Frei Christopher O’Donnell, O. Carm.

A maioria das descobertas registradas no capítulo anterior foram desenvolvidas nos séculos seguintes. A consciência mariana da Ordem evolui rapidamente.[i]  Ao analisarmos este desenvolvimento devemos não apenas examinar cuidadosamente a documentação existente, mas, acima de tudo, devemos buscar um sentimento de empatia com situação dos carmelitas nos séculos XIII e XIV. Do contrário, corremos o risco de termos total antipatia para com uma evolução delicada e complexa. Além disso, devemos destacar alguns pontos proeminentes, tendo-os sempre em nossas mentes, se queremos compreender o modo como se originou a vida mariana da Ordem.

Os irmãos começaram a ir para a Europa por volta de 1238.[ii]  A migração foi gradual desde esta data até 1291, quando o Reino Latino de Jerusalém foi conquistado. Eles levavam consigo a Regra e um modo contemplativo de vida, fortemente marcado pelo ascetismo. Na verdade eles perderam, acima de tudo, sua capela no Monte Carmelo, dedicado à Maria. Vemos que eles logo dedicaram um mosteiro à Maria na Europa, já em 1235.[iii]  Eles chegaram a uma Europa que, como vimos na Introdução, possuía uma rica devoção mariana. Os Irmãos carmelitanos inseriram-se facilmente neste clima mariano. Eles iniciaram então um processo, integrando sua herança própria com a vida mariana encontrada na Europa.

Eles demonstram esta sua grande devoção ao escolherem Maria como sua Padroeira, simbolizada na Capela em sua honra no Monte Carmelo. Já em 1282 o Geral Pierre de Millau, numa carta a Eduardo I da Inglaterra buscando seu apoio, afirmou que a Ordem Carmelita tinha sido especialmente fundada em honra de Maria.[iv]  Isto foi novamente afirmado no capítulo geral de 1287.[v]  Mais tarde, John Baconthorpe (por volta de 1348) diria que “Deus... desejou estabelecer os Irmãos do Carmelo em louvor de sua Mãe.”[vi]  E olhou para o fim dos tempos quando os carmelitas serão recompensados por seu papel especial no serviço militante em louvor a Maria e em honra de Cristo.[vii]

No tempo da regulamentação e da busca por sua identidade, o relacionamento dos Irmãos com sua Padroeira Maria, serviu de base sólida. Mas também existiam outros elementos como o ideal contemplativo e a memória que tinham de Elias.

 [i]  V. Hoppernbrouwers, “Come l’Ordine Carmelitano há veduto e come vede la Madonna”, Carmelo 15 (1968) 209-221.

[ii]  Ver Smet, Carmelites 1:10-28, esp. 10-12.

[iii]  Ibid. 1:11.

[iv]  MCH 47.

[v]  ACG 1:7.

[vi]  Laus religionis carmelitanae 4:2 – MCH 243.

[vii]  Laus 6:4 – MCH 253.