Frei Joseph Chalmers, O.Carm. Ex- Prior Geral
A Regra de Santo Alberto é um documento carismático que está no princípio de todas as formas de vida carmelita. Neste breve texto estão os elementos essenciais do carisma carmelita em sua fase inicial. Estes elementos foram plenamente trabalhados através dos anos seguintes e a tradição carmelita foi enriquecida pelas vidas de um grande número de pessoas e especialmente por nossos santos. Toda pessoa que é chamada a viver de acordo com o modo carmelita dá sua contribuição para a tradição e a transmite para os outros.
Os religiosos carmelitas têm Constituições por meio das quais a Regra de Santo Alberto é aplicada às condições dos dias de hoje. Do mesmo modo, a Ordem Terceira tem a sua Regra. A primeira versão que conhecemos foi publicada em 1675 por Filipe da Visitação. Existem rumores de que, originalmente, ela foi redigida pelo Bem-aventurado João Soreth em 1455, o que é improvável. A atual Regra da Ordem Terceira, como as Constituições dos religiosos, busca fazer a ligação entre o ideal carmelita e a realidade atual daqueles que se empenham em vivê-la. Nestes últimos anos houve discussões e estudos, a nível nacional e internacional, com o objetivo de atualizar a Regra da Ordem Terceira. Espero que, em breve, estejamos em posição de apresentar um texto adequado à Santa Sé, para posterior aprovação e publicação.
Por todo mundo existem muitos padres diocesanos e diáconos permanentes que são membros da Ordem Terceira. A vocação deles é diferente da maioria dos leigos. No entanto, para todos os membros, a espiritualidade carmelita é a inspiração na vivência que eles têm da mensagem do Evangelho em sua vida diária.
A Regra da Ordem Terceira define a missão dos leigos carmelitas, que está enraizada no batismo e pelo qual cada cristão partilha no mesmo sacerdócio de Cristo, na sua dignidade real e em seu ministério profético. Os leigos exercem estas funções participando plenamente da vida da Igreja e aplicando os benefícios da liturgia em sua vida diária. Desta forma eles contribuem para a santificação do mundo.
Dentro desta vocação batismal comum, alguns leigos são chamados a participar do carisma de uma família religiosa particular. Professar como membro leigo carmelita é uma repetição intensificada de nossas promessas batismais. Entrando na Ordem eles assumem para si o carisma carmelita, que é profundamente marcado pela oração. Portanto, a oração, tanto litúrgica quanto pessoal, é uma parte vital e integrante da vida do leigo carmelita. A participação, diária se possível, na celebração da Eucaristia, é a fonte da vida espiritual e da fecundidade apostólica. O ofício divino, como uma partilha na oração de Cristo, é encorajado pelo leigo carmelita e também é uma fonte de grande ajuda na jorna espiritual. A oração pessoal é vital para a vida dos leigos carmelitas e os meios tradicionais, encontrados na espiritualidade carmelita, são especialmente enfatizados. Acima de tudo temos a lectio divina, a escuta orante da Palavra do Senhor, que quer nos abrir para um relacionamento íntimo com Deus, em e através de Jesus Cristo. A devoção a Nossa Senhora é marcante para o leigo carmelita, porque ela é a Mãe do Carmelo.
Como todos os carmelitas, o leigo carmelita é chamado a alguma forma de serviço, parte integrante do carisma dado à Ordem por Deus. Os leigos têm a missão de transformar a sociedade secular. Eles podem fazer isto de diferentes formas, de acordo com suas possibilidades. O grande exemplo para a ação profética é Elias, cuja atividade se origina numa profunda experiência de Deus.
A fraternidade também é um elemento essencial do carisma carmelita. Os leigos carmelitas podem criar comunidade de várias formas: em suas próprias famílias, onde a igreja doméstica pode ser encontrada; em suas paróquias, onde cultuam a Deus com os demais paroquianos tomando parte plenamente nas atividades da comunidade; em sua comunidade carmelita leiga na qual encontram apoio para a jornada espiritual; no local de trabalho e no lugar onde moram. Estes últimos necessitam do testemunho daqueles que estão comprometidos com o amor ao próximo, como Cristo nos ensinou, contribuindo assim para a transformação do mundo de acordo com o plano de Deus.
A contemplação é o que cimenta os outros elementos do carisma. Como todos os membros da Família Carmelitana, os leigos carmelitas são chamados a crescer no relacionamento com Cristo até se tornarem seus amigos íntimos e, como tais, ser uma poderosa influência transformadora no mundo. A assistência tradicional para o desenvolvimento da contemplação está muitas vezes ausente de nosso mundo, que é marcado pela atividade frenética. Portanto, os leigos carmelitas devem encontrar tempo, para deixar de lado os cuidados da vida diária por um instante e permitir que Deus fale a seus corações em silêncio. Fortalecidos por este alimento, eles podem continuar sua jornada e olhar para o mundo com novos olhos. Os contemplativos podem ver a presença de Deus em situações improváveis. Deus sempre nos precede e está presente em qualquer situação antes de chegarmos. É nosso dever descobrir a presença de Deus nas coisas que nos rodeiam e proclamar esta presença para nosso mundo.
*RUMO À TERRA DO CARMELO: UMA CARTA DO PRIOR GERAL PARA FAMÍLIA CARMELITANA POR OCASIÃO DO 550º ANIVERSÁRIO DA BULA “CUM NULLA”