Frei Fernando Millán Romeral, O. Carm. Prior Geral .

(Tradução livre)

(Fevereiro de 2017). A vida consagrada é encontrado em um momento importante, complexo e de certo modo, controverso. Por um lado, começou o processo para elaborar um novo documento que regulamente e oriente as relações entre religiosos e bispos, ou melhor, entre os religiosos e as igrejas locais. Trata-se de um novo mutuae relationes adaptado às novas realidades eclesiais, canônicas e teológicas do nosso tempo. Por outro lado, Francisco assinava no passado dia 29 de junho de 2016, a Constituição Apostólica Vultum do quaerere, sobre e para as religiosas contemplativas (aquelas "Sentinelas da aurora" como as chama o papa). Na mesma se anuncia um novo documento sobre o assunto que elabora em breve a congregação para os institutos de vida consagrada (civcsva) para a execução de alguns temas específicos. Além disso, em muitos países da Europa se estão a realizar processos (nem sempre fáceis) de união das províncias e de reestruturação das existentes que suscita reações muito variadas e às vezes provoca dificuldades e desafios de vários tipos. São apenas três exemplos do complicado período em que vivemos. Devemos viver esse tempo com espírito de discernimento, sério e responsável, mas isso não quer dizer que não possamos vivê-lo com alegria, com serenidade, com esperança e com bom ânimo.

O caso é que, no meio desses processos complexos, em não poucas ocasiões são chamados (e com paixão) o princípio da "autonomia". certamente, este princípio (autonomia das províncias, dos mosteiros, etc) nasce em certos Momentos da história da vida consagrada com um critério sábio e para evitar intromissões. Se procurava preservar estilos de vida e protegê-los, para evitar que se perderem ou que fossem manipulados e deturpadas. Portanto, era (e é) um meio válido ao serviço dos carismas, ou dos Estados de vida no seio da igreja.

Quando, no entanto, esse princípio se transforma em algo absoluto, quando se defende com unhas e dentes, quando se lhe atribui mais categoria teológica e canônico da que tem... Pois creio humildemente que algo está errado. Ninguém entrou na vida religiosa para ser independente, muito pelo contrário, para deixar que outros (as diversas mediações), com diálogo, discernimento, bom senso, coragem e obediência... sejam os que nos governam. O religioso coloca sua vida em outras mãos para satisfazer uma vontade superior, a de Deus. Se existe um princípio sagrado na vocação religiosa é, sim, o de ser "Heterónomos"...

Há dois anos, aproveitando o quinto centenário do nascimento de Santa Teresa, reli algumas de suas obras (não todas, nem com o detalhe que quisesse) e olhei a sua sabedoria espiritual e humana. Me deleite recordando algumas passagens e surpreendi-me descobrindo outros pelos que certamente passei de forma distraída há anos. E eis que no caminho da perfeição, a santa ela nos dá esta pérola: "e uma vez que as freiras fazemos o mais, que é dar a liberdade pelo amor de Deus, pondo-a num outro poder (...). Torno a dizer que está o tudo ou grande parte em perder cuidado de nós mesmos e o nosso presente; que quem de verdade começa a servir ao Senhor, o mínimo que ele pode oferecer é a vida; pois deu a sua vontade, o que teme?" (Caminho 12,1-2). Quase nada...
E Thomas Merton, outro mestre espiritual de primeira fila, reclamava tanto de uma obediência cega que levasse ao "sacrifício de o interior", ou seja, dos princípios mais sagrados, provocando assim uma espécie de inércia, passividade infantil e doidinha... como de uma autonomia que acabou tornando-se um fetiche. O monge é despachado com esta análise e escreve com um bisturi muito fino: "por outro lado, não devemos transformar a autonomia em um fetiche e ser 'Fiel' apenas a nossa própria vontade, uma vez que esta é mais uma maneira de ser infiel..."

Sei que tudo isso teria que precisa-lo muito e que é um assunto complicado e vítreo. Por onde a mão... te curtas. Mas acho que apelar demasiado à autonomia ou transformá-lo em um totem, é perigoso e até mesmo contra a própria essência da vida consagrada que nos liberta para sempre fazer a sua vontade.

Fonte: http://vidareligiosa.es/blogs/signosgestosguinos