Frei Egídio Palumbo O. Carm
A maior parte dos escritos carmelitanos têm uma dimensão mistagógica, quer dizer, pretendem introduzir o fiel numa experiência de Deus mais autêntica e amadurecida. Basta pensar na Institutio (Itinerário com Elias); no Livro da Vida, no Caminho da Perfeição(caminho da oração), no Castelo Interior (Itinerário progressivo para a comunhão com Deus) de Teresa de Ávila; na Subida, na Noite Escura, no Cântico Espiritual de João da Cruz; em João de São Sansão; na "pequenina via" de Teresa de Lisieux; em Como encontrar o Céu na Terra escrito para uma mãe de família por Isabel da Trindade.
Podemos dizer que a espiritualidade carmelita se apresenta como espiritualidade do caminho. Neste caminho o Deus-Trindade age como Pedagogo (2Subida 17,2-4): é Ele o Princípio donde parte o Itinerário; é Ele quem toma a iniciativa, se põe à procura do fiel, suscita, conduz e sustenta a caminhada, respeitando ritmos e tempos.
A experiência do Deus-Trindade como Pedagogo é ação transformante da existência do fiel em existência "trinitária", capaz de criar relações de autêntica comunhão fraterna, capaz de amar o outro assim como Deus o ama. No íntimo esta é a meta do itinerário mistagógico: formar para uma autêntica antropologia de comunhão, fundada na Trindade.
A dinâmica do caminho mistagógico age por etapas:
- da passagem/saída do velho homem (egocêntrico) para o novo homem (alocêntrico em Deus e nos irmãos);
- do contínuo confrontar-se e conformar-se em vista do projeto de Deus;
- da procura constante do Rosto de Deus nas mediações eclesiais e humanas;
- da experiência da dialética da presença/ausência de Deus, de um Deus que não podemos possuir totalmente e pelo qual devemos ser possuídos.
Neste caminho a atitude do fiel é marcada pela docilidade à ação pedagógica de Deus e pelo esforço e compromisso de vida.