Frei Bruno Secondin, O. Carm.
(SÃO JOÃO DEL REI-MG. Posse da nova Mesa Administrativa da Venerável Ordem Terceira do Carmo. Fotos: Ilaildo Santana).
Somos filhos de um grande movimento laical, que deu muitos frutos semelhantes ao nosso. Hoje nos damos conta de que estas experiência de uma Igreja em transformação, dentro da qual surgiu a nossa família.
-O projeto da Regra reflete e se inserta nesta situação: movimentos de leigos, pregadores, penitentes, peregrinos, fraternos, pobres, não rígidos.
-Naquele tempo não havia ainda uma visão da Igreja bem estruturada como hoje. E isso si vê no projeto da Regra:
-Transparecem algumas estruturas- patriarcal, os padre, os chefes das Igrejas, tradição jurídica (Eleição), etc.
-Porem no fundo tudo é horizontal – fraterno – essencial
-O modelo principal: é aquilo de Jerusalém (palavra – fraternidade – oração – eucaristia – asceses – partilha – templo no meio
-Misturado com outros modelos: ex. o modelo Paulino de Antioquia: abertura – acolhida – outra forma de partilhar os bens – trabalho – respeito das pessoas – visão multicultural – etc
-Alguns dos grandes horizontes: a luta espiritual – trabalho manual – palavra unida ás relações de comunidade.
Elementos que sugerem uma relação com os leigos:
-O dom do lugar pela fundação – O transporte pobre (Igreja pobre é o sentido do texto no original) – acolhida generosa e atenta – a casa dos acolhedores – os viageiros no mar – os trabalhadores – o samaritano da conclusão.
-A falta em geral da mentalidade clerical: tudo deve favorecer a fraternidade, o respeito da diversidade, a centralidade dos valores essenciais.
-Não há preocupação da agregação dos leigos: porque desde o início a mentalidade, a perspectiva, a visão era “laical” num sentido medieval (nossa distinções rígidas ainda não existiam). A intenção era a volta a grande tradição, unindo a sabedoria do passado com a própria experiência e a nova espiritualidade “evangélica-laical” (propositum dos cruzados e dos leigos penitentes).
-Se deve notar também a capacidade de morar na atualidade, quando fizeram corrigir o texto definitivo: os novos elementos contem experiências laical, mas está bem armonizados com os antigos).
-Outro elemento interessante é a confiança na fidelidade madura de cada um: respeito – exceções – valores mais que disciplina.
-A mesma inspiração do profeta Elias não clericalizava o projeto: permaneceu aberto; foi só por causa da “clericalização” sucessiva, que tudo si mudou afastando a vida dos frades da vida do povo e da mentalidade da origem.
-A tradição de ampliar a família religiosa concedendo a agregação (fraternitas) era anterior à nossa aparição. Se usavam palavras como: donatos, oblatos, rendidos, familiares. Nas outras Ordens havia várias formas e grupos. No Carmelo nos primeiros séculos há várias experiências, mas uma só família com diferentes estados de vida.
1452: é o ano do reconhecimento da existência das “monjas” e dos grupos da Terceira Ordem (privilegiados). O destaque e a diferencia se consolida definitivamente.
Vale a pena repensar de novo a riqueza e o valor da situação “laical” das origens: especialmente hoje, em uma Igreja que se dá conta do valor teológico, evangelizador da existência laical.
Tudo isto está pedindo uma nova interpretação do sentido mesmo do carisma. Ele não pode ser considerado como “monopólio” de uma Ordem ou de uma Congregação; é bem da Igreja, e o Espirito Santo está convocando diretamente os leigos a vive-lo e a faze-lo fecundo na Igreja. Isso nos ajuda a recuperar a história primitiva: a intenção não era de fundar uma “ordem”, mais de estabilizar uma experiência simples, fraterna, pobre, aceitada pela autoridade eclesial. Não foi o desejo de distinguir-se que está no fundo da Regra, mais uma estabilidade clara, no propositum vivido.