana. A atração que ele exerce sobre o mundo católico, encontra a sua principal justificação na sua índole mariana.

Existe, infelizmente, muito ignorância acerca do Escapulário. Assim há pessoas que atribuem ao Escapulário uma força mágica, como se fosse um amuleto, ou então, vêem nele um salvo-conduto com que podemos entrar no céu, mesmo sem a veste nupcial. (1) No extremo oposto encontramos uma corrente que não oculta a sua aversão da devoção do Escapulário, como em geral de todas devoções particulares, ordens terceiras e confrarias. Tudo isto forma, segundo a sua opinião, um obstáculo para as almas que desejam aprofundar a sua vida de graça. De fato, não podemos negar que uma acumulação de devoções, de fitas, opas e medalhas facilmente enredam a alma na sua vida espiritual. O homem é demasiadamente limitado para aprofundar a sua vida cristã através de muitas devoções. Em si, porém, uma devoção, aprovada pela Igreja, é para isto um ótimo meio.

O que deu origem a tantas falsas apreciações do Escapulário, que vão da superstição até o desprezo, foi o desconhecimento do seu simbolismo. É numa parte desta riqueza, que queremos fixar a nossa atenção no presente artigo.

 

O HOMEM E O SÍMBOLO

Um estudante Brasileiro, ao passar pelas ruas de Roma, viu-se, de repente, em face de uma bandeira da sua pátria. Tal vista causou nele como que um choque elétrico e, ele quedou-se imóvel a fitar o “querido símbolo da Terra, da amada Terra do Brasil”. Enquanto o nosso estudante estava alí, imerso num mundo variado de sentimentos e lembranças, passavam outras pessoas pelo mesmo local. Estas lançavam um olhar curioso sobre a bandeira e continuavam, desinteressados, o seu caminho. Para elas aquela bandeira não era mais que uma das muitas que existe no mundo.

Em todos os tempos e em todos os lugares, o homem sentiu a necessidade de exprimir as suas idéias e intenções por meio de um símbolo. Esta necessidade, aliás, lança as suas raízes na própria natureza humana. O homem graças à sua alma, é capaz de desenvolver uma atividade espiritual. Porém, quando se trata de manifestar a sua experiência interior, ele necessita do seu corpo e do mundo material que o rodeia. Poder de expressão dentro da esfera espiritual, o homem não possui. Podemos portanto dizer que na atividade especificamente humana, há sempre um valor simbólico. Na sua linguagem, nos seus gestos, mesmo no seu silêncio esconde-se  e, ao mesmo tempo, manifesta-se sempre o seu mundo interior.

Para dar corpo à sua alma, o homem utiliza também as coisas materiais existentes fora dele. A matéria torna-se então, por assim dizer, a “tradução” das idéias e intenções humanas. Deste modo ela recebe uma certa dignidade, ela é de certa maneira humanizada. Isto já demonstra que o símbolo como símbolo existe apenas dependentemente do homem, da sua atual experiência interior. Recordemo-nos do estudante brasileiro. Para ele a bandeira existia formalmente como símbolo, ao passo que o interesse das pessoas estrangeiras não passava de estético.

O poder humano de criar símbolos não é ilimitado. Entre o símbolo e o simbolizado já devem existir certos pontos de contato, um certo parentesco. (2) O pelicano foi sempre indicado como símbolo do amor de Cristo, que quer, que seja a razão que o motivou. É claro que um falcão, p. ex., não serviria senão a um simbolismo oposto.

A necessidade de dar figura à sua experiência espiritual, o homem a sente de modo particular na sua relação para com Deus e todas as coisas religiosas. Por isto podemos compreender, porque os místicos, embora cientes da sua incapacidade de exprimir o inexprimível, usam tantas vezes de imagens nupciais.

Não é, pois, de admirar que o Carmelo, já desde muitos séculos, possua um símbolo da sua vida mariana. Teremos ainda ocasião de ver, quais são as razões que deram origem ao simbolismo mariana do Escapulário.

*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm (*30/11/ 1931 +11 /06/ 2014)- Eremita Carmelita- foi vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas montanhas de Lídice, distrito do município de Rio Claro/RJ. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento ocorreu no dia 12 na cidade de Itaguaí, Catedral de São Francisco Xavier, Diocese esta onde ele foi o primeiro Bispo. Carmo de Angra dos Reis/RJ. 18 de junho-2020.