Frei Gabriel O. Carm. Convento do Carmo, Mogi das Cruzes-SP.
Mês de outubro, Mês das Missões. Sem ter saído do Convento, Santa Teresinha foi proclamada Padroeira das Missões pelo Papa Pio XI no dia 14 de dezembro de 1927. Portanto ser missionário não é diretamente uma questão de ultrapassar fronteiras, mas sim uma questão de muito amor.
A santidade vivida e pregada por Teresinha gerou uma verdadeira revolução na Igreja e não é exagerado afirmar que ela preparou o terreno para a teologia que veio à luz no Concílio Vaticano II. Nem é de estranhar que várias Conferências Episcopais - e entre elas a do Brasil - tenham pedido ao Papa para conceder-lhe o título de Doutora da Igreja.
Qual é então esta Santidade Revolucionária que cativa tanta gente? Basta lembrar as inúmeras igrejas a ela dedicadas, as pessoas numerosas que trazem o seu nome, as Ordens e Congregações que vivem o seu carisma, os últimos papas com bispos, padres e seminaristas que demonstraram e demonstram singular devoção para com ela.
Neste artigo quero apresentar três pontos sobre a Santidade Revolucionária proclamada por Teresinha.
- A santidade não consiste na ausência total de falhas e pecados, mas na total confiança e entrega nas mãos de Deus. Santa Teresinha discorda resolutamente da ideia: santidade = perfeição.
Não se trata, portanto, de ser mais puro, mais bonito, mais irrepreensível e sim de crescer na confiança.
Não será problema ter um certo número de falhas e erros, se prevalecer o pensamento de que Deus é Amor Infinito, que nos dá todo o direito de confiarmos nele. Não se acentua mais a pessoa humana, mas o próprio Deus. Não diga: "Eu quero tornar-me santo", mas "Como sois bom, Senhor!" Em vez de exigências, a santidade agora torna-se dom. Não sou Eu quem me devo tornar virtuoso, mas "posso eu confiar em Deus".
- Não se exige um aparato especial para se tornar santo. Nenhuma vontade férrea, nenhum bom caráter, nenhuma coragem extraordinária. O objetivo já não é tornar-se grande, mas pequeno; não é tornar-se rico, mas pobre. O fato de que a Igreja privilegia hoje os pobres provavelmente tem ligação com a descoberta de Santa Teresinha. Quanto a Deus são evidentes esta escolha e opção, pois "Derrubou os poderosos dos seus tronos e no alto colocou os humildes. Cumulou de bens os que passavam fome e mandou embora os ricos com as mãos vazias" (Lc 1,52-53).
O principal já não é mais ter êxitos, mas sim aceitar as próprias fraquezas e incapacidades que se revelam na frustração, e até alegrar-se com elas. O que antigamente era obstáculo torna-se agora um meio, um impulso para frente. É preciso aceitar a própria miséria e estar aberto para Deus a fim de atrair a sua Misericórdia.
- A santidade não exige mais uma ascese extraordinária. Santa Teresinha rompe com a tradicional concepção de ascese: sabe que as penitências não ajudam tanto assim. Santa Teresa de Ávila (1515-1582) escrevia com entusiasmo sobre um dos seus confessores, provavelmente o dominicano Garcia de Toledo, contando que era uma pessoa fraca e doente que recebia do Senhor a necessária força física para fazer penitências. Hoje não dá para pensar que Teresinha poderia escrever tal coisa. Ela sabia que não é importante que se tenha força suficiente para fazer penitências. Ela aponta diretamente para o essencial. Em vez de correr o risco de tornar-se grande através de dura penitência física apresenta-se agora o trabalho de renunciar à vontade própria. E isto se faz de maneira eficiente quando se aproveita das mil ocasiões que a vida de cada dia nos oferece: não é cobrando os seus próprios direitos, mas colocando-se a serviço dos irmãos através de milhares de pequenos gestos. "Pai, Senhor dos céus e da terra, eu vos agradeço porque escondestes estas coisas aos orgulhosos e as revelastes aos pequeninos", disse Jesus (cf. Lc 10,21).