Frei Carlos Mesters, Carmelita.

Entre o primeiro e o segundo anúncio, há três complementações que ajudam os discípulos e as discípulas a corrigirem suas ideias erradas sobre Jesus.

 1-A Transfiguração (9,2-10).

Na Transfiguração Jesus aparece na glória diante de Pedro, Tiago e João. Junto com Jesus apare­ce Moisés e Elias, as duas maiores autoridades do Antigo Testamento. Além disso, uma voz do céu diz: “Este é o meu Filho amado! Ouvi-o!”. A expressão “Filho amado” evoca a figura do Messias Servo, anunciado pelo profeta Isaías (cf. Is 42,1). A expressão “Ouvi-o!” (9,7), evoca o profeta prometido no Antigo Testamento, o novo Moisés (Dt 18,15). Com outras palavras, a Transfiguração é uma confirmação das profecias. Os discí­pulos já não podem duvidar. Jesus é realmente o Messias glorioso, mas o caminho da glória passa pela cruz.

 2-Instrução sobre a volta do profeta Elias (9,11-13).

Malaquias tinha anunciado que, antes da vinda do Messias, o profeta Elias devia voltar para pre­pa­rar o caminho (Ml 3,23-24). O mesmo anúncio estava no livro do Eclesiástico (Eclo 48,10). Como Jesus podia ser o Messias, se Elias ainda não tinha voltado? Esta era uma dificuldade muito séria para os  discípulos de Jesus e para os judeus da época em que Marcos escrevia o seu evangelho. Por isso, eles perguntam: “Por que motivo os escribas dizem que Elias deve vir primeiro?” (9,11). A resposta de Jesus é clara: “Elias já veio e fizeram com ele tudo o que quiseram, conforme dele está escrito” (9, 13). Escrito aonde e o que? Jesus alude à morte violenta de João Batista (cf Mc 6,16.27-28). Nela se realizou a ameaça de morte que Jezabel fez contra Elias, conforme está escrito no livro dos Reis (1 Rs 19,2.10). Com outras palavras, as profecias de Isaías que falam da morte violenta do Messias Servo também se cumprirão.

 3-Instrução sobre a necessidade da fé (9,14-29).

Ao descer do Monte, Jesus encontra os discípulos tentando inutilmente expulsar o demô­nio impuro de um menino doente. Anteriormente, eles tinham sido capazes de expulsar demônios  (6,13). Mas, ao que parece, o desencontro crescente entre eles e Jesus tinha enfraquecido sua fé. Jesus teve um desabafo: “Ó geração sem fé! Até quando vou estar com vocês! Até quando vou suportá-los?” (9,19) De volta em casa, os discípulos perguntaram: “Por que não pudemos expulsá-lo?” Jesus responde: “Essa espécie não pode sair a não ser com oração” (9,28-29). Só mesmo a oração fortalece a fé do discípulo a ponto de ela ser capaz de expulsar o demônio e de corrigir as idéias erradas sobre Jesus, o Messias. Pois “tudo é possível àquele que crê!” (9,24)

Entre o segundo e o terceiro anúncio há mais seis complementações sobre a mudança que deve ocorrer na vida do discípulo e da discípula que aceita caminhar com Jesus até o Calvário (9,38 a 10,31). Trata-se de mudanças nos vários níveis do relacionamento humano:

  1. No relacionamento com os que não são da comunidade, o máxima de abertura: “Quem não é contra nós e a nosso favor” (9,38-40).
  2. No relacionamento com os pequenos e os excluídos, o máximo de acolhimento: Acolher os pequenos por serem de Cristo, e não ser motivo de escândalo para eles (9,41-50).
  3. No relacionamento homem-mulher, o máximo de igualdade: Jesus tira o privilégio que o homem tinha com relação à mulher e proíbe mandar a mulher embora (10,1-12).
  4. No relacionamento com as crianças e suas mães, o máximo de ternura: acolher, abraçar, aben­çoar, sem medo de contrair alguma impureza (10,13-16).
  5. No relacionamento com os bens materiais, o máximo de abnegação: “Uma só coisa te falta: vai vende tudo que tens e dá aos pobres” (10,17-27).
  6. Na relacionamento entre os discípulos, o máximo de partilha: quem deixar irmão, irmã, mãe, pai, filhos, terra por causa de Jesus e do evangelho, terá cem vezes mais (10,28-31).