Constant Dölle

Tradução: Frei Gabriel Haamberg, O. Carm

            O espírito empreendedor de Tito para escrever artigos começou bem cedo. Escreve sobre Santa Teresa de Jesus e outros assuntos religiosos. Enfrenta o desafio de fundar uma revista para sua cidade e para toda a Holanda. Em 1911 foi dado o tiro de partida, sendo Tito a cabeça da redação com 16 frades formados. A revista recebe o nome de “Rosas do Carmelo”, alusão às rosas que Santa Teresinha prometera fazer chover sobre a terra após a sua morte. Chegou a 11.000 assinaturas. Os melhores artigos eram do frei Tito. O objetivo era a devoção a Maria, Mãe de Deus. Frequentemente terminava seus artigos com a benção: “Desçam sobre nossa terra o amor de Cristo e de sua mãe Maria”.

            No conhecido Dictionnaire de Spiritualité encontramos artigos clássicos dele; ainda hoje são fonte importante para quem se dedica ao estudo de espiritualidade e mística.

            Tito não se limita a escrever só sobre temas religiosos, mas também sobre questões sociais e políticas. Refunda um jornal, prestes a desaparecer. Após seu doutoramento em filosofia e especialização em sociologia escreve em mais de vinte jornais e revistas de cobertura regional e nacional. Desde 1918 escreve, a cada ano, 104 artigos. Os seus muitos trabalhos pastorais e científicos são editados em várias línguas. O jornalismo em todas as suas facetas é a paixão de sua vida. Considera-o como um caminho privilegiado de levar Deus às pessoas e ao povo. O anúncio da verdade era uma questão de justiça para ele. “A verdade vos libertará”, já dizia Paulo Apóstolo.  Também cobra uma melhor posição jurídica e salarial para jornalistas. Luta pela atualização do currículo de formação jornalística, buscando novas formas. Naquela época, já se movimentava em busca de modernização e atualização do currículo para formação de cineastas, sem êxito, porém. Havia ventos contrários. 

            Em tudo Tito quis servir ao povo de Deus. Seu coração carregado de amor por ele, sua abertura ao Mistério de amor e sua força transformadora eram o núcleo de sua espiritualidade e assinalavam também seus trabalhos acadêmicos e suas múltiplas iniciativas.

Em 1935, é nomeado pelo arcebispo de Jong diretor espiritual da União de Jornalistas Católicos de seu país. Por ocasião da instalação da sua função anuncia: “Nós, jornalistas católicos, devemos abordar em tudo o lado positivo e construtivo da vida. Este é para nós o único caminho desejado por Deus para servir à causa católica. É preciso colocar o amor em primeiro lugar. Esse amor deve revelar-se na imprensa católica”.

As palavras de Tito acontecem ao mesmo tempo em que, em Nüremberg, são editadas as leis absurdas de exclusão da cidadania aos judeus e povos não-arianos pelo nacional socialismo. São muitíssimo conhecidos seus trabalhos entre os jornalistas católicos e sua defesa intransigente dos princípios da fé católica, da integridade e liberdade da imprensa católica na Holanda contra a ideologia nazista. Nas suas aulas na universidade falava aos alunos sobre esse sistema pagão e opressor, defensor da superioridade da raça ariana.

No dia 18 de dezembro de 1941, as empresas jornalísticas na Holanda recebem ordens das autoridades nazistas de aceitarem em seus jornais publicações de notícias nazistas. Eram igualmente pressionadas a substituírem altos funcionários por pessoas de ideologia nacional socialista. O arcebispo De Jong protesta contra as medidas discriminatórias de Hitler. Na Holanda, o porta-voz de Hitler é Seyss Inquart, que antes já entregara a Áustria ao Führer.

Por ordem do arcebispo, Tito elabora uma carta com a sua aprovação, para os diretores e redatores chefes dos diários católicos. Nela era comunicado que tanto para os diretores como redatores chefes, existia a obrigação, sob pena de multa, suspensão ou até mesmo a supressão de jornais, de recusar toda a cooperação com o nacional socialismo em nosso país e conservar o caráter católico de seus diários. A carta termina com o versículo: “Deus tem a última palavra e recompensa o servo fiel”.

Tito diz ao arcebispo que vai entregar pessoalmente a carta pastoral, mas antes irá falar com os bispos. Esses o alertaram do grande risco de sua missão. O temor deles tinha fundamento. Tito sabia disto: “Estou me sentindo incomodado, mas não tenho medo e a omissão não é do meu feitio”.

Iniciando no dia primeiro de janeiro de 1942, por um prazo de nove dias visita todas as diretorias dos jornais católicos na Holanda, esclarecendo a posição do não da Igreja. Não retarda a resposta da polícia secreta, pois houve traição. Durante suas viagens, o nazista alemão Janke se comunica com o general Schmidt: “O Prof. Brandsma deve ser imediatamente processado e enviado para um campo de concentração, devido à oposição sistemática às autoridades de ocupação alemã. É um homem perigoso”.

Tito suspeita do que o espera: “Agora percebo que tudo o que acontece faz parte da minha vida. Agora vou parar na cadeia e me tornar um verdadeiro carmelita”.

De fato, sua posição coerente e firme em favor do ensino e da liberdade de expressão leva-o, por fim, ao martírio no campo de extermínio em Dachau, na Alemanha. Isto ocorre devido ao que falara anteriormente às autoridades nazistas: “O povo holandês faz enormes sacrifícios em favor da fé cristã, tanto crentes como católicos. Veneramos na sua história um tal número de mártires que são exemplos para a humanidade. O povo é capaz de dar a sua vida em defesa da fé, onde ela for reprimida!”.

*Do Livro: O CAMINHO DE TITO BRANDSMA NO TEMPO DE HITLER: PROFESSOR – MÍSTICO CARMELITA – JORNALISTA – MÁRTIR

(O Frei Tito Brandsma, Frade Carmelita da Ordem do Carmo, foi Reitor da Universidade, Professor e Mártir. Foi martirizado no dia 26 de julho de 1942 em Dachau, campo de concentração nazista e seu corpo jogado num crematório coletivo. Portanto a 80 anos, vítima do Nazismo com uma injeção letal ele disse a enfermeira: “Vou rezar por você…” e entregou a ela o seu terço. Mártir da imprensa, não negociou a verdade denunciando as barbáries do nazismo. O Papa João Paulo II o beatificou em 3 de novembro de 1985 e será canonizado no dia 15 de maio -2022, em Roma)