Frei Pedro Caxito, O. Carm. In Memoriam (* 31/12/1926 + 02/09/2009)
O Visconde de Cairu (José da Silva Lisboa)
Nasceu na Bahia no dia 16 de julho de 1756 e faleceu no Rio de Janeiro no dia 20 de agosto de 1835. Jurisconsulto, jurista e político. Com oito anos de idade já estudava música e piano, filosofia e moral no Convento dos Carmelitas da Bahia. Devido à precocidade da sua inteligência foi mandado a Portugal e estudou retórica, direito canônico, medicina, filosofia, latim, grego e hebraico em Coimbra. O pai exigiu que se fizesse padre, mas ele resistiu por não ser a sua vocação, e quando o pai lhe cortou a mesada, foi, graças aos seus talentos, nomeado substituto do catedrático das matérias, que dominava.
De volta ao Brasil ocupou a cátedra de Filosofia Moral e Grego. Voltou a Lisboa e foi jubilado como Professor Régio. O Príncipe Regente, Dom João VI, nomeou-o deputado e secretário da Mesa de Inspecção da Bahia e assim José da Silva já pôde demonstrar o seu grande interesse pela agricultura e pelo comércio como fonte dupla do progresso da sua terra. Quando Dom João VI fugia de Napoleão e passava pela Bahia, Cairu conseguiu, por intermédio do Marquês de Aguiar, convencer o Príncipe a abrir os portos do Brasil para as nações amigas a 28 de janeiro de 1808. E, por isso, o Visconde de Cairu é o Patrono do Comércio, cujo dia é celebrado no festa de Nossa Senhora do Carmo, data do seu nascimento.
Acompanhou o Príncipe ao Rio de Janeiro e, mestre de Política Econômica, foi para D.João VI como um "Ministro sem Pasta". Nomeado catedrático de Economia Política no Rio de Janeiro, não lhe permitiram lecionar, por ser considerado muito avançado em idéias econômicas.
Foi um dos mais ativos promotores da Independência e já velhinho mandava imprimir folhetos em favor da emancipação do Brasil e os lançava pelas janelas no meio da rua.
Deixou mais de 90 trabalhos (livros, estudos, opúsculos, folhetos, pareceres, discursos etc.) Foi correspondente do Instituto de França e vários outros Institutos estrangeiros: da Baviera, dos Estados Unidos e do Reino de Nápoles.
Publicou "Princípios de Direito Mercantil", "Princípios de Economia Política", "Observações sobre o Comércio Franco do Brasil", "Reclamações", "Bem Comum", "O Conciliador do Reino Unido" e ainda, a pedido de Dom Pedro I, "História dos principais recursos políticos do Império do Brasil" (1826-1830). O mesmo Dom Pedro I o nomeou Barão de Cairu em 1825 e, no ano seguinte, o elevou a Marquês. Na sala do Convento do Carmo de Bahia, onde em 30 de abril de 1625 os holandeses assinaram a capitulação, ele presidiu à primeira reunião da Assembléia Legislativa de Bahia no dia 1º de dezembro de 1828[1].
Foi fiel Carmelita Terceiro e ainda escreveu muito sobre moral cristã e religião. Já quase setuagenário defendeu os princípios da Igreja contra sacerdotes iluministas ou liberalistas como Diogo Feijó. Todos admiravam o seu desprendimento, pois nunca se deixou cegar pelas riquezas, apesar de ser tão bom economista político. Diz Tristão de Ataíde:"(...) o nosso grande Cairu, no seu tratado de 1819, mencionando embora a ação de cada um destes dois elementos (a terra e o trabalho), dá sobre eles a preeminência a outro fator, que só modernamente, depois da luta entre o socialismo e o liberalismo de todo o século XIX, é que viria a ser destacado - a Inteligência. (...) Cairu é o precursor de Ford, de Taylor, de Stakhanoff, a um século de distância".
No seu Compêndio da História da Igreja, diz Frei Dagoberto Romag OFM (3º vol. p. 271 - 1941): "Todavia (quer dizer, apesar dos clérigos galicanistas), a Constituição jurada aos 25 de março de 1824 proclamou o catolicismo religião do Estado(Leis 1824, I 7), devendo-se esta vitória aos enérgicos protestos do venerável ancião e grande brasileiro José Maria da Silva Lisboa, futuro Visconde de Cairu (m.1835), verdadeiro pioneiro da causa católica. Foi provavelmente também ele quem inspirou ao Imperador a idéia de organizar a Igreja do Império". Diz o Eclesiástico (44,1): "Louvemos então os homens piedosos, nossos antepassados, ao longo das gerações".
[1]. Fr.André Prat em O Convento do Carmo da Bahia Mensageiro do Carmelo Ano XXVII p.306