Frei Christopher O’Donnell, O. Carm.
Nos estudos carmelitanos devemos sempre nos preocupar com o que é afirmado precisamente sobre a palavra “Carmelita”. Já que a Ordem não tem um fundador, de certo modo sempre existiu um problema de identidade. Em tais circunstâncias é natural que os carmelitas busquem enfatizar o que é deles. Contudo, o erro seria afirmar que aquilo que é autenticamente carmelitano não deveria ser também partilhado por outras famílias religiosas.
Um modo de buscar uma identidade carmelitana é eliminar do conjunto tudo o que é encontrado em outras ordens religiosas e identificar o restante como sendo “carmelita”. Assim, deveríamos buscar o que é exclusivo aos carmelitas na espiritualidade e na devoção. Um dos resultados seria ignorar as Escrituras, os sacramentos, os dogmas, os votos, já que são comuns a toda Igreja. Mesmo admitindo que poderia existir alguma compreensão específica carmelitana para alguns desses pontos como, por exemplo, os votos, permanece verdadeiro que o que é partilhado com a Igreja sobre obediência, pobreza e castidade será mais importante para a vida dos carmelitas do que aquilo que poderia pertencer somente à Ordem.
Se buscássemos no que é especificamente carmelitano naquilo que não é encontrado em outras ordens religiosas, terminaríamos com alguns hinos ou textos espirituais como o Flos carmeli, e uma determinada visão de Elias e de Maria – o que não é histórico em qualquer sentido moderno. Em vez disso, nosso objetivo é examinar toda a vida mariana da Ordem, sem estarmos interessados com o que possa ser partilhado com outras ordens.
Façamos uma analogia. Três construtores podem receber materiais idênticos para construírem uma casa de um andar. Os mesmos materiais podem ser usados para construir uma casa com espaço suficiente para a sala-de-estar, outra com quartos espaçosos, a terceira com uma cozinha maior. Utilizando os mesmos materiais, até mesmo mais ou menos a mesma quantidade, poder-se-ia conseguir três casas bem diferentes. O que é diferente é o foco dos construtores e a disposição do mesmo material.
Os mesmos elementos principais podem ser encontrados na mariologia das ordens medievais. Nossa tentativa será buscar a experiência carmelitana de Maria. O conjunto será genuinamente carmelitano, apesar de diversos componentes serem partilhados. É importante termos idéia sobre a cultura de nossa antiga mariologia e, como esse material não é muito acessível, começamos com um breve esboço da mariologia medieval.