Refletindo sobre o encontro de Jesus Ressuscitado com Tomé, que não acreditou nas feridas do Mestre até não vê-las, Francisco nos convida a buscar Deus na Igreja, que é o Corpo de Cristo, "aceitando o desafio de permanecer ali, mesmo se não é perfeita" e não "em alguma manifestação religiosa espetacular". E Francisco reforça para não buscar longe e ficar na comunidade, "com os outros; não vá embora, reze com eles, parta o pão com eles”.

 

Andressa Collet - Vatican News

Neste Segundo Domingo de Páscoa e da Divina Misericórdia, o Papa Francisco, na alocução que precedeu a oração mariana do Regina Caeli na Praça São Pedro, refletiu sobre o Evangelho que traz as duas aparições de Jesus Ressuscitado aos discípulos e, em particular, a Tomé (cf. Jo 20,24-29). O "Apóstolo incrédulo", comentou o Pontífice, não foi o único com dificuldades para acreditar, mas acaba representando "um pouco de todos nós. De fato, nem sempre é fácil acreditar", especialmente após sofrer decepções, como no caso de Tomé, que viu o Mestre sendo colocado na cruz como um delinquente: "como confiar novamente?", ponderou o Papa.

 

Encontrar Jesus em meio à comunidade

Assim, enquanto Tomé saiu, recordou o Papa, Jesus apareceu pela primeira vez aos discípulos na noite de Páscoa e o discípulo não acreditou. E Cristo Ressuscitado o fez pela segunda vez, oito dias depois, aparecendo em meio aos seus discípulos e mostrando as suas feridas, "a prova do seu amor, os canais sempre abertos da sua misericórdia".

“Vamos refletir sobre esses fatos. Para acreditar, Tomé gostaria de um sinal extraordinário: tocar as feridas. Jesus as mostra a ele, mas de uma maneira ordinária, chegando diante de todos, na comunidade. Como que para dizer-lhe: se quiser me encontrar, não busque longe, fique na comunidade, com os outros; não vá embora, reze com eles, parta o pão com eles.”

É na comunidade que encontramos Jesus, enfatizou o Papa, onde encontramos "os sinais das feridas: os sinais do Amor que vence o ódio, do Perdão que desarma a vingança, da Vida que vence a morte". Em meio aos irmãos, também se compartilha "momentos de dúvida e de medo, agarrando-se ainda mais firmemente a eles".

“Queridos irmãos e irmãs, o convite feito a Tomé também é válido para nós. Nós, onde procuramos o Ressuscitado? Em algum evento especial, em alguma manifestação religiosa espetacular ou marcante, unicamente em nossas emoções e sensações? Ou na comunidade, na Igreja, aceitando o desafio de permanecer ali, mesmo se não é perfeita?”

O Papa Francisco finalizou a reflexão deste domingo (16) pedindo a intercessão de Nossa Senhora, Mãe de Misericórdia, para nos ajudar "a amar a Igreja e a torná-la um lar acolhedor para todos", mesmo em meio às dificuldades:

"Apesar de todas as suas limitações e quedas, que são as nossas limitações e as nossas quedas, nossa Igreja Mãe é o Corpo de Cristo; e é ali, no Corpo de Cristo, que se encontram impressos, mais uma vez e para sempre, os maiores sinais do seu amor. Vamos nos perguntar, porém, se, em nome desse amor, em nome das feridas de Jesus, estamos dispostos a abrir os braços a quem está ferido na vida, sem excluir ninguém da misericórdia de Deus, mas acolhendo a todos; cada um como um irmão, como uma irmã." Fonte: https://www.vaticannews.va

Jesus disse à Santa Faustina: "A humanidade não encontrará paz, enquanto não se voltar com confiança para a misericórdia divina" (Diário, pág. 132). A misericóridia, de fato, foi um traço de unidade característico entre os pontificados dos últimos papas.

Ir. Grazielle Rigotti, ascj - Vatican News

O tema da misericordia divina, manifestada através da vida de Jesus Cristo, é recorrente em diversos pontificados. Pode-se até mesmo afirmar que tal atributo divino perpassou os pontificados como poucos, e de forma singular. Ainda nos dias atuais, os fiéis se voltam para a misericórdia e celebram no segundo domingo da Páscoa a festa da Divina Misericórdia. Esta, porém foi um traço presente nos pontificados e documentos papais ao longo dos anos na história da Igreja.

 

Papa Pio XII

Pode-se iniciar o caminho traçado pelos pontífices e a misericórdia no Ano Santo de 1950, onde Papa Pio XII havia evocado a misericórdia divina em sua radiomensagem de Natal de 1949: “A nossos filhos, a todos os homens de bem, seja estimado o compromisso de não decepcionar as esperanças do Pai comum, que tem seus braços erguidos para o céu, para que a nova efusão da misericórdia divina sobre o mundo possa exceder todas as medidas.”

De fato, em seus discursos, Eugenio Pacelli ainda faz questão de destacar as obras de misericórdia como sendo a “essência própria do evangelho”. (Audiência de 19.7.1939)

O mesmo Pontífice ainda marcou seu pontificado com a Encíclica Haurietis Aquas de 15 de maio de 1956, sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, e onde também cita seu predecessor, Pio XI, e sua encíclica Miserentissimus Redemptor. Papa Pacelli reitera: “Assim como amou a Igreja, Cristo continua amando-a intensamente, com aquele tríplice amor de que falamos (cf. 1 Jo 2,1); e esse amor é que o impele a fazer-se nosso advogado para nos obter do Pai graça e misericórdia, "estando sempre vivo para interceder por nós" (Hb 7, 25) (44), e ainda recorda que “ao mostrar o Senhor o seu coração sacratíssimo – de modo extraordinário e singular quis atrair a consideração dos homens para a contemplação e a veneração do amor misericordioso de Deus para com o gênero humano”. (52)

 

Papa Paulo VI

Em 12 de abril de 1968, papa Paulo VI após a Via Sacra no Coliseu, descreveu a misericórdia como uma torrente que jorrava da cruz.

Em seu discurso, afirma: “Jesus morreu não só porque nós o matamos; ele morreu por nós. Ao morrer na cruz, Ele nos salvou. Por nós, Ele sofreu e morreu. E assim como tantas representações da Cruz na arte cristã fazem jorrar riachos de água límpida aos pés daquela árvore da vida para indicar graça, amizade com Deus, os Sacramentos, assim também da Cruz brota uma torrente de misericórdia e nos oferece, a todos nós, o destino inestimável de sermos perdoados, de sermos redimidos. Tanto que, com a liturgia da Igreja, chamaremos "abençoada" a Paixão cruel do Senhor: pois ela é a fonte do nosso renascimento e da nossa felicidade. Não mais a cruz é, portanto, uma forca de ignomínia e morte, mas um símbolo de vitória: in hoc signo vinces. Vemo-lo aqui sob o arco de Constantino, triunfante desde que o destino da Cruz de Cristo abriu novos horizontes radiantes para a história da Igreja.”

 

João Paulo II

Pode-se dizer também que São João Paulo II baseou muito de seu pontificado na misericórdia, coroando como aspectos particulares de seu magistério o Grande Jubileu do ano 2000 e a instituição da celebração da Divina Misericórdia, sendo realizada no segundo domingo de Páscoa. Tal instituição foi anunciada por ocasião da canonização de Maria Faustyna Kowalska. Além disso, ele havia dedicado também sua segunda encíclica ao tema da Misericórdia, Dives in Misericordia em 1980. Foi neste documento que o pontífice afirmou: "em Cristo e por Cristo, Deus com a sua misericórdia torna-se também particularmente visível; isto é, põe-se em evidência o atributo da divindade, que já o Antigo Testamento, servindo-se de diversos conceitos e termos, tinha chamado «misericórdia». "(2)

 

Bento XVI

“As mãos de quem vos ajuda em nome da misericórdia sejam uma prolongação destas grandes mãos de Deus.” Em sua viagem à Polônia em maio de 2006, o papa Bento XVI enfatizou o parentesco entre o que ele chamou de dois mistérios: a fragilidade humana e a misericórdia divina. Nesta ocasião ele estava em um encontro com os doentes. O papa continuou seu discurso afirmando que à primeira vista, estes dois mistérios parecem ser opostos um ao outro. Mas quando tentamos mergulhar neles à luz da fé, vemos que eles estão em harmonia mútua. Isto é graças ao mistério da cruz de Cristo.

 

Papa Francisco

Utilizando-se de outras palavras, mas resgatando ainda o mistério do encontro entre fragilidade humana e acolhida divina, faz-se memória da Carta Apostólica do Papa Francisco, Misericordia et misera, datada do quarto ano do seu pontificado, e por ocasião do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Nela, lê-se que “A misericórdia é esta ação concreta do amor que, perdoando, transforma e muda a vida. É assim que se manifesta o seu mistério divino. Deus é misericordioso (cf. Ex 34, 6), a sua misericórdia é eterna (cf. Sal 136/135), de geração em geração abraça cada pessoa que confia n’Ele e transforma-a, dando-lhe a sua própria vida.”

O atual Pontífice também, recentemente, em março de 2023, em um encontro com os participantes do Curso sobre o Foro Interno promovido pela Penitenciaria Apostólica, Papa Francisco afirmou que “vivendo da misericórdia e oferecendo-a a todos, a Igreja se realiza e cumpre sua ação apostólica e missionária. Quase poderíamos dizer que a misericórdia está incluída nas "notas" características da Igreja, em particular faz resplandecer a santidade e a apostolicidade.”

Como conclusão, e tomando como luz as palavras de Francisco no mesmo discurso, pode-se enfim afirmar que "desde sempre, a Igreja, com estilos diferentes nas várias épocas, expressou esta "identidade de misericórdia", dirigida tanto ao corpo quanto à alma, desejando, com seu Senhor, a salvação integral da pessoa. A obra da misericórdia divina coincide assim com a própria ação missionária da Igreja, com a evangelização, porque nela resplandece o rosto de Deus como Jesus nos mostrou". Fonte: https://www.vaticannews.va

"Neste processo de discernimento, deixar que o Senhor trabalhe em vocês, que os fará pastores segundo o seu coração porque o contrário é usar máscara, maquiar-se, aparecer é coisa de funcionários, não de pastores do povo, mas de clérigos de Estado", disse Francisco aos seminaristas da Calábria.

 

 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (27/03), na Sala do Consistório, no Vaticano, os bispos, superiores, formadores e seminaristas da Calábria por ocasião de sua peregrinação a Roma.

Depois de saudar todos os presentes, o Papa se deteve na pergunta que Jesus faz aos discípulos: «O que vocês estão procurando?» "Às vezes procuramos uma "receita" fácil, mas Jesus começa com uma pergunta que nos convida a olhar para dentro, para verificar as razões do nosso caminho", disse o Pontífice. "A vocação de vocês é caminhar com o Senhor, o amor do Senhor. Tomem cuidado para não caírem no carreirismo que é uma praga, o carreirismo é uma das formas mais feias de mundanismo que nós clérigos podemos ter", sublinhou.

A seguir, o Papa perguntou aos seminaristas: «O que vocês estão procurando? Qual é o desejo que os levou a sair ao encontro do Senhor e a segui-lo no caminho do sacerdócio? O que vocês procuram no Seminário? E o que procuram no sacerdócio? "Devemos nos perguntar, porque às vezes acontece que "por trás das aparências de religiosidade e até de amor à Igreja", na verdade, buscamos «a glória humana e o bem-estar pessoal»", disse Francisco, ressaltando que "é muito triste quando se encontra sacerdotes que são funcionários, que se esqueceram de ser pastores do povo e se tornaram clérigos de Estado. É ruim quando se perde o sentido sacerdotal".

O seminário é o tempo de ser verdadeiros com nós mesmos, deixando cair as máscaras, artimanhas e aparências. Neste processo de discernimento, deixem que o Senhor trabalhe em vocês, que os fará pastores segundo o seu coração porque o contrário é usar máscara, maquiar-se, aparecer é coisa de funcionários, não de pastores do povo, mas de clérigos de Estado.

A seguir, Francisco fez a mesma pergunta de Jesus aos bispos: "O que vocês estão procurando? O que desejam para o futuro da sua terra, com que Igreja vocês sonham? Que tipo de padre vocês imaginam para o seu povo? Vocês são responsáveis pela formação desses jovens."

Este discernimento é mais necessário hoje do que nunca, porque no tempo em que um certo cristianismo do passado se desvaneceu, abriu-se diante de nós um novo tempo eclesial, que exigiu e ainda exige uma reflexão também sobre a figura e o ministério do sacerdote. Não podemos mais pensá-lo como um pastor solitário, fechado no recinto paroquial; é preciso unir forças e partilhar ideias, para enfrentar alguns desafios pastorais que já são transversais a todas as Igrejas diocesanas de uma Região. Penso na evangelização dos jovens, nos percursos de iniciação cristã, na piedade popular, que necessita de escolhas unitárias inspiradas no Evangelho. Penso também nas exigências da caridade e na promoção da cultura da legalidade.

"Tudo isso convida a formar sacerdotes que, vindos de seus próprios contextos, saibam cultivar uma visão comum do território e tenham uma formação humana, espiritual e teológica unitária", sublinhou o Papa, pedindo-lhes para "canalizar todas as energias humanas, espirituais e teológicas num único Seminário". "Não se trata de uma escolha logística ou meramente numérica, mas destinada a amadurecer juntos uma visão eclesial e um horizonte de vida sacerdotal, em vez de dispersar forças multiplicando os lugares de formação e mantendo pequenas realidades com apenas alguns seminaristas".

Segundo o Papa, "um seminário com 4, 5, 10 pessoas não é seminário, não se forma seminaristas; um seminário com 100, anônimo, não forma seminaristas. São necessárias pequenas comunidades também dentro de um grande seminário ou um seminário com medida humana que seja o reflexo do colégio presbiteral. É um discernimento que não é fácil fazer, não é fácil. Mas tem que ser feito e decisões têm que ser tomadas sobre isso. Não será Roma que vai lhes dizer o que fazer, não: porque vocês têm o carisma. Nós damos ideias, orientações, conselhos, mas vocês têm o carisma, vocês têm o Espírito Santo para isso. Se Roma começasse a tomar decisões, seria uma bofetada no Espírito Santo, que age nas Igrejas particulares.

Segundo o Papa, "este processo está sendo iniciado em muitas partes do mundo e é natural que haja alguma resistência e algum esforço em dar este passo". "Mas recordemos que o apego à nossa história e aos lugares significativos da nossa tradição não deve impedir a novidade do Espírito de traçar caminhos a seguir, sobretudo quando o caminho da Igreja o exige. O Senhor nos pede uma atitude de vigilância, para que não nos aconteça "como nos dias de Noé", quando as pessoas, preocupadas com as coisas habituais, não notaram que chegava o dilúvio. Precisamos de olhos abertos e coração atento para captar os sinais dos tempos e olhar adiante", concluiu Francisco. Fonte: https://www.vaticannews.va

Pontífice nascido na Argentina fala no 'Popecast' no dia em que se celebram seus dez anos de papado

 

O papa Francisco durante oração do Angelus, no Vaticano - Filippo Monteforte - 5.mar.23/AFP

 

SÃO PAULO

Jorge Bergoglio, o primeiro papa latino-americano da história, que nesta segunda (13) completa dez anos como o líder da Igreja Católica, já imaginava se deparar com tensões na chefia da instituição. Mas não esperava ser papa "nos tempos da Terceira Guerra Mundial".

A declaração foi dada pelo próprio papa Francisco em um episódio do Popecast, o podcast produzido pela mídia do Vaticano com o pontífice e divulgado no dia de seu aniversário de uma década no cargo. O papa se refere à Guerra da Ucrâniaconflito que fez o fantasma de um terceiro conflito mundial sair do armário.

 

Francisco, que nasceu em Buenos Aires, na Argentina, tem pedido por paz em seus conflitos, e a guerra já chegou a ampliar a rusga histórica entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa Russa.

O papa diz que, como alguém que "veio dos confins do mundo", não esperava isso. "Achei que a Síria ia ser única, depois vieram as outras", segue, referindo-se à Guerra Civil síria, que já passa de uma década.

"Por trás das guerras, há a indústria de armas, o que é diabólico", diz Francisco nos quase dez minutos de episódio. "Sofro em ver a morte de jovens homens –sejam eles russos ou ucranianos. É difícil."

No material disponível em italiano, Francisco volta a pedir paz. No início, mostram os apresentadores, ele pergunta o que é um podcast. "Um podcast? O que é isso? Bom... Vamos fazer."

Ao descrever seus dez anos como papa, ele diz: "O tempo voa, tem pressa. Quando você quer agarrar o hoje, já é ontem. Esses dez anos foram assim: vivendo em tensão".

A celebração de seus dez anos de papado contará também com uma missa para a qual foram convidados outros cardeais, no Vaticano. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Francisco disse, em sua alocução, que o Evangelho deste domingo "nos ensina como é importante estar com Jesus, mesmo quando não é fácil entender tudo o que Ele diz e faz por nós". Segundo o Papa, "é estando com Ele que aprendemos a reconhecer, no seu rosto, a beleza luminosa do amor que se doa, mesmo quando carrega os sinais da cruz".

 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco conduziu a oração mariana do Angelus, neste domingo (05/03), lindo dia de sol na Cidade Eterna.

Os fiéis e peregrinos presentes na Praça São Pedro acompanharam as palavras do Pontífice, no II Domingo da Quaresma, em que "é proclamado o Evangelho da Transfiguração: Jesus leva consigo Pedro, Tiago e João ao monte e revela-se a eles em toda a sua beleza como Filho de Deus".

Francisco nos convidou a refletir um pouco sobre esta cena e a nos perguntar: "Em que consiste esta beleza? O que os discípulos veem? Um efeito espetacular? Não se sabe. Não é isso não. Veem a luz da santidade de Deus brilhar no rosto e nas vestes de Jesus, a imagem perfeita do Pai".

Revela-se a majestade de Deus, a beleza de Deus. Mas Deus é Amor, e por isso os discípulos viram com os próprios olhos a beleza e o esplendor do Amor divino encarnado em Cristo. Uma antecipação do paraíso. Eles tiveram uma antecipação do paraíso. Que surpresa para os discípulos! Eles tiveram a face do Amor diante de seus olhos por tanto tempo, e nunca tinham percebido como era lindo! Só agora eles percebem isso, e com tanta alegria, com imensa alegria.

"Jesus, na realidade, com esta experiência os está formando, os está preparando para um passo ainda mais importante", pois em breve "eles deverão saber reconhecer a mesma beleza Nele, quando subir na cruz e seu rosto for desfigurado".

"Pedro se esforça para entender: ele gostaria de parar o tempo, gostaria de colocar a cena em "pausa", ficar ali e prolongar essa experiência maravilhosa; mas Jesus não permite. De fato, a sua luz não pode ser reduzida a um "momento mágico"! Não é outra coisa. Assim, se tornaria uma coisa falsa e artificial que se dissolve na névoa dos sentimentos passageiros." "Ao contrário", disse ainda o Papa, "Cristo é a luz que orienta o caminho, como a coluna de fogo para o povo no deserto. A beleza de Jesus não aliena os discípulos da realidade da vida, mas lhes dá a força para seguir Ele até Jerusalém, até à cruz. A beleza de Cristo não é alienante, mas leva você adiante, não faz você se esconder. Vai adiante".

"Irmãos e irmãs, este Evangelho traça um caminho também para nós: ensina-nos como é importante estar com Jesus, mesmo quando não é fácil entender tudo o que Ele diz e faz por nós", disse ainda o Papa, acrescentando:

Com efeito, é estando com Ele que aprendemos a reconhecer, no seu rosto, a beleza luminosa do amor que se doa, mesmo quando carrega os sinais da cruz. É na sua escola que aprendemos a perceber a mesma beleza nos rostos das pessoas que caminham todos os dias ao nosso lado: familiares, amigos, colegas, aqueles que cuidam de nós das mais variadas formas. Quantos rostos luminosos, quantos sorrisos, quantas rugas, quantas lágrimas e cicatrizes falam de amor ao nosso redor! Aprendemos a reconhecê-los e a encher o coração.

"Depois partimos, para levar aos outros a luz que recebemos, com obras concretas de amor, mergulhando-nos com mais generosidade nas tarefas quotidianas, amando, servindo e perdoando com mais ímpeto e disponibilidade. A contemplação das maravilhas de Deus, a contemplação do rosto do Senhor deve nos levar adiante a serviço dos outros", ressaltou Francisco.

A seguir, o Pontífice nos convidou a fazer as seguintes perguntas: "Sabemos reconhecer a luz do amor de Deus em nossa vida? Reconhecemo-la com alegria e gratidão no rosto das pessoas que nos amam? Procuramos ao nosso redor os sinais dessa luz, que nos enche o coração e o abre ao amor e ao serviço? Ou preferimos os fogos de palha dos ídolos, que nos alienam e nos fecham em nós mesmos? A grande luz do Senhor e a falsa luz artificial dos ídolos. O que eu prefiro?"

"Que Maria, que guardou no coração a luz de seu Filho, mesmo escuridão do Calvário, nos acompanhe sempre no caminho do amor", concluiu o Papa. Fonte: https://www.vaticannews.va

 

Papa: Jesus nos ensina a defender a unidade com Deus e entre nós dos ataques do divisor

Apego, desconfiança e poder, três poderosos venenos que o diabo usou para tentar Jesus, assim como os usa para tentar também a nós, para separar do Pai e destruir a unidade entre nós. A Palavra de Deus, usada com fé, é o antídoto para vencer as tentações.

 

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

De quem e de que maneira o diabo separa, os três poderosos "venenos" que usa para destruir a unidade com Deus e entre nós e o que fazer para vencer suas tentações e insídias. Em síntese, foi o que o Papa propôs em sua reflexão neste I Domingo da Quaresma, antes da oração do Angelus.

O Evangelho de Mateus (Mt 4, 1-11) proposto pela liturgia do dia, apresenta Jesus no deserto sendo tentado pelo diabo. Francisco, dirigindo-se aos fiéis reunidos na Praça São Pedro, explica inicialmente que diabo significa "divisor", ele "sempre quer criar divisão". E é o que se propõe a fazer em relação a Jesus.

Mas - pergunta o Papa - de quem o diabo quer separar Jesus, e de que maneira?

"Depois de ter recebido o Batismo de João no Jordão - recorda Francisco -, Jesus foi chamado pelo Pai "meu Filho amado" e o Espírito Santo desceu sobre ele na forma de pomba":

O Evangelho apresenta-nos assim as três Pessoas divinas unidas no amor. E não só: o próprio Jesus dirá ter vindo ao mundo para nos tornar participantes da unidade que existe entre Ele e o Pai. O diabo, ao invés disso, faz o contrário: entra em cena para separar Jesus do Pai e distanciá-lo de sua missão de unidade por nós. Divide sempre

 

Apego, desconfiança, poder

Francisco então explica de que maneira o diabo tenta fazer isso:

O diabo quer se aproveitar da condição humana de Jesus, que está fraco porque jejuou quarenta dias e teve fome. O maligno então tenta incutir nele três poderosos "venenos", para paralisar sua missão de unidade. E esses venenos são o apego, a desconfiança e o poder.

-Sobre o veneno do apego às coisas, às necessidades, o Papa diz:

Com um raciocínio persuasivo, o diabo tenta sugestionar Jesus: “Tens fome, por que deves jejuar? Ouça a tua necessidade e satisfaça-a, tens o direito e também tens o poder: transforme as pedras em pão”.

Depois o segundo veneno, a desconfiança:

“Tens certeza – insinua o maligno – de que o Pai quer o teu bem? Coloque-o à prova, chantageie-o! Lança-te do ponto mais alto do templo e faz com que ele faça o que tu queres."

Por fim, o terceiro veneno, o poder:

Tu não precisas do teu Pai! Por que esperar por seus dons? Siga os critérios do mundo, pegue tudo para si e serás poderoso!”.

 

Separar-nos de Deus e nos dividir como irmãos

 "É terrível!", exclama Francisco, chamando a atenção para o fato de que o diabo usa em relação a nós esses mesmos três poderosos venenos para nos separar de Deus e nos dividir como irmãos:

O apego às coisas, a desconfiança e a sede de poder são três tentações difundidas e perigosas que o demônio usa para nos separar do Pai e não nos fazer sentir mais irmãos e irmãs entre nós, para levar-nos à solidão e ao desespero. Isso quer fazer o diabo, isso quer fazer a nós: levar-nos ao desespero!

 

Vencer as tentações com a Palavra de Deus

Mas o Santo Padre também recorda como Jesus vence as tentações: "Evitando discutir com o diabo e respondendo com a Palavra de Deus. Isto é importante: não se discute com o diabo, não se dialoga com o diabo. Jesus o confronta com a Palavra de Deus". E "cita três frases da Escritura que falam de liberdade das coisas, de confiança e de serviço a Deus, três frases opostas às tentações. Nunca dialoga com o diabo, não negocia com ele, mas refuta suas insinuações com as Palavras benéficas da Escritura":

É um convite também para nós: com o diabo não se discute! Não se negocia, não se dialoga; ele não é derrotado tratando com ele, é mais forte do que nós. O diabo o derrotamos opondo a ele com fé a Palavra divina. Deste modo Jesus nos ensina a defender a unidade com Deus e entre nós dos ataques do divisor.  A Palavra Divina che é a resposta de Jesus à tentação do diabo.

Como costuma fazer ao final de suas reflexões dominicais, Francisco propõe que nos perguntemos:

Que lugar a Palavra de Deus ocupa na minha vida? Recorro à Palavra de Deus em minhas lutas espirituais? Se tenho um vício ou tentação recorrente, por que, buscando ajuda, não procuro um versículo da Palavra de Deus que responda a esse vício? Depois, quando vem a tentação, eu o recito, o rezo confiando na graça de Cristo. Experimentemos fazer isso, nos ajudará nas tentações porque, entre as vozes que se agitam dentro de nós, ressoará aquela benéfica da Palavra de Deus.

Que Maria - foi seu pedido ao concluir - que acolheu a Palavra de Deus e com sua humildade derrotou a soberba do divisor, acompanhe-nos na luta espiritual da Quaresma. Fonte: https://www.vaticannews.va 

REFLEXÃO LEVE A CONSCIÊNCIA DE QUE PARTILHA DOS DONS DEVE SER ATITUDE CONSTANTE

O Papa Francisco enviou sua mensagem ao Brasil por ocasião da Campanha da Fraternidade 2023. Seu desejo expresso no texto é que a reflexão sobre o tema da fome, proposto pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) aos católicos brasileiros no Tempo da Quaresma, seja “uma atitude constante de todos nós, que nos compromete com Cristo presente em todo aquele que passa fome“. 

A intenção é que essa reflexão gere em todos, diz o Papa, “a consciência de que a partilha dos dons que o Senhor nos concede em sua bondade não pode restringir-se a um momento, a uma campanha, a algumas ações pontuais”.

Na mensagem, o Papa recorda o convite que Deus faz a trilhar um “caminho de verdadeira e sincera conversão” e que a proposta da Campanha da Fraternidade tem o intuito de animar o povo fiel “nesse itinerário ao encontro do Senhor”, com a a proposta de voltar o olhar para os mais necessitados, “afetados pelo flagelo da fome”.

“Ainda hoje, ‘milhões de pessoas sofrem e morrem de fome. Por outro lado, descartam-se toneladas de alimentos. Isto constitui um verdadeiro escândalo. A fome é criminosa, a alimentação é um direito inalienável”, disse o Papa, recordando um discurso aos Movimentos Populares, em 2014.

“A indicação dada por Jesus aos seus apóstolos “Dai-lhes vos mesmos de comer” (Mt 14, 16) é dirigida hoje a todos nós, seus discípulos, para que partilhemos – do muito ou do pouco que temos – com os nossos irmãos que nem sequer têm com que saciar a própria fome. Sabemos que indo ao encontro das necessidades daqueles que passam fome, estaremos saciando o próprio Senhor Jesus, que se identifica com os mais pobres e famintos”, afirma o Papa.

Reflexos da Campanha

Francisco desejou também que a conscientização pessoal ressoe “em nossas estruturas paroquiais e diocesanas, mas também encontre eco nos órgãos de governo a nível federal, estadual e municipal, bem como nas demais entidades da sociedade civil, a fim de que, trabalhando todos em conjunto, possam definitivamente extirpar das terras brasileiras o flagelo da fome”.

 

Confira o texto na íntegra: 

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA A CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2023

 

Queridos irmãos e irmãs do Brasil!

Todos os anos, no tempo da Quaresma, somos chamados por Deus a trilhar um caminho de verdadeira e sincera conversão, redirecionando toda a nossa vida para Ele, que “amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). Ao preparar-nos para a celebração dessa entrega amorosa na Páscoa, encontramos na oração, na esmola e no jejum, vividos de modo mais intenso durante este tempo, práticas penitenciais que nos ajudam a colaborar com a ação do Espirito Santo, autor da nossa santificação.

Com o intuito de animar o povo fiel nesse itinerário ao encontro do Senhor, a Campanha da Fraternidade deste ano propõe que voltemos o nosso olhar para os nossos irmãos mais necessitados, afetados pelo flagelo da fome. Por outro lado, descartam-se toneladas de alimentos. Isto constitui um verdadeiro escândalo. A fome é criminosa, a alimentação é um direito inalienável” (Discurso no encontro com os Movimentos Populares, 28/X/2014)

 A indicação dada por Jesus aos seus apóstolos “Dai-lhes vos mesmos de comer” (Mt 14, 16) é dirigida hoje a todos nós, seus discípulos, para que partilhemos – do muito ou do pouco que temos – com os nossos irmãos que nem sequer tem com que saciar a própria fome. Sabemos que indo ao encontro das necessidades daqueles que passam fome, estaremos saciando o próprio Senhor Jesus, que se identifica com os mais pobres e famintos: eu estava com fome, e me destes de comer… todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25, 35.40). 

É meu grande desejo que a reflexão sobre o tema da fome, proposta aos católicos brasileiros durante o tempo quaresmal que se aproxima, leve não somente a ações concretas – sem dúvida, necessárias – que venham de modo emergencial em auxilio dos irmãos mais necessitados, mas também gere em todos a consciência de que a partilha dos dons que o Senhor nos concede em sua bondade não pode restringir-se a um momento, a uma campanha, a algumas ações pontuais, mas deve ser uma atitude constante de todos nós, que nos compromete com Cristo presente em todo aquele que passa fome. 

Desejo igualmente que esta conscientização pessoal ressoe em nossas estruturas paroquiais e diocesanas, mas também encontre eco nos órgãos de governo a nível federal, estadual e municipal, bem como nas demais entidades da sociedade civil, a fim de que, trabalhando todos em conjunto, possam definitivamente extirpar das terras brasileiras o flagelo da fome. Lembremo-nos de que “aqueles que sofrem a miséria não são diferentes de nós. Têm a mesma carne e sangue que nós. Por isso, merecem que uma mão amiga os socorra e ajude, de modo que ninguém seja deixado para trás e, no nosso mundo, a fraternidade tenha direito de cidadania” (Mensagem para o Dia Mundial da Alimentação, 16/X/2018, n. 7) .

Confiando estes votos aos cuidados de Nossa Senhora Aparecida e como penhor de abundantes graças celestes que auxiliem as iniciativas nascidas a partir da Campanha da Fraternidade, concedo de bom grado a todos os filhos e filhas da querida nação brasileira, de modo especial aqueles que se empenham incansavelmente para que ninguém passe fome, a Benção Apostólica, pedindo que continuem a rezar por mim.

Roma, São João de Latrão, 21 de dezembro de 2022.

Franciscus

Fonte: https://www.cnbb.org.br

“Chegou a hora de pastores e leigos caminharem juntos em cada âmbito da vida da Igreja, em todas as partes do mundo”, disse o Papa em audiência no Vaticano na manhã deste sábado, 18 de fevereiro. Francisco reiterou o seu sonho de uma Igreja missionária, onde os leigos não sejam mais clerizalizados do que os próprios clérigos.

 

Vatican News

Os leigos não são “hóspedes” na Igreja, mas estão em sua casa: foi o que disse o Papa ao receber em audiência este sábado (18/02) os participantes do Congresso dos presidentes e referentes das Comissões para o Laicato das Conferências Episcopais. O Congresso é uma iniciativa do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, com a finalidade de refletir sobre a corresponsabilidade de pastores e fiéis a caminharem juntos na Igreja.

Em seu discurso, o Papa se deteve sobre a dimensão “sinodal” desta caminhada, pedindo a superação de modos de agir autônomos, já que a sinodalidade encontra sua fonte e fim último na missão: “pastores e fiéis leigos juntos. Não indivíduos isolados, mas um povo que evangeliza”.

"Esta é a intuição que devemos ter sempre: a Igreja é o santo povo de Deus. Na Lumen gentium 8, 12 é isto, não é populismo nem elitismo. Não. É o santo povo fiel de Deus. E isto não se aprende teoricamente, se entende vivendo."

 

O sonho de uma Igreja missionária

Francisco resgatou sua Exortação apostólica Evangelii gaudium, onde expressa o sonho de uma Igreja missionária, mas para isso a Igreja precisa ser sinodal.

"Sonho uma Igreja missionária. E me vem à mente uma figura do Apocalipse, quando Jesus diz: 'Estou à porta e bato'. É verdade, era para entrar: 'Se alguém me abrir, entrarei e comerei com ele'. Mas hoje o drama da Igreja é que Jesus continua a bater à porta, mas a partir de dentro, para que o deixem sair! Muitas vezes a Igreja acaba prisioneira que não deixa o Senhor sair, o tem como propriedade, e o Senhor veio para a missão e nos quer missionários."

Para o Pontífice, este horizonte oferece a justa chave de leitura para o tema da corresponsabilidade, da valorização dos leigos. Isto não depende de uma alguma novidade teológica nem se trata de “reivindicações" de categoria, mas se baseia numa correta visão da Igreja como Povo de Deus, dos quais os leigos fazem plenamente parte com os ministros ordenados. "Eles não são donos, são os servidores".

Francisco afirmou que é preciso recuperar uma “eclesiologia integral”, onde deve ser acentuada a unidade, não a separação. O leigo não é um “não clérigo” ou um “não religioso”, mas batizado como membro do Povo santo de Deus. No Novo Testamento, disse o Papa, não aparece a palavra leigo, mas se fala de fiéis, discípulos, irmãos – termos aplicados a todos: leigos e ministros ordenados. Portanto, o único elemento fundamental é a pertença a Cristo. Os mártires, por exemplo, não se declaram bispos ou leigos, mas cristãos.

“Também hoje, num mundo que se seculariza sempre mais, o que realmente nos distingue como Povo de Deus é a fé em Cristo, não o estado de vida. Somos batizados cristãos, discípulos de Cristo. Todo o resto é secundário." Sacerdote, bispo ou cardeal que seja.

 

Leigos não são "hóspedes" em sua própria casa

Certamente os leigos são chamados a viver sua missão em ambientes seculares, mas isso não exclui que tenham capacidades, competências para contribuir para a vida da Igreja.

Neste processo, a formação dos leigos é indispensável para viver a corresponsabilidade. Formação não só acadêmica, mas prática, pois o apostolado laical é sobretudo testemunho. "Também neste ponto gostaria de destacar que a formação deve ser orientada para a missão, não só para as teorias, porque isso acaba nas ideologias. É terrível, é uma peste: a ideologia na Igreja é uma peste." Por sua vez, os pastores também devem ser formados, desde o seminário, a uma colaboração cotidiana e ordinária com os leigos.

Esta corresponsabilidade permitirá superar dicotomias, medos e desconfianças recíprocas.

“Chegou a hora de pastores e leigos caminharem juntos em cada âmbito da vida da Igreja, em todas as partes do mundo. Os fiéis leigos não são 'hóspedes' na Igreja, estão em sua casa, por isso são chamados a cuidar da própria casa.”

Francisco pediu uma maior valorização dos leigos, sobretudo das mulheres, na vida das paróquias e dioceses. E ofereceu exemplos de colaboração com os sacerdotes: na formação de crianças e jovens, na preparação ao matrimônio, no acompanhamento da vida familiar, na organização de iniciativas, trabalhando nos escritórios das dioceses e contribuindo inclusive na formação de seminaristas e religiosos, recordando que um leigo também pode ser diretor espiritual.

 

Clericalismo, uma peste na Igreja

“Poderemos dizer: leigos e pastores juntos na Igreja, leigos e pastores juntos no mundo”, concluiu o Papa, citando o livro Meditations sur l’Eglise, em que o cardeal De Lubac alerta para o clericalismo.

"O clericalismo deve ser expulso. Um sacerdote, um bispo que cai nesta atitude faz muito mal à Igreja. Mas é uma doença contagiosa e pior que um padre ou bispo clerical são os leigos clericalizados: por favor, são uma peste na Igreja. Leigo é leigo."

Francisco finalizou seu discurso recomendando que todos tenham no coração e na mente esta bela visão da Igreja: “Uma Igreja propensa à missão e onde se unificam as forças e se caminha juntos para evangelizar”. Fonte: https://www.vaticannews.va

"Que seja o momento propício para ti, que, neste país, te dizes cristão e, todavia, praticas a violência; a ti diz o Senhor: «Depõe as armas, abraça a misericórdia»", disse Francisco na homilia da missa celebrada no Aeroporto de N’dolo, em Kinshasa, na República Democrática do Congo.

 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco celebrou a missa pela paz e a justiça no Aeroporto de N’dolo, em Kinshasa, na República Democrática do Congo, na manhã desta quarta-feira (1°/02), no âmbito de sua 40ª Viagem Apostólica Internacional. Participaram da celebração eucarística cerca de um milhão de fiéis.

Francisco proferiu a palavra Esengo que significa alegria, manifestando a imensa alegria de ver e encontrar os congoleses. "Desejei muito este momento. Obrigado por terdes vindo aqui", disse ele.

"O Evangelho acaba de nos dizer que também a alegria dos discípulos era grande na tarde de Páscoa, e que esta alegria brotou ao «verem o Senhor». Naquele clima de alegria e maravilha, o Ressuscitado fala aos seus e lhes diz: «A paz esteja convosco!».

Segundo o Papa, "trata-se de uma saudação, mas é mais do que uma saudação: é um dom. Porque a paz, aquela paz anunciada pelos anjos na noite de Belém, aquela paz que Jesus prometeu deixar aos seus, é agora, pela primeira vez, entregue solenemente aos discípulos. Jesus proclama a paz enquanto no coração dos discípulos existem os escombros, anuncia a vida enquanto eles sentem dentro a morte. Assim faz o Senhor: surpreende-nos, estende-nos a mão quando estamos prestes a afundar, levanta-nos quando tocamos o fundo".

"Irmãos, irmãs, com Jesus o mal nunca triunfa, nunca tem a última palavra. «Com efeito, Ele é a nossa paz», e a sua paz vence. Por isso nós que pertencemos a Jesus, não podemos deixar prevalecer em nós a tristeza, não podemos permitir que se insinuem resignação e fatalismo", disse ainda o Papa, acrescentando.

Se ao nosso redor se respira este clima, que não seja por nossa causa: num mundo desanimado com a violência e a guerra, os cristãos fazem como Jesus. Ele, como que insistindo, repetiu para os discípulos: A paz esteja convosco! E nós somos chamados a assumir e proclamar ao mundo este inesperado e profético anúncio de paz.

A seguir, Francisco indicou "três nascentes de paz, três fontes para continuar a alimentá-la: o perdão, a comunidade e a missão".

Primeira fonte: o perdão. "O perdão nasce das feridas. Nasce quando as feridas sofridas não deixam cicatrizes de ódio, mas tornam-se o lugar onde se dá espaço aos outros acolhendo as suas debilidades. Então as fragilidades tornam-se oportunidades, e o perdão torna-se o caminho da paz. Não se trata de esquecer tudo como se nada fosse, mas de abrir aos outros o próprio coração com amor. Irmãos, irmãs, quando a culpa e a tristeza nos oprimem, quando as coisas não correm bem, sabemos para onde olhar: para as chagas de Jesus, pronto a perdoar-nos com o seu amor ferido e infinito".

Ele conhece as tuas feridas, conhece as feridas do teu país, do teu povo, da tua terra! São feridas que ardem, continuamente infetadas pelo ódio e a violência, enquanto o remédio da justiça e o bálsamo da esperança parecem nunca mais chegar. É isto que Cristo deseja: ungir-nos com o seu perdão, para nos dar a paz e a coragem de por nossa vez perdoar, a coragem de realizar uma grande amnistia do coração. Faz-nos tão bem limpar o coração da ira, dos remorsos, de todo o rancor e ódio! Que seja o momento propício para ti, que, neste país, te dizes cristão e, todavia, praticas a violência; a ti diz o Senhor: «Depõe as armas, abraça a misericórdia».

A seguir, o Papa falou sobre a segunda fonte da paz: a comunidade. "Jesus ressuscitado confia a sua paz à primeira comunidade. Não há cristianismo sem comunidade, tal como não há paz sem fraternidade", sublinhou. "E qual é o caminho para não cair nas ciladas do poder e do dinheiro, para não ceder às divisões, às lisonjas do carreirismo que corroem a comunidade, às falsas ilusões do prazer e da feitiçaria que nos encerram em nós mesmos?" Perguntou Francisco. A resposta nos é dada através do profeta Isaías, que diz: «Estou com os oprimidos e humilhados, para reanimar o espírito dos humilhados e reanimar o coração dos oprimidos».

O caminho é partilhar com os pobres: tal é o melhor antídoto contra a tentação de nos dividir e mundanizar. Ter a coragem de olhar para os pobres e escutá-los, porque são membros da nossa comunidade, e não estranhos que devem ser abolidos da vista e da consciência. Abrir o coração aos outros, em vez de o fechar nos próprios problemas ou nas próprias vaidades. Recomecemos dos pobres e descobriremos que todos compartilhamos a pobreza interior; que todos precisamos do Espírito de Deus para nos libertar do espírito do mundo; que a humildade é a grandeza do cristão, e a fraternidade a sua verdadeira riqueza. Acreditemos na comunidade e, com a ajuda de Deus, edifiquemos uma Igreja vazia de espírito mundano e cheia de Espírito Santo, livre de riquezas para nós mesmos e repleta de amor fraterno!

Por fim, a terceira fonte da paz: a missão. Jesus diz aos discípulos: «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». "Numa palavra, enviou-O para todos: não só para os justos, mas para todos".

Irmãos, irmãs, somos chamados a ser missionários de paz, e isto nos encherá de paz. Trata-se duma opção: é dar espaço a todos no coração, é acreditar que as diferenças étnicas, regionais, sociais e religiosas vêm em segundo lugar e não são obstáculo; que os outros são irmãos e irmãs, membros da mesma comunidade humana; que cada um é destinatário da paz trazida ao mundo por Jesus. É acreditar que nós, cristãos, somos chamados a colaborar com todos, a romper a espiral da violência, a desmantelar os enredos do ódio.

"Enviados por Cristo, os cristãos são chamados, por definição, a ser consciência de paz no mundo: não só consciências críticas, mas sobretudo testemunhas de amor; não pretendentes dos próprios direitos, mas dos do Evangelho, que são a fraternidade, o amor e o perdão; não indivíduos à procura dos próprios interesses, mas missionários daquele amor louco que Deus tem por cada um dos seres humanos", disse ainda o Papa.

"A paz esteja convosco: diz Jesus hoje a cada família, comunidade, etnia, bairro e cidade deste grande país. A paz esteja convosco: deixemos que ressoem no coração, em silêncio, estas palavras de nosso Senhor. Ouçamo-las dirigidas a nós e escolhamos ser testemunhas de perdão, protagonistas na comunidade, pessoas em missão de paz no mundo", concluiu Francisco. Fonte: https://www.cnbb.org.br

Ao falar sobre a primeira das Bem-aventuranças “os pobres em espírito”, Francisco recordou que “eles conservam o que recebem; por isso, desejam que nenhum dom seja desperdiçado”, apontando três desafios contra a mentalidade do desperdício

 

Jane Nogara - Vatican News

Neste IV Domingo do Tempo Comum, (29/01) o Papa Francisco na oração do Angelus falou sobre as Bem-aventuranças segundo o Evangelho de Mateus. "Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus" (v. 3). Francisco quis esclarecer “quem são os pobres em espírito” explicando que são aqueles que sabem que não são suficientes por si mesmos, que não são auto-suficientes e vivem como "mendigos de Deus": “sentem necessidade de Deus e reconhecem que o bem vem d’Ele, como um dom, como uma graça”. E depois de observar que os pobres em espírito conservam o que recebem; afirma "por isso, desejam que nenhum dom seja desperdiçado. Disse que hoje se deteria neste aspecto típico dos pobres em espírito: não desperdiçar.

 

Contra a mentalidade do desperdício

E para isso o Papa propôs três desafios contra a mentalidade do desperdício. Primeiro desafio: não desperdiçar o dom que somos. “Cada um de nós é um bem, independentemente dos dotes que temos”, afirmou. “Cada mulher, cada homem é rico não apenas de talentos, mas de dignidade, é amado por Deus, é valioso, é precioso”.

“Jesus nos lembra que somos bem-aventurados não pelo que temos, mas pelo que somos. A verdadeira pobreza, portanto, é quando uma pessoa se abandona e se deteriora, desperdiçando a si mesma. Lutemos, com a ajuda de Deus, contra a tentação de nos considerarmos inadequados, errados, e de sentir pena de nós mesmos”

 

Não desperdiçar os dons que temos

Depois, o segundo desafio: não desperdiçar os dons que temos. Aqui o Papa refere-se ao desperdício que nos é dado pela criação, os alimentos que são desperdiçados enquanto tanta gente morre de fome: 

“Os recursos da criação não podem ser usados dessa maneira; os bens devem ser conservados e compartilhados, para que não falte a ninguém o que é necessário. Não desperdicemos o que temos, mas difundamos uma ecologia da justiça e da caridade!”

 

Não descartar as pessoas

Enquanto que o terceiro desafio: não descartar as pessoas, Francisco fala sobre a cultura do descarte explicando que se joga fora egoisticamente quando alguém não nos interessa mais.

“Mas as pessoas não podem ser jogadas fora, nunca! Cada um é um dom sagrado e único, em todas as idades e em todas as condições. Respeitemos e promovamos sempre a vida!”

Concluindo o Santo Padre propôs nos questionarmos sobre estes três desafios, “Antes de tudo, como vivo a pobreza de espírito? Será que dou lugar a Deus, será que acredito que Ele seja o meu bem, minha verdadeira e grande riqueza?”. E depois: “tenho o cuidado de não desperdiçar, sou responsável pelo uso das coisas, dos bens? E eu estou disposto a compartilhá-los com outros?” Por fim o Papa recordou que devemos nos perguntar: “considero os mais frágeis como dons preciosos, que Deus me pede para cuidar? Será que me recordo dos pobres, daqueles que não têm o necessário?”. Fonte: https://www.vaticannews.va

Francisco esclareceu declarações que reforçaram posição doutrinária da igreja

 

SÃO PAULO

papa Francisco tentou atenuar comentários recentes que reforçaram a posição doutrinária sobre homossexualidade ser considerada um pecado. O pontífice disse que se referia ao ensino moral católico oficial de que qualquer ato sexual fora do casamento é considerado sacrilégio.

Em nota divulgada nesta sexta (27), Francisco lembrou que mesmo esse ensino está sujeito a circunstâncias que podem eliminar o pecado. A manifestação ocorreu após o pontífice ser criticado por grupos que defendem os direitos LGBTQIA+ devido à declaração anterior.

Em entrevista à agência Associated Press publicada na quarta (25), o papa disse que a homossexualidade "não é crime, mas um pecado". "Tudo bem, mas primeiro vamos distinguir um pecado de um crime. Também é pecado não ter caridade com o próximo."

O Catecismo da Igreja Católica se refere à homossexualidade como "atos de grave depravação", descritos como "intrinsecamente desordenados". A igreja defende, porém, que homossexuais devem ser "aceitos com respeito, compaixão e sensibilidade" e diz que "todo sinal de discriminação injusta deve ser evitado".

Diante da repercussão da entrevista, o padre americano James Martin, que apoia a aceitação de comportamento homossexual pela Igreja, pediu nesta sexta (27) esclarecimentos a Francisco.

Em 2013, seu primeiro ano à frente da Igreja Católica, Francisco se declarou inapto a rejeitar homossexuais que buscassem o conforto de Deus. "Quem sou eu para julgar?", disse à época. A fala encheu católicos LGBTQIA+ com a esperança de serem acolhidos sem ressalvas no seio da instituição.

Oito anos depois, ele deu sinal verde para o Vaticano divulgar a diretriz para que clérigos não abençoem uniões entre pessoas do mesmo sexo. "Deus não pode abençoar o pecado", diz o documento da Congregação para a Doutrina da Fé, que formula normas para os fiéis da maior vertente cristã do mundo.

Na entrevista, Francisco reconheceu que lideranças católicas em algumas partes do mundo ainda apoiam leis que criminalizam a homossexualidade ou discriminam a comunidade LGBTQIA+. "Esses bispos precisam ter um processo de conversão", afirmou o pontífice, acrescentando que tais lideranças devem agir com ternura —"por favor, como Deus tem por cada um de nós". Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

 

Em entrevista ao diário espanhol ABC, Francisco revela que, no início de seu pontificado, entregou ao então secretário de Estado Bertone uma carta na qual declara de renunciar no caso de impedimentos graves e permanentes ligados à saúde que o impossibilitassem de exercer seu papel de bispo de Roma e pastor da Igreja universal. Paulo VI tinha feito o mesmo.

 

Salvatore Cernuzio - Vatican News

Quase dez anos atrás, no início de seu pontificado em 2013 (era então secretário de Estado o cardeal Tarcisio Bertone), o Papa Francisco entregou uma carta de renúncia "em caso de impedimento por razões médicas". A revelar esta decisão, que Paulo VI já havia tomado, é o próprio Papa Francisco na ampla entrevista concedida ao jornal espanhol ABC, que neste sábado divulgou uma breve antecipação. O Papa, em conversa com o editor Julián Quirós e o correspondente no Vaticano, Javier Martínez-Brocal, aborda numerosos tópicos sobre os acontecimentos atuais na Igreja e no mundo. Estes incluem a guerra na Ucrânia, da qual o Pontífice diz não ver "um fim a curto prazo porque é uma guerra mundial", depois os casos de abusos, o papel das mulheres na Cúria Romana, Lula e Catalunha, a renúncia de Bento XVI em 2013 e sua eventual renúncia.

 

A carta de renúncia 

Sobre este assunto, o Papa revela a existência desta carta. "Eu já assinei a minha renúncia. Foi quando Tarcisio Bertone era secretário de Estado. Assinei a renúncia e lhe disse: "em caso de impedimento médico ou o que quer que seja, aqui está a minha renúncia". O senhor a tem". Não sei a quem Bertone deu, mas eu dei a ele quando ele era secretário de Estado". "O senhor quer que isto seja conhecido?" perguntam os dois entrevistadores. "É por isso que estou lhesdizendo", responde Francisco, lembrando que Paulo VI também deixou sua demissão por escrito no caso de um impedimento e que provavelmente Pio XII também o tenha feito. "Esta é a primeira vez que digo isto", acrescenta o Pontífice. "Agora talvez alguém vai e pergunte a Bertone: 'Dê-me essa carta'.... (Risos). Certamente ele o terá dado ao novo secretário de Estado. Eu entreguei a ele enquanto secretário de Estado”.

 

A guerra na Ucrânia: uma enorme crueldade

Naturalmente, à entrevista não falta uma reflexão sobre o conflito em curso na Ucrânia, contra o qual o Papa já se pronunciou mais de cem vezes. Também na entrevista ao jornal ABC ele afirma sem meios termos: "o que está acontecendo na Ucrânia é aterrorizante. Há uma enorme crueldade. É muito sério...". Para Francisco não se vê "um fim a curto prazo". "Trata-se”, diz ele, "de uma guerra mundial. Não nos esqueçamos disso. Já há várias mãos envolvidas na guerra. É global. Penso que uma guerra é travada quando um império começa a se enfraquecer, e quando há armas para usar, vender e testar. Parece-me que há muitos interesses envolvidos". O Pontífice é lembrado que já falou mais de cem vezes contra a guerra: "Eu faço o que posso. Eles não ouvem", responde. E acrescenta: "O que está acontecendo na Ucrânia é aterrorizante". Há uma enorme crueldade. É muito sério. E isto é o que eu denuncio continuamente". O Papa confirma que recebe e escuta a todos: "agora Volodymir Zelensky me enviou um de seus conselheiros religiosos pela terceira vez. Eu estou em contato, eu recebo, eu ajudo...".

 

A diplomacia do Vaticano: sua arma é o diálogo

O trabalho do Papa se move em sincronia com o trabalho diplomático da Santa Sé. A este respeito, os entrevistadores perguntam por que o Vaticano é tão cauteloso ao falar contra regimes totalitários como o de Ortega na Nicarágua ou o de Maduro na Venezuela. "A Santa Sé sempre procura salvar os povos. Sua arma é o diálogo e a diplomacia", responde o Papa Francisco. "A Santa Sé nunca sai por conta própria. É expulsa. Ela sempre procura salvar as relações diplomáticas e salvar o que pode ser salvo com paciência e diálogo".

 

Abusos: "Um único caso é monstruoso"

Nenhuma diplomacia, porém, por parte do Papa para estigmatizar casos de abusos do clero: "é muito doloroso, muito doloroso", diz ele em referência aos encontros com as vítimas que pontilharam seu pontificado. "Estas são pessoas que foram destruídas por aqueles que deveriam tê-las ajudado a amadurecer e crescer. Isto é muito difícil. Mesmo que fosse apenas um caso, é monstruoso que a pessoa que deveria levá-la a Deus a destrua ao longo do caminho. E nenhuma negociação é possível sobre isso”.

 

O papel das mulheres

O foco da entrevista com o jornal ABC muda para temas de natureza mais "eclesial", começando com um possível papel de ápice para uma mulher na Cúria Romana. "Haverá", assegura Francisco. "Tenho em mente uma para um Dicastério que ficará vago dentro de dois anos. Não há obstáculo para uma mulher liderar um Dicastério onde um leigo possa ser prefeito". "Se for um Dicastério de natureza sacramental, deve ser presidido por um sacerdote ou um bispo", esclarece o Papa.

 

Os futuros Conclaves

Ele então amortece as polêmicas de que os trabalhos dos futuros Conclaves poderiam ser dificultados pela falta de conhecimento entre os cardeais que ele criou, que vêm todos de lugares diferentes e distantes. É verdade, poderia haver problemas "do ponto de vista humano", mas "é o Espírito Santo que trabalha no Conclave", explica o Papa. E ele lembra a proposta de um cardeal alemão nos encontros de agosto sobre a Praedicate Evangelium "que na eleição do novo Papa só participem os cardeais que vivem em Roma". "É esta a universalidade da Igreja?", pergunta-se o bispo de Roma.

 

Bento XVI: um santo, um grande homem

Ele então volta ao assunto de sua relação com seu predecessor Bento XVI, "um santo" e "um homem de alta vida espiritual", como o Papa reinante o descreve, revelando que ele o visita com frequência e sempre se sente "edificado" por seu olhar transparente. "Ele tem um bom senso de humor, está lúcido, muito vivo, fala suavemente, mas segue a conversa. Admiro sua lucidez. Ele é um grande homem". O Papa Francisco, por outro lado, diz não ter intenção de definir o status jurídico do Papa emérito: “tenho a sensação de que o Espírito Santo não tem interesse em que eu me ocupe dessas coisas”.

 

A Igreja na Alemanha

Sobre a Igreja na Alemanha, lidando com o processo sinodal que tinha despertado e ainda desperta várias reações, inclusive negativas, Francisco recorda a carta "muito clara" que escreveu em junho de 2019: "Eu a escrevi sozinho. Levei um mês. Era uma carta como que para dizer: "Irmãos, reflitam sobre isto".

 

A questão da Catalunha

En passant Papa Bergoglio explica na entrevista que uma viagem a Marselha para o Encontro Mediterrâneo está nos planos, especificando que não é, no entanto, uma viagem à França e que a prioridadedas suas viagens apostólicas é visitar os países menores da Europa. Perguntado sobre a questão da Catalunha, o Papa disse que "cada país deve encontrar seu próprio caminho histórico para resolver estes problemas". Não há uma solução única". Ele então cita o caso da Macedônia do Norte ou do Alto Adige, na Itália, com seu próprio status. Quanto ao papel que a Igreja deve manter neste assunto, enfatiza: "o que a Igreja não pode fazer é fazer propaganda para um ou outro lado, mas sim acompanhar o povo para que ele possa encontrar uma solução definitiva". Na mesma linha, o Papa reitera isso: "quando um sacerdote se intromete na política, não é bom.... O padre é um pastor. Ele deve ajudar as pessoas a fazerem boas escolhas. Acompanhá-las. Mas não ser um político. Se você quer fazer política, deixe o sacerdócio e se torne um político".

 

Reler a história com a hermenêutica do tempo

A uma pergunta sobre a releitura negativa do descobrimento da América, Francisco nos convida a interpretar um acontecimento histórico com a hermenêutica do tempo e não do momento atual. "É óbvio que pessoas foram mortas lá", diz ele, "é óbvio que houve exploração, mas os índios também se mataram uns aos outros". A atmosfera de guerra não foi exportada pelos espanhóis. E a conquista pertencia a todos. Faço a distinção entre colonização e conquista. Eu não gosto de dizer que a Espanha simplesmente "conquistou". É discutível, quanto quiserem, mas colonizou". 

 

O "caso Lula

Outro caso "paradigmático" que chamou a atenção do Papa é o do recém-eleito presidente do Brasil, Inácio Lula. Paradigmático porque o julgamento do líder político - condenado por corrupção passiva, durante 580 dias na prisão, impedido de concorrer nas eleições presidenciais de 2018, até 2021, quando a Suprema Corte anulou todas as sentenças - começou com "fake news". Estas, diz o Papa, "criaram uma atmosfera que favoreceram seu julgamento.... O problema das notícias falsas sobre líderes políticos e sociais é muito sério. Elas podem destruir uma pessoa". No caso específico de Lula, segundo o Papa Francisco, não foi "um julgamento à altura". "Cuidado", adverte, "com aqueles que criam a atmosfera para um julgamento, seja ele qual for. Eles fazem isso através da mídia de forma a influenciar aqueles que devem julgar e decidir. Um julgamento deve ser o mais limpo possível, com tribunais de primeira classe que não tenham outro interesse que manter limpa a justiça".

 

O Motu Proprio sobre o Opus Dei

Finalmente, uma menção ao Motu Proprio Ad Charisma tuendum do mês de julho passado sobre o Opus Dei. "Alguns", comenta o Papa Francisco, "disseram: 'Finalmente o Papa bateu no Opus Dei...! Eu não bati em ninguém. E outros, em vez disso, disseram: "Ah, o Papa está nos invadindo! Nada disso. A medida é uma recolocação que teve que ser resolvida. Não é correto exagerar, nem os fazer vítimas, nem os culpar por terem recebido uma punição. Por favor. Sou um grande amigo do Opus Dei, amo muito o povo do Opus Dei e eles trabalham bem na Igreja. O bem que eles fazem é muito grande". Fonte: https://www.vaticannews.va

“O Advento é tempo de inversão de perspectivas, no qual nos deixarmos maravilhar pela grandeza da misericórdia de Deus”, são palavras do Papa Francisco no Angelus deste domingo, 11 de dezembro na Praça São Pedro

 

Jane Nogara - Vatican News

No Angelus deste 3° Domingo do Advento (11/12), o Papa falou sobre as crises e dúvidas da nossa fé. Falando sobre o Evangelho de Mateus, recordou a “crise de João Batista” que enviou seus discípulos para perguntarem a Jesus: "És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?”. Francisco ressaltou que faz bem a todos nós determo-nos sobre esta crise de João Batista, porque pode dizer algo importante.

 

O túnel da dúvida

“Ficamos surpresos que isso aconteça justamente com João” disse o Pontífice, “que batizou Jesus no Jordão e o indicou a seus discípulos como o Cordeiro de Deus (cf. Jo 1,29). Mas isto significa que mesmo o maior crente passa pelo túnel da dúvida.

“E isso não é algo ruim; pelo contrário, às vezes é essencial para o crescimento espiritual: nos ajuda a entender que Deus é sempre maior do que imaginamos”

 

Tempo de inversão de perspectivas

Portanto disse ainda o Papa, “nunca devemos deixar de procurá-Lo e de nos convertermos à sua verdadeira face”. Explicando que também nós podemos nos encontrar na sua situação, em uma prisão interior, incapazes de reconhecer a novidade do Senhor, a quem talvez tenhamos em cativeiro na presunção de que já sabemos muito sobre Ele. Francisco recorda que muitas vezes “temos as nossas ideias, os nossos preconceitos, e rotulamos os outros - especialmente os que sentimos que são diferentes de nós – com rígidas etiquetas”. Exortando em seguida:

“O Advento é tempo de inversão de perspectivas, no qual nos deixarmos maravilhar pela grandeza da misericórdia de Deus”

“Um tempo em que”, concluiu o Papa, “preparando o presépio para o Menino Jesus, aprendemos de novo quem é o nosso Senhor; um tempo de sairmos de certos esquemas e preconceitos para com Deus e os irmãos; um tempo em que, em vez de pensarmos em presentes para nós, possamos doar palavras e gestos de consolo aos que estão feridos, como Jesus fez com os cegos, os surdos e os coxos”. Fonte: https://www.vaticannews.va

 

Na Solenidade da Imaculada Conceição o Papa recordou a Anunciação quando o Anjo chamou Maria de “cheia de graça”, que é o nome que Deus lhe dá e que celebramos hoje” disse Francisco no Angelus desta quinta-feira, 8 de dezembro

 

Jane Nogara - Vatican News

No Angelus desta Solenidade da Imaculada Conceição, o Papa Francisco falou sobre a Anunciação a Maria do Evangelho de Lucas. Logo no início nos recordou que o Anjo a chama de “cheia de graça”, um nome que Maria desconhecia até então. 

“Cheia de graça, e portanto vazia de pecado, é o nome que Deus lhe dá e que festejamos hoje”

 

Reconhecer nossa graça original

Pensemos na surpresa de Maria, que só então descobriu “sua identidade mais verdadeira”, disse o Papa. “Algo semelhante também pode acontecer conosco. Em que sentido?” e disse:

“No sentido de que nós pecadores também recebemos um dom inicial que encheu nossas vidas, um bem maior do que qualquer coisa, uma graça original, da qual, no entanto, muitas vezes não temos conhecimento”

 

Nossa beleza original

Neste ponto nos perguntamos do que se trata. “Trata-se”, explicou o Papa, “do que recebemos no dia do nosso Batismo, por isso nos faz bem recordarmos e também festejarmos! Pois no Batismo, Deus desceu em nossas vidas, nos tornamos seus filhos amados para sempre. Esta é nossa beleza original, da qual nos alegrarmos!”. Francisco nos recordou que hoje, Maria, surpreendida pela graça que a tornou bela desde o primeiro momento de sua vida, nos leva a maravilhar-nos com nossa beleza. “Podemos apreendê-lo através de uma imagem: a do manto branco do Batismo”, porque descobrimos que, “sob o mal com o qual nos manchamos ao longo dos anos, há em nós um bem maior”.

 

Nossa graça original

Ponderando em seguida: "Quando as coisas não vão bem e ficamos desanimados, quando ficamos abatidos e corremos o risco de nos sentirmos inúteis ou errados, pensemos nisto, na graça original". 

 

O custo de preservar nossa beleza

“Hoje, a Palavra de Deus nos ensina outra coisa importante: que preservar nossa beleza requer um custo, uma luta. De fato”, afirmou ainda:

“O Evangelho nos mostra a coragem de Maria, que disse ‘sim’ a Deus, que escolheu o risco de Deus”

Acrescentando, “também sabemos por experiência: é difícil escolher o bem, guardar o bem que está dentro de nós. Pensemos em quantas vezes o desperdiçamos cedendo às seduções do mal, sendo espertos pelos nossos próprios interesses ou fazendo algo que poluiria nossos corações”.

 

O consolo

“Mas diante de tudo isso” nos consola o Santo Padre, “hoje temos boas notícias: Maria, a única criatura humana sem pecado na história, está conosco na luta, ela é nossa irmã e, sobretudo, nossa Mãe. E nós, que lutamos para escolher o bem, podemos confiar-nos a ela. Confiando-nos, consagrando-nos a Nossa Senhora, nós lhe dizemos: ‘Segura minha mão, guia-me: contigo terei mais força na luta contra o mal, contigo redescobrirei minha beleza original’”. Francisco pede ainda outra oração para hoje, confiando-nos a Maria, todos os dias: "Maria, confio a ti a minha vida, a minha família, o meu trabalho, o meu coração e as minhas lutas. Eu me consagro a ti". Fonte: https://www.vaticannews.va

 

“No meio de tantas nuvens escuras és um sinal de esperança e de consolação”. Em sua oração, feita aos pés do monumento dedicado a Nossa Senhora da Imaculada Conceição, o Papa citou a guerra na Ucrânia suplicando à Virgem Imaculada, “hoje gostaria de lhe trazer o agradecimento pela paz que há muito tempo pedimos ao Senhor. Ao invés, ainda devo lhe apresentar a súplica”

 

Jane Nogara - Vatican News

O Papa Francisco deixou o Vaticano na tarde desta quinta-feira (08/12), para fazer a tradicional homenagem floreal a Nossa Senhora, aos pés do monumento a ela dedicado, situado na Praça Espanha, no centro de Roma. Antes, porém, Francisco foi à Basílica de Santa Maria Maior para um momento de veneração diante do ícone de Nossa Senhora Salus Populi Romani.

A Praça Espanha estava repleta de fiéis romanos e turistas. O Papa foi recebido pelas autoridades municipais e pelo cardeal vigário de Roma. Em sua oração, feita aos pés do monumento dedicado a Nossa Senhora, o Papa recordou que depois de dois anos retorna à Praça para prestar homenagem junto com o povo desta Igreja e desta Cidade. “Trazendo os agradecimentos e súplicas de todos os seus filhos, de perto e de longe”.

Trazendo agradecimentos e súplicas

“Antes de mais nada, trago-lhe o amor filial”, continuou Francisco na sua oração, “de incontáveis homens e mulheres, não apenas cristãos que têm a maior gratidão por ti, por tua beleza, toda a graça e humildade:

“Porque no meio de tantas nuvens escuras és um sinal de esperança e de consolação”

Francisco continuou sua oração citando que trazia a Nossa Senhora também o sorriso das crianças, que começam a saber que têm uma Mãe no Céu; a gratidão dos idosos; as preocupações das famílias; os sonhos e as ânsias dos jovens. Pedindo a Maria especialmente “pelos que foram mais afetados pela pandemia, para que lentamente recomecem a agitar e abrir suas asas e que recuperem o gosto de voar alto”.

 

Pela paz na Ucrânia

Na parte final de sua oração o Papa recordou com emoção, chegando às lágrimas, a guerra na Ucrânia:

"Virgem Imaculada, hoje gostaria
de lhe trazer o agradecimento do povo ucraniano
pela paz que há muito tempo pedimos ao Senhor.
Ao invés, ainda devo lhe apresentar a súplica
das crianças, dos idosos
dos pais e das mães, dos jovens
daquela terra martirizada.
Mas na realidade todos nós sabemos
que estás com eles e com todos os que sofrem,
assim como estiveste ao lado da cruz do teu Filho.

Obrigado, nossa Mãe!
Olhando para ti, que és sem pecado
podemos continuar a acreditar e esperar
que o amor vença o ódio
que a verdade vença a falsidade,
que o perdão vença a ofensa,
e que a paz prevaleça sobre a guerra. Assim seja!
".

Fonte: https://www.vaticannews.va

"Com Jesus, sempre existe a possibilidade de recomeçar. Sempre! Ele espera por nós e nunca se cansa de nós. Sintamos dirigido a nós o grito de amor de João para voltar a Deus e não deixemos passar este Advento como os dias do calendário, porque é um tempo de graça para nós, agora, aqui!"

 

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

Advento é um tempo de graça, de tirar nossas máscaras, de ouvir o grito de João para voltar a Deus e começar uma nova vida. E para tal, devemos seguir o caminho da humildade.

Em síntese, foi o que disse o Papa Francisco antes de rezar o Angelus neste II Domingo do Advento, com os milhares de fiéis e turistas provenientes de várias partes do mundo reunidos na Praça São Pedro, agora adornada com os dois símbolos do Natal por excelência: o Presépio e a árvore, doados respectivamente pela cidade de Sutrio, na província de Udine e pelo povoado de Rosello, de 182 habitantes, nas montanhas do Abruzzo. 

 

João Batista, homem "alérgico à duplicidade"

A reflexão do Santo Padre foi inspirada na figura de João Batista, um "homem alérgico à duplicidade". De fato, segundo narra o Evangelho de Mateus (Mt 3, 1-12), ele "usava uma roupa feita de pelos de camelo" e "comia gafanhotos e mel do campo", convidando todos à conversão: "Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo!"

Em outras palavras, "um homem austero e radical, que à primeira vista pode até parecer-nos duro e incutir um pouco de medo", o que poderia nos levar a perguntar do porquê "a Igreja o propõe todos os anos como principal companheiro de viagem no tempo do Advento".

Mas, questiona Francisco, "o que se esconde por trás de sua severidade, por trás de sua aparente dureza? Qual é o segredo de João? Qual a mensagem que a Igreja nos dá hoje com João?":

“Na realidade, o Batista, mais do que um homem duro, é um homem alérgico à duplicidade. Ouçam bem isso: alérgico à duplicidade. Por exemplo, quando fariseus e saduceus, conhecidos por sua hipocrisia, se aproximam dele, sua "reação alérgica" é muito forte!”

 

A hipocrisia pode arruinar as realidades mais sagradas

Alguns deles, de fato, explicou o Papa, provavelmente o procuravam por curiosidade ou por oportunismo, pois havia se tornado muito popular, tinham uma visão muito positiva de si mesmos, "e diante do apelo contundente do Batista, justificaram-se dizendo: "Abraão é nosso pai".

Assim, entre duplicidade e presunção, não acolhiam a ocasião de graça, a oportunidade de começar uma nova vida, "eram fechados na presunção de serem justos". Por isso João lhes diz: "Produzi frutos que provem a vossa conversão!":

É um grito de amor, como o de um pai que vê o filho se arruinar e lhe diz: "Não jogue fora a tua vida!". Com efeito, queridos irmãos e irmãs, a hipocrisia é o perigo mais grave, porque pode arruinar até as realidades mais sagradas. A hipocrisia é um perigo grave. Por isso o Batista - como depois também Jesus - é duro com os hipócritas. Podemos ler por exemplo o capítulo 23 de Mateus, onde Jesus fala aos hipócritas do tempo, tão forte. E por que faz assim o Batista e também Jesus? Para sacudi-los. Em vez disso, aqueles que se sentiam pecadores "vinham ao encontro dele e, confessando os seus pecados, eram batizados".

“É assim: para acolher a Deus não importa a bravura, mas a humildade, este é o caminho para acolher Deus, não a bravura: "somos fortes, somos um povo grande". Não, a humildade!: "Sou pecador". Mas não de forma abstrata, não: "por isso, isso, isso", cada um de nós deve confessar a si mesmo, primeiro os próprios pecados, as próprias faltas, as próprias hipocrisias. É preciso descer do pedestal e mergulhar na água do arrependimento”

 

Humildade, caminho para vida nova

 Francisco observa então, que as "reações alérgicas" de João Batista nos interpelam:

Não somos também nós às vezes um pouco como aqueles fariseus? Talvez olhemos os outros de alto a baixo, pensando ser melhores do que eles, de ter o controle da nossa vida, de não ter a cada dia a necessidade de Deus, da Igreja, de nossos irmãos (...). O Advento é um tempo de graça para tirar nossas máscaras - cada um de nós as tem - e colocar-nos em fila com os humildes; para libertar-nos da presunção de nos acharmos autossuficientes, para ir confessar nossos pecados, aqueles escondidos, e aceitar o perdão de Deus, para pedir desculpas a quem ofendemos. Assim começa uma nova vida.

E o caminho para isso é um só - frisou o Papa - o da humildade:

Purificar-nos do senso de superioridade, do formalismo e da hipocrisia, para ver nos outros irmãos e irmãs, pecadores como nós, e em Jesus ver o Salvador que vem para nós, não para os outros, para nós, assim como somos, com as nossas pobrezas, misérias e defeitos, sobretudo com a nossa necessidade de sermos elevados, perdoados e salvos.

 

Com Jesus, sempre existe a possibilidade de recomeçar

E por fim, o convite a nunca esquecermos de que, "com Jesus, sempre existe a possibilidade de recomeçar. Sempre!":

Nunca é tarde, sempre existe a possibilidade de recomeçar, tenham coragem, Ele está perto de nós e este é um tempo de conversão. Cada um pode pensar: “Tenho esta situação dentro de mim, este problema que me envergonha”. Mas Jesus está ao teu lado, recomece, sempre existe a possibilidade de dar mais um passo. Ele espera por nós e nunca se cansa de nós. Nunca se cansa de nós, nós somos chatos, mas nunca se cansa! Escutemos o apelo de João Batista para voltar para Deus e não deixemos este Advento passar como os dias do calendário, porque este é um tempo de graça, de graça também para nós, agora, aqui!

Que Maria - disse ao concluir - a humilde serva do Senhor, ajude-nos a encontrá-lo, a Jesus e aos irmãos no caminho da humildade que é o único que nos faz seguir em frente. Fonte: https://www.vaticannews.va

Neste domingo, começa o Advento, tempo litúrgico que nos prepara para o Natal. Francisco recordou no Angelus a "bela promessa que nos introduz no tempo do Advento: «Virá o teu Senhor». Este é o fundamento da nossa esperança, é o que nos sustenta também nos momentos mais difíceis e dolorosos da nossa vida".

 

 Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus, deste domingo (27/11), com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro.

Na alocução que precedeu a oração, o Pontífice recordou a "bela promessa que nos introduz no tempo do Advento: «Virá o teu Senhor».

Este é o fundamento da nossa esperança, é o que nos sustenta também nos momentos mais difíceis e dolorosos da nossa vida: Deus vem. Nunca nos esqueçamos disso! O Senhor vem sempre, nos visita, se faz próximo, e voltará no fim dos tempos para nos acolher no seu abraço.

 

O Senhor inspira as nossas ações

A seguir, o Papa fez as seguintes perguntas: "Como vem o Senhor? Como reconhecê-lo e acolhê-lo?" Primeira pergunta: como o Senhor vem?

Segundo Francisco, "muitas vezes ouvimos dizer que o Senhor está presente no nosso caminho, que nos acompanha e nos fala. Mas talvez, distraídos como estamos por tantas coisas, esta verdade permanece para nós apenas teórica, ou imaginamos que o Senhor vem de maneira sensacional, talvez por meio de algum sinal prodigioso. Jesus diz que acontecerá "como nos dias de Noé". E o que faziam nos dias de Noé? Simplesmente as coisas normais e cotidianas da vida: «Comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento»".

Levemos em consideração isso: Deus está escondido em nossa vida, está sempre presente, está escondido nas situações mais comuns e ordinárias de nossa vida. Não vem em eventos extraordinários, mas nas coisas do dia-a-dia. O Senhor vem nas coisas do dia-a-dia, porque Ele está ali, se manifesta nas coisas de todos os dias. Ele está ali, no nosso trabalho quotidiano, num encontro casual, no rosto de uma pessoa necessitada, mesmo quando enfrentamos dias que parecem cinzentos e monótonos, o Senhor está ali, nos chama, nos fala e inspira as nossas ações.

 

Perceber a presença de Deus na vida cotidiana

Segunda pergunta: como reconhecer e acolher o Senhor? De acordo com Papa, "devemos estar acordados, atentos, vigilantes. Jesus nos adverte: existe o perigo de não percebermos a sua vinda e estar despreparados para a sua visita".

Francisco disse que recordou "outras vezes o que Santo Agostinho dizia: "Temo o Senhor que passa", ou seja, temo que Ele passe e eu não o reconheça! De fato, sobre aquelas pessoas do tempo de Noé, Jesus diz que elas comiam e bebiam «e nada perceberam, até que veio o dilúvio, e arrastou a todos»".

Prestemos atenção nisso: não perceberam nada! Estavam ocupadas com suas coisas e não perceberam que o dilúvio estava para vir. De fato, Jesus diz que, quando Ele vier, "dois homens estarão trabalhando no campo: um será levado e o outro deixado". Qual é a diferença? Em que sentido? Simplesmente que um estava vigilante, esperava, capaz de perceber a presença de Deus na vida cotidiana; o outro, por outro lado, estava distraído, "sem compromisso", como se fosse nada, e não percebeu nada.

 

Deixar-se chacoalhar pelo torpor

"Neste Tempo do Advento deixemo-nos chacoalhar pelo nosso torpor e despertemo-nos do sono", disse o Papa, convidando-nos a fazer as seguintes perguntas: "Estou consciente do que vivo? Estou atento? Estou acordado? Procuro reconhecer a presença de Deus nas situações cotidianas ou estou distraído e um pouco esmagado pelas coisas?"

"Se não percebermos sua vinda hoje, também estaremos despreparados quando ele vier no fim dos tempos. Irmãos e irmãs, permaneçamos vigilantes! Esperando que o Senhor venha, se aproxime de nós, porque Ele está aqui, espera. Prestemos atenção! Que a Virgem Santa, Mulher da expectativa, que percebeu a passagem de Deus na vida humilde e escondida de Nazaré e o acolheu em seu ventre, nos ajude neste caminho de estar atentos à espera do Senhor que está no meio de nós e passa", concluiu Francisco. Fonte: https://www.vaticannews.va

 

Na segunda-feira (24/10) o Papa Francisco encontrou na Sala Paulo VI os seminaristas e sacerdotes que estudam em Roma, na ocasião abordou numerosos tópicos: do estilo compassivo dos padres, chamados a estar perto do povo e não arrivistas, à direção espiritual, do uso das novas tecnologias ao discernimento, do diálogo entre ciência e fé ao papel da Igreja nas guerras

 

Vatican News

No longo do diálogo do Papa na segunda-feira (24) na Sala Paulo VI com seminaristas e sacerdotes que estudam em Roma, foram feitas dez perguntas ao Pontífice.

 

O bom sacerdote e o estilo de Deus

A uma pergunta feita sobre a concretude da misericórdia, o Papa respondeu que é necessário aprender a linguagem dos gestos que expressam proximidade e ternura. E isto também se aplica nas homilias: "deixar que a expressão seja total". "Se você não é humano com gestos, a mente também endurece e no sermão você dirá coisas abstratas que ninguém entende, e alguém será tentado a sair para fumar um cigarro". Francisco falou de três linguagens que revelam "a maturidade de uma pessoa: a linguagem da cabeça, a linguagem do coração e a linguagem das mãos" e encorajou a aprender a se expressar "nestas três linguagens: pensar o que sinto e faço; sentir o que penso e faço; fazer o que sinto e penso”. E também é preciso assumir o estilo de Deus, que é a proximidade. Deus "se tornou próximo na encarnação de Cristo. Ele está perto de nós". “Um bom sacerdote é um próximo compassivo e terno", esclareceu Francisco, reiterando novamente que o estilo de Deus "é sempre proximidade, compaixão e ternura. E você está próximo com paixão e ternura".

 

Manter o contato com o povo de Deus

Aos que lhe perguntavam como viver o sacerdócio sem perder aquele cheiro de ovelhas que deve ser próprio do ministério sacerdotal, Francisco respondeu que, mesmo que se esteja empenhado nos estudos ou em trabalhos na Cúria "é importante manter contato com o povo, com o povo fiel de Deus, porque há a unção do povo de Deus: são as ovelhas". Perdendo o cheiro das ovelhas, ao se distanciar delas, pode-se tornar "um teórico, um bom teólogo, um bom filósofo, um bom curial que sabe fazer todas as coisas" mas foi perdida "a capacidade de sentir o cheiro das ovelhas". "Pelo contrário, sua alma perdeu a capacidade de se deixar despertar pelo cheiro das ovelhas", observou o Papa, que recomendou manter experiências pastorais "em uma paróquia, em um lar de crianças e jovens, ou idosos: seja o que for", para que o contato com o povo de Deus não se perca. E Francisco novamente reiterou o que ele chama de princípio das quatro proximidades dos sacerdotes: proximidade com Deus - oração -, proximidade com o bispo, proximidade com outros sacerdotes e proximidade com o povo de Deus: 'Se não há proximidade com o povo de Deus, você não é um bom sacerdote'.

 

Sacerdócio não é comodismo ou carreirismo

O Papa falou então de sacerdotes que vivem o sacerdócio como se fosse um trabalho, com horários estabelecidos, sacerdotes funcionários, que buscam tranquilidade - não perturbar o padre, o padre está ocupado - e uma vida cômoda; ou seja, comodismo. "O sacerdócio é um serviço sagrado a Deus", explicou Francisco, "o serviço do qual a Eucaristia é o mais alto grau, é um serviço à comunidade". Em seguida, ele abordou o tema dos "padres arrivistas", aqueles que visam fazer carreira, convidando-os a parar com isso: "O arrivista é, em última análise, um traidor, não é um servidor. Ele busca o que lhe interessa e não faz nada pelos outros". Em seguida, ele contou uma história de sua própria avó, migrante italiana na Argentina - como tantos outros italianos que se mudaram para as Américas para construir casa e família - que gostava de dar ensinamentos simples, como a 'catequese' normal. "Nossa avó costumava nos ensinar: 'Na vida vocês devem progredir', isto é, conseguir logo tijolos, a terra, a casa, progredir, ou seja, ter uma posição, uma família, e ela nos ensinava isto. Mas cuidado para não confundir progredir com arrivismo, porque o arrivista é alguém que sobe, sobe, sobe e quando está no alto mostra aquilo ... a avó costumava dizer a palavra! Continuou o Pontífice. Te mostra, ele é assim, ele te mostra aquilo. A única coisa que os arrivistas fazem é o ridículo, eles são ridículos. Isso me fez bem na vida". Para um padre, por outro lado, o importante é a comunhão, a participação e a missão, servir aos outros, "o perigo de buscar o próprio prazer e a própria tranquilidade, é o perigo de arrivismo, e infelizmente na vida há muitos carreiristas".

 

O acompanhamento espiritual

No longo e aberto diálogo realizado na Sala Paulo VI, Francisco também enfatizou a importância da direção espiritual - confiando, porém, que ele preferia o termo "acompanhamento espiritual" - que não é obrigatório, mas ajuda no caminho da vida e é bom confiá-lo a uma pessoa que não seja o confessor. O Papa sublinhou que o importante é que se trate de dois papéis distintos. "Você vai ao confessor para que ele lhe perdoe seus pecados e você vai se preparar para os pecados. Você vai ao diretor espiritual para contar-lhe as coisas que estão acontecendo em seu coração, as emoções espirituais, as alegrias, as raivas e o que está acontecendo dentro de você". O Pontífice explicou que relacionando-se "somente com o confessor e não com o diretor espiritual", não se cresce, "não vai dar certo", se se relaciona "somente com um diretor espiritual, um companheiro" e não vai confessar seus pecados "também não dá certo", " são dois papéis diferentes". Em seguida esclareceu que a direção espiritual não é um carisma clerical, um carisma sacerdotal, mas um carisma batismal, e que "os sacerdotes que fazem a direção espiritual têm o carisma não porque são sacerdotes", mas "porque são batizados".  "A pessoa que não é acompanhada na vida", continuou Francisco, "gera ‘mofos’ na alma, os mofos mais tarde o molestam". Doenças, solidão triste, tantas coisas ruins". E ao invés disso, é importante estar acompanhado, reconhecer que há necessidade de estar acompanhado, "esclarecer as coisas", reconhecer que há necessidade de alguém que ajude a compreender as próprias emoções espirituais, "o que o Senhor quer com isto, onde está a tentação". "Encontrei alguns estudantes de teologia que não sabiam distinguir uma graça de uma tentação", relatou o Pontífice, lembrando que o acompanhamento espiritual pode ser feito por um padre, um bispo, mas também por uma religiosa ou mesmo um leigo ou uma leiga desde que seja uma pessoa sensata.

 

O diálogo entre ciência e fé: não há respostas para todas as perguntas

Partindo de uma pergunta sobre o diálogo entre ciência e fé, o Papa convidou antes de tudo a estar abertos às questões dos estudiosos e às ansiedades das pessoas ou dos estudantes universitários, a escutar e a manter sempre uma atitude positiva, aberta e humilde: 'Ser humilde, ter fé não é ter a resposta para tudo'. Esse método de defesa da fé não funciona mais, é um método anacrônico. Ter fé, ter a graça de acreditar em Jesus Cristo é estar a caminho". E é isso que o outro deve entender: que se está a caminho, que não há "todas as respostas para todas as perguntas". Voltando ao passado, Francisco recordou que houve uma época que estava na moda "uma teologia de defesa e havia livros com perguntas para defender". "Quando eu era menino, esse era o método de se defender", disse, "são respostas, algumas boas, outras limitadas, mas não são boas para o diálogo". Como se dar uma resposta decretasse uma vitória. "Não, não é assim", enfatizou o Pontífice, que também recomendou manter sempre aberto o diálogo com a ciência, mesmo não tendo respostas e, de direcionar a pessoa a quem você não soube responder para alguém que possa oferecer mais esclarecimentos. Diálogo é dizer: "Isso eu não sei explicar, mas você deve ir a estes cientistas, a estas pessoas que talvez o ajudarão". Por outro lado, devemos "fugir da contraposição religião e ciência", insistiu o Papa, "porque este é um espírito ruim, não é o verdadeiro espírito do progresso humano. O progresso humano fará a ciência avançar e também preservará a fé".

 

A vida, caminhar entre muitas dificuldades, cair e levantar

Respondendo a outra pergunta, o Pontífice descreveu a vida como "um desequilíbrio contínuo", porque é caminhar entre muitas dificuldades, caindo e se levantando, e encorajou a não ter medo e a fazer um discernimento neste desequilíbrio diário, porque "no desequilíbrio há as moções de Deus que convidam a algo, ao desejo de fazer o bem". "Saber viver no desequilíbrio" leva a "um equilíbrio diferente", um "equilíbrio dinâmico" governado por Deus, salientou Francisco, que também se deteve sobre esses conceitos falando também de discernimento correto. "O discernimento é sempre desequilibrado", disse, esclarecendo que "o discernimento correto é procurar como este desequilíbrio encontra o caminho de Deus - não encontra 'equilíbrio'". Talvez, o desequilíbrio seja "resolvido em um plano superior, não no mesmo plano". E esta é uma graça de oração, uma graça da experiência espiritual". É a busca de fazer a vontade de Deus, que leva a resolver o desequilíbrio, mas em outro nível. Na prática, o Papa acrescentou, "o desequilíbrio entra em oração, entra no caminho do Espírito Santo" que "leva a uma nova situação harmoniosa". Depois o Pontífice reiterou a importância da formação dos seminaristas, especialmente a espiritual, e recomendou a vida comunitária, "aprendendo a viver em comunidade e a não cair depois em críticas uns aos outros, nos partidos dentro do presbitério".

 

Os perigos da Internet

Durante o encontro com os sacerdotes e os seminaristas que estudam na capital, o Papa também falou sobre sua relação com a tecnologia e seu desconforto com as modernas ferramentas digitais. Ele contou que logo que foi ordenado bispo na Argentina recebeu de presente um telefone celular, e que usou para uma única chamada telefônica para sua irmã e imediatamente devolveu. "Não é o meu mundo, mas vocês devem usá-lo", disse ele aos presentes, embora com prudência. Francisco enfatizou os perigos da internet, como a pornografia digital, que infelizmente é uma tentação para muitos, incluindo os religiosos: "É algo que enfraquece a alma. O diabo entra por ali: enfraquece o coração sacerdotal".

 

A Igreja diante da guerra

Por fim, respondendo a um sacerdote ucraniano, o Papa disse que a Igreja, como uma mãe, sofre diante das guerras "porque as guerras são a destruição dos filhos": "Deve sofrer, chorar, rezar. Deve ajudar as pessoas que foram atingiddas, que perderam suas casas ou ficaram feridas pela guerra, mortes... A Igreja é mãe, e o papel antes de tudo é a proximidade com as pessoas que sofrem". Então Francisco acrescentou que a Igreja "é também uma mãe criativa da paz: ela tenta fazer a paz em certos momentos... Neste caso, não está sendo muito fácil".  Mas a Igreja tem um coração aberto. E falando do papel dos cristãos, acrescentou: "É verdade que existe a própria pátria e isto é verdade, devemos defendê-la", observou o Papa, "mas ir além, muito além disto: um amor mais universal". É por isso que "a Igreja Mãe deve estar perto de todos, de todas as vítimas". Uma atitude cristã é "rezar pelo pecado dos agressores, por este que vem aqui para arruinar minha pátria, para matar a minha família". Dirigindo-se depois diretamente ao jovem sacerdote que lhe havia feito a pergunta, o Pontífice continuou: "Vocês sofrem tanto, seu povo, eu sei, eu estou próximo. Mas rezem pelos agressores, pois eles são mais vítimas como vocês. Não se pode ver as feridas em suas almas, mas rezem, rezem para que o Senhor as converta e para que venha a paz ". Fonte: https://www.vaticannews.va

Declaração foi feita durante saudação a peregrinos de língua portuguesa na Praça São Pedro, no Vaticano, a quatro dias das eleições marcadas por ataques a religiosos

Por Rayane Rocha — Rio de Janeiro

 

O Papa Francisco se dirigiu ao Brasil, nesta quarta-feira, durante a tradicional audiência geral que acontece na Praça São Pedro, no Vaticano. Ao final do compromisso semanal com os fiéis, o pontífice afirmou que pede a Nossa Senhora Aparecida que livre os brasileiros do ódio. A declaração foi dada pelo chefe da Igreja Católica durante a tradicional saudação que faz, em vários idiomas, a peregrinos presentes no encontro.

Ao fazer referência à padroeira brasileira, Francisco afirmou rezar para que a santa livre a população da violência e do sentimento de intolerância. Apesar de não fazer declaração direta ao processo eleitoral do país, a fala do líder argentino acontece a quatro dias do segundo turno das eleições presidenciais, momento em que pelo menos dois ataques políticos são registrados por dia.

Durante a campanha eleitoral, lideranças católicas têm sido alvo de episódios violentos motivados por convicções políticas. Na semana passada, um padre foi hostilizado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) enquanto celebrava a missa, no Paraná. Nas redes sociais, o cardeal Dom Odilo Pedro Scherer também foi atacado por bolsonaristas por usar uma veste sacerdotal de cor vermelha.

Em seu discurso, o papa citou ainda a beatificação de Benigna Cardoso da Silva, mais conhecida como menina Benigna. Ela foi reconhecida pela igreja, nesta segunda-feira, em uma cerimônia no município do Crato, interior do estado do Ceará. O pontífice saudou a jovem mártir nesta quarta, enfatizando que "o seu exemplo nos ajude a ser generosos".

O título de beata já havia sido concedido pelo Vaticano à cearense em outubro de 2019, mas demorou a ser oficializado por conta da pandemia de Covid-19. Assassinada a golpes de facão em 1941, a adolescente foi morta depois de recusar um rapaz de 17 anos que tentou violentá-la.

Leia o discurso na íntegra:

Saúdo os peregrinos de língua portuguesa, em especial quantos vieram de São Salvador da Bahia, Anicuns, Taubaté e São Paulo. Queridos irmãos e irmãs, anteontem, em Crato, no Estado brasileiro do Ceará, foi beatificada Benigna Cardoso da Silva, uma jovem mártir que, seguindo a Palavra de Deus, manteve pura a sua vida, defendendo a sua dignidade. O seu exemplo nos ajude a ser generosos discípulos de Cristo. A vida do mundo depende do nosso testemunho coerente e alegre do Evangelho. Um aplauso à nova beata! Peço a Nossa Senhora Aparecida que proteja e cuide do povo brasileiro, que o livre do ódio, da intolerância e da violência. Fonte: https://oglobo.globo.com

"Para subir em direção a Ele é preciso descer dentro de nós mesmos: cultivar a sinceridade e a humildade de coração, que nos dão um olhar honesto sobre nossas fragilidades e pobrezas. De fato, na humildade nos tornamos capazes de levar a Deus, sem fingimentos, o que somos, os limites e as feridas, os pecados e as misérias que pesam em nosso coração, e de invocar sua misericórdia para que nos cure, nos cura e nos levante."

 

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

"Quanto mais descemos com humildade, mais Deus nos faz subir em direção ao alto."

"Subir e descer", dois verbos presentes na passagem de Lucas (Lc 18,9-14) do Evangelho da liturgia deste domingo inspiraram a reflexão do Papa Francisco antes de rezar o Angelus neste XXX Domingo do Tempo Comum. De fato, a" parábola está entre dois movimentos". 

 

Subir, necessidade do coração de ir ao encontro do Senhor

De um lado o fariseu, "um homem religioso", e de outro o cobrador de impostos, o publicano, "um pecador declarado". Aos peregrinos reunidos na Praça São Pedro, o Papa começou explicando que os dois sobem ao templo para rezar, "mas somente o publicano eleva-se verdadeiramente a Deus, porque com humildade desce à verdade de si mesmo e apresenta-se tal como é, sem máscaras, com a sua pobreza". Ou seja, o primeiro movimento é "subir". E explica:

De fato, o texto começa dizendo: "Dois homens subiram ao Templo para rezar". Este aspecto evoca tantos episódios da Bíblia, onde para encontrar o Senhor se sobe ao monte da sua presença: Abraão sobe ao monte para oferecer o sacrifício; Moisés sobe ao Sinai para receber os mandamentos; Jesus sobe ao monte, onde é transfigurado. Subir, portanto, expressa a necessidade do coração de separar-se de uma vida plana para ir ao encontro do Senhor, libertar-nos do próprio eu; de elevar-se das planícies do nosso eu para subir em direção a Deus; de recolher o que vivemos no vale para levá-lo diante do Senhor. Isso é subir, e quando nós rezamos, subimos.

 

Quanto mais descemos, mais Deus nos faz subir ao alto

Mas - observou Francisco - para viver o encontro com Deus e ser transformados pela oração, para nos elevarmos a Ele, precisamos do segundo movimento, descer:

Para subir em direção a Ele é preciso descer dentro de nós mesmos: cultivar a sinceridade e a humildade de coração, que nos dão um olhar honesto sobre nossas fragilidades e pobrezas interiores. De fato, na humildade nos tornamos capazes de levar a Deus, sem fingimentos, o que realmente somos, os limites e as feridas, os pecados e as misérias que pesam em nosso coração, e de invocar sua misericórdia para que nos cure, nos cure e nos levante. Será Ele a nos levantar, não nós. Quanto mais descemos com humildade, mais Deus nos faz subir em direção ao alto.

 

O risco de cair na "soberba espiritual"

Com efeito - acrescentou - o publicano da parábola "fica humildemente à distância, não se envergonha, pede perdão e o Senhor o levanta". O fariseu, por outro lado, "se exalta, seguro de si mesmo, convencido de estar bem: de pé, começa a falar ao Senhor apenas de si mesmo, começa a louvar a si mesmo, a listar todas as boas obras religiosas que faz e despreza os outros. Diz: "Não como aquele lá":

Por que a soberba espiritual faz isso - “Mas padre, por que nos fala sobre a soberba espiritual? - Mas todos nós corremos o perigo de cair nisto: leva-te a acreditar-te bom e a julgar os outros e isso é a soberba espiritual: "Eu estou bem, sou melhor que os outros, ele é isso, aquele é aquilo…". E assim, sem perceber, adoras a ti mesmo e apaga teu Deus. É uma subida que volta para si mesmo. Esta é a oração sem humildade.

 

Onde há muito eu, há pouco Deus

O Papa então chamou a atenção para o fato de que "o fariseu e o publicano têm muito a ver conosco", convidando a olharmos para nós mesmos:

Verifiquemos se em nós, como no fariseu, existe "a íntima presunção de ser justos" que nos leva a desprezar os outros. Acontece, por exemplo, quando buscamos elogios e sempre fazemos uma lista de nossos méritos e de nossas boas obras, quando nos preocupamos mais em parecer do que em ser, quando nos deixamos aprisionar pelo narcisismo e pelo exibicionismo. Vigiemos , irmãos e irmãs, nosso narcisismo e exibicionismo, baseados na vanglória, que levam também nós cristãos, nós sacerdotes, nós bispos a ter sempre uma palavra nos lábios. Qual palavra? "Eu, eu ,eu": "eu fiz isso, eu escrevi aquilo, eu havia dito, eu havia entendido antes de vocês", e assim por diante. Onde há muito eu, há pouco Deus.

Francisco recordou que em seu país, essas pessoas são chamadas de "eu-comigo-para mim-somente eu", ilustrando com o exemplo de um sacerdote que era muito "centrado em si mesmo", e para brincar, as pessoas diziam que quando ele fazia a incensação, fazia ao contrário, pois incensava a si mesmo, "se auto incensava."

Peçamos a intercessão de Maria Santíssima - disse ao concluir - a humilde serva do Senhor, imagem viva daquilo que o Senhor ama realizar, derrubando os poderosos de seus tronos e elevando os últimos. Fonte: https://www.vaticannews.va