Frei Bruno Secondin. O. Carm.

             São conhecidos mais de setenta comentários sobre a Regra do Carmo; quase na sua totalidade consideram como núcleo central do texto e do projeto de vida a prescrição do capítulo 7º, que diz: "Maneant singuli in cellulis suis vel juxta eas, die ac nocte in lege Domini meditantes nisi aliis justis occasionibus occupentur" (permaneça cada um na sua cela ou proximidades, dia e noite meditando na lei do Senhor, em vigílias e orações, a não ser que esteja ocupado em alguma eventualidade justificada). As atuais Constituições da Ordem repetem esta convicção, implicitamente ao menos (cf. n.10 e 59). Por esta razão é possível falar-se de uma resposta tradicional, e praticamente unânime, sobre o coração da Regra.

            Só recentemente começou-se a duvidar da centralidade do capítulo 7º. Egídio Palumbo, por exemplo, um jovem carmelita, que estudou os comentários de todas as épocas, escreve: "Perguntamo-nos se a centralidade do capítulo 7º é uma "necessidade", que o texto revela ou pelo contrário, uma compreensão do sujeito-leitor condicionada pela idéia de perfeição da vida cristã nas formas de vida solitária e eremítica. Sobre isto demonstra a história da interpretação da Regra um fato: quando a centralidade do capítulo 7º deixou trancadas outras "verdades" do texto, que não entravam na ótica do sujeito-leitor, a pré-compreensão transformou-se em pré-julgamento e a leitura da Regra ficou redutiva e estática".

            Estamos convictos de que a centralidade do capítulo 7º, entendido na tradição especialmente como solidão e oração, deve ser profundamente reconsiderada e até mesmo superada. O centro do projeto de vida da Regra - segundo os recentes estudos promovidos na Itália - é constituído pelo conjunto dos capítulos 7-11, tendo como vértice teologal e intencional o capítulo 10º, aquele que fala sobre o oratório e a Eucaristia de todos os dias. A Regra faz as suas principais referências não a cada pessoa isolada, solitária, em oração na cela, mas à fraternidade, isto é, ao grupo de irmãos, que estavam empenhados num caminho de unidade, corresponsabilidade e dedicação ao Senhor, numa fidelidade total, embora proviessem de experiências diferentes, com suas exigências pessoais não uniformes. É sobre isto que desejamos falar, apresentando argumentos, que o comprovem.