Para os cristãos ocidentais, o novo ano litúrgico começa neste domingo, 1.º de dezembro, com o início do Advento. O Advento é, tradicionalmente, um tempo marcado por alegre espera pela chegada do Natal. E, no entanto, uma semana e meia antes deste momento chegar, o gabinete presidencial da Cidade do Vaticano já montou uma gigante árvore natalina na Praça de São Pedro. O comentário é de Robert Mickens, publicado por La Croix International, 28-11-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

 

É muito para uma simples espera, alegre ou não...

Quando montaram a árvore, o Papa Francisco nem sequer estava em Roma. Ele estava encerrando a sua visita pastoral a Bangkok, na Tailândia, antes de rumar para o Japão. Mas já no dia em que regressou ao Vaticano, o pontífice foi para a praça, não para inspecionar a árvore, mas para realizar a sua Audiência Geral.

“No próximo domingo começa o tempo litúrgico do Advento”, disse ele na conclusão da audiência. “Irei a Greccio para rezar no lugar do primeiro presépio que fez São Francisco de Assis”, continuou.

Falou também que pretende publicar uma carta aos fiéis em Greccio, município localizado na cordilheira dos Apeninos, ao norte de Roma. O objetivo deste novo documento papal, segundo informou, é ajudar os fiéis a “entender o significado” do presépio.

Diz-se que São Francisco de Assis desenvolveu o primeiro presépio em 1223 na encosta da cordilheira em Greccio, um dos seus eremitérios favoritos. Francisco quis fazer do fato da Encarnação do Verbo – Deus se fez carne – uma realidade para os pobres da cidade.

Bastante simples, não? Portanto, podemos nos perguntar: por que o papa precisa escrever uma carta aos fiéis para explicar o significado desta cena?

Obviamente, Francisco, que em breve completará 83 anos, acredita que muitos se esqueceram que a Encarnação do Verbo – o Verbo se fez carne – é o fundamento da fé cristã.

“E esta é a verdade, esta é a revelação de Jesus: esta presença de Jesus encarnado. E este é o ponto”, disse ele nos primeiros meses de seu pontificado durante uma missa matinal na Casa Santa Marta.

De acordo com o papa, algo assim é escandaloso para os que não creem.

“Nós podemos fazer todas as obras sociais que queremos e dirão: ‘Mas que boa a Igreja, que boa obra social que faz a Igreja’. Mas se nós dissermos que nós fazemos isto porque estas pessoas são a carne de Cristo, vira um escândalo”, explicou.

A nova carta do papa sobre a cena da Natividade irá se basear, provavelmente, neste pensamento e em outros que ele compartilhou ao longo dos anos a respeito da Encarnação.

Tocar a carne de Cristo na carne dos pobres

“Se realmente queremos encontrar Cristo, é preciso que toquemos o seu corpo no corpo chagado dos pobres”, escreveu Francisco em 2017 na mensagem dedicada ao 1º Dia Mundial dos Pobres.

“O Corpo de Cristo, repartido na sagrada liturgia, deixa-se encontrar pela caridade partilhada no rosto e na pessoa dos irmãos e irmãs mais frágeis. Continuam a ressoar de grande atualidade estas palavras do santo bispo Crisóstomo: ‘Queres honrar o corpo de Cristo? Não permitas que seja desprezado nos seus membros, isto é, nos pobres que não têm que vestir, nem O honres aqui no tempo com vestes de seda, enquanto lá fora O abandonas ao frio e à nudez’”, lê-se na sua mensagem.

Na mensagem que escreveu este ano para o Dia Mundial dos Pobres, Francisco reitera:

“A condição dos pobres obriga a não se afastar do Corpo do Senhor que sofre neles. Antes, pelo contrário, somos chamados a tocar a sua carne para nos comprometermos em primeira pessoa num serviço que é autêntica evangelização”, disse.

“A promoção, mesmo social, dos pobres não é um compromisso extrínseco ao anúncio do Evangelho; pelo contrário, manifesta o realismo da fé cristã e a sua validade histórica”, insistiu o papa.

O que Francisco está querendo dizer é que “quem não ama o seu irmão (ou irmã), a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê” (1 João 4,20).

“O critério do amor cristão é a Encarnação do Verbo. (...) Um amor que não reconhece que Jesus veio em Carne, na Carne, não é o amor que Deus nos comanda”, disse o papa em outra de suas homilias proferidas na Casa Santa Marta há alguns anos.
Francisco pediu que o nosso amor seja “concreto, com as obras de misericórdia” pelas quais tocamos “a carne de Cristo ali, de Cristo Encarnado”.

Segundo ele, foi por esse motivo que o diácono Lourenço disse: ‘Os pobres são o tesouro da Igreja!’ (…) Porque eles são a carne sofredora de Cristo!”

Não sabemos o que o papa dirá em sua nova carta a respeito da significação do presépio.

Mas, sem dúvida, destacará que a cena retratada ultrapassa um simples símbolo popular, indo além de uma marca da identidade cristã que alguém pode exibir. Ela é também um desafio e um convite para que cuidemos dos pobres e marginalizados.

Esperemos o papa compartilhar os seus pensamentos sobre o verdadeiro significado do Natal. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br