A visão da Igreja
No tempo de Santa Teresinha, no fim do século passado, na França, a visão de igreja que predominava era proveniente do rigorismo do Jansenismo. Deus ficou distante. Um Deus exigente e moralista. A vida comunitária do Carmelo era marcada por esta visão de Deus. Havia um manual, feito em 1842, chamado “O Tesouro do Carmelo”. Era um resumo da espiritualidade dos mosteiros da França. Mistura proveniente de Santa Teresa e do Cardeal Bérulle. Tinha forte influência do rigorismo de Jansênio. O uso frequente deste manual fez com que não se liam os grandes mestres espirituais. De S. João da Cruz só se lia a Subida do Monte Carmelo. Espiritualidade rigorista, ascética, moralista e individualista. Na Biblioteca do mosteiro de Lisieux só havia um único exemplar da Bíblia traduzida para o francês e este nem sequer era completo, pois faltavam os livros deuterocanônicos. Para uma irmã poder ler a Bíblia precisava de licença da superior.
Teresinha nasce e cresce dentro deste contexto. Quando ela está no fim da sua vida, a gente capta dos escritos dela uma visão de igreja que significa uma ruptura com este modo de ser e de viver. Para avaliar a novidade de tudo isto que apareceu na vida dela, convém não esquecer que ela era uma moça de apenas 15 anos quando entrou no convento. Ela nunca frequentou escola nenhuma. Tinha vários problemas, mas decidida em seguir a vocação que sentia dentro de si mesma.
Deus como amor e ternura.
Em Teresinha transparece uma nova imagem de Deus, fruto da sua experiência. O seu jeito de lidar com Deus era uma crítica ao jansenismo. Na história de uma alma a gente consegue seguir mais ou menos a gênese desta novidade. A experiência da vivência do próprio pai, o trauma que viveu com a perda da mãe. A experiência vivida na noite de Natal em que de repente conseguiu superar o seu problema afetivo e ter um domínio maior.
Ela soube viver todos estas aspectos da sua vida em estreita ligação com a sua fé. Ela fazia da sua vida pessoal o que nós tentamos fazer hoje: ligar fé e vida. E houve uma iluminação mútua. Talvez aqui esteja uma das maiores contribuições de Teresinha: a nova imagem de Deus e a repercussão que isto tem na vida pessoal e comunitária das pessoas.
No coração de minha mãe a igreja eu serei o amor
Por exemplo, lendo sua vida, como jovem, sentia impulsos grandes e desejos enormes. Ela queria ser tudo ao mesmo tempo e percebia que isto não era possível. Mas por outro lado pensava, se este desejo existe em mim, deve haver um caminho para realiza-lo. Lendo a Bíblia, ela descobriu: “No coração de minha mãe a Igreja, eu serei o amor!”.