*Frei Joseph Chalmers, O. Carm.
Em nossa jornada de fé, existem momentos em que somos levados ao deserto. Algumas vezes caminhamos pelo deserto seguindo o chamado de Deus ou apenas nos encontramos lá por força das circunstâncias. O deserto é árido e pode ser um lugar assustador. O que significa tudo isso? Podemos ser tentados a não seguir adiante na jornada porque sentimos que ela não vale toda a dificuldade. Então Deus nos envia um mensageiro (cf. 1Rs 19,4-7). Este mensageiro pode vir de todas as formas e tamanhos. Ele, ou ela, nos encoraja a comer e beber, pois a jornada é longa. Somos encorajados a comer o pão da vida e a beber da fonte do Carmelo, que é a tradição carmelitana, que deu vida a muitas gerações antes de nós. Mas talvez estejamos muito deprimidos para nos darmos conta disso. Então o mensageiro de Deus nos cutuca novamente e nos encoraja a comer e beber. É um grande desafio reconhecer o que Deus está nos dizendo através de nossa vida diária bem como reconhecer a voz de Deus na voz, ou através da voz, de pessoas insignificantes.
Nossa fé, esperança e amor, estas três virtudes cristãs essenciais, estão na origem de nossa jornada, sustentadas no que aprendemos com os outros. Ao continuarmos na jornada, nossas razões humanas para acreditar, para esperar em Deus e para amar como Cristo mandou, começam a esgotar-se. Já não são mais suficientes. Podemos jogar tudo para o alto, porque a jornada é bem precária e o fim é incerto ou também podemos rejeitar o mensageiro e ficar exatamente onde estamos. Ou podemos continuar a jornada dentro da noite (1Rs 19,4-7). Um elemento essencial em nossa jornada em direção à transformação é a noite escura. Esta noite nunca teve a intenção de ser algo sombrio ou impossível, mas é um convite para que nos libertemos de nosso modo humano e limitado de pensar, amar e agir para que possamos pensar, amar e agir de acordo com os desígnios de Deus (cf. Constituições dos Frades, 17).
João da Cruz nos dá descrições magistrais dos diversos elementos que se seguem para compor a noite, mas não é uniforme para todos. A noite é experimentada pelas pessoas de modos diferentes e é realizada precisamente para ajudar a purificação de cada indivíduo em particular. A noite escura não é uma punição pelo pecado ou pela infidelidade, mas é um sinal da proximidade de Deus. A noite escura é o trabalho de Deus e leva à completa libertação da pessoa humana. Por isso, ela deve ser acolhida apesar da dor e da confusão envolvida. A noite escura pode ser experimentada não apenas por indivíduos mas também por grupos e sociedades (cf. Lm 3,1-24).
A jornada de transformação geralmente dura muito tempo porque a purificação e a mudança que acontecem no ser humano são profundas. Não se trata apenas de uma mudança de idéia ou de opinião. Trata-se de uma completa transformação nos nossos relacionamentos com o mundo ao nosso redor, com as outras pessoas e com Deus. Os índios americanos têm um ditado lembrando que temos de caminhar uma milha no sapato do outro antes de compreendê-lo. Jesus advertiu seus seguidores para não julgarem (Lc 6,37; Rm 14,3-4) e a razão é muito simples: não podemos ver as coisas a partir do ponto de vista de outra pessoa e, portanto, não conhecemos os motivos por trás de suas ações. Contudo, o processo da transformação cristã leva o ser humano em direção a uma profunda mudança de perspectiva, de seu próprio modo de ver as coisas para o modo de Deus vê-las. Isso envolve uma profunda purificação e esvaziamento de tudo que nos prende para que possamos ser preenchidos por Deus.
Essa jornada contemplativa, tanto no nível pessoal quanto no comunitário, purifica nossos corações de modo que possamos ter dentro do nosso coração um espaço real para os outros e que possamos ouvir o clamor dos pobres sem traduzi-lo pelo filtro de nossas próprias necessidades. Então seremos capazes de realizar o desafio formulado pelo papa João Paulo II: “Homens e mulheres consagrados são enviados a proclamar, através do testemunho de suas vidas, o valor da fraternidade cristã e o poder transformador da Boa Nova, que torna possível ver todas as pessoas como filhos e filhas de Deus e inspira um amor auto-doador para todos, especialmente os menores de nossos irmãos e irmãs” (VC 51).
*FR. JOSEPH CHALMERS, O. CARM.
Nascido em Glasgow, na Escócia, em 5 de abril de 1952, e pós-graduado em Direito, Pe. Joseph Chalmers entrou na Ordem Carmelita em 1975. Completou seus estudos filosóficos e teológicos na Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma) com uma licença em espiritualidade que ganhou a Medalha de Ouro do Papa.
Em 1981, um ano antes de terminar seus estudos, Pe. Joseph foi ordenado sacerdote em Glasgow pelo cardeal, o arcebispo Thomas Winning.
De 1995 a 2007, o Pe. José era prior geral de toda a Carmelita. Depois de dois mandatos como Prior Geral ele retured à sua própria província e serviu como Novice Director durante os últimos quatro anos em Aylesford Priory em Kent. Fr. Chalmers recentemente ingressou no Instituto Saint Luke como Diretor de Formação.
Como Prior Geral da Ordem Carmelita entre 1995 e 2007, o Padre Joseph é muito conhecido em toda a Família Carmelita internacional e além. Desde que retornou ao ministério em sua província nativa da Grã-Bretanha, ele publicou uma série de livros mais vendidos, incluindo O Som do Silêncio: Ouvindo a Palavra de Deus com Elias, o Profeta, e Let It Be: Orando as Escrituras em companhia de Maria, a Mãe de Jesus.
Fonte: http://ocarm.org