Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita e Jornalista/RJ.
Convento do Carmo de Salvador- BA. 11 de janeiro – 2018
Comecemos o nosso olhar recordando o famoso filme O Nome da Rosa. A história- baseada no romance de Umberto Eco- se passa no ano de 1327 no norte da Itália. Em um mosteiro beneditino- recheado de livros “proibidos” e intocáveis pelos monges- estava a “maçã intelectual do riso”, ou melhor, o segundo livro da Poética de Aristóteles que fala sobre a comédia. Acontece que as suas páginas estavam envenenadas. Os monges que, com sede do riso ou do conhecimento folheavam tal manuscrito, morriam logo em seguida.
Após lembrar desse clássico da literatura e do cinema- que aliás você não pode deixar de ler ou ver o filme- vamos agora provocar a sua autocrítica. 1º- Você já viu um santo sorrindo na sua paróquia? 2º- Por que será que muitas vezes somos rígidos com a nossa busca pelo sagrado? 3º- Por que será que religião-Deus- significa sacrifícios, jejuns, penitência, cara feia, e por aí vai? Você pode dizer, ah Frei, Jesus não sorria. Respondo, se Jesus nunca sorriu é porque Ele não era humano. Se ele era humano- mesmo sendo Deus- logo Ele também deu ótimas e boas gargalhadas.
No Evangelii Gaudium, Exortação Apostólica do Papa Francisco sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual, ele afirma; “Quero, com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos”. Sem dúvida, vivemos em um contexto religioso, social, político e econômico profundamente marcado pela tristeza. Se por um lado as pessoas sentem a ausência de Deus, por outro lado quem o encontrou muitas vezes vive a espiritualidade conservadora da idade média que Umberto Eco relata no Nome da Rosa.
Madre Teresa de Calcutá, Prêmio Nobel da Paz, costumava dizer; " Sorria um para o outro, sorria para a sua esposa, sorria para o seu marido, sorria para os seus filhos, sorria um para o outro - não importa quem seja - e isso ajudará a crescer um amor maior de um pelo outro. " Talvez isso pareça ser mais uma frase de uma santa com os pés nas nuvens. Não, não! Madre Teresa sabia muito bem o que significava sorrir. Por mais de 20 anos ela passou por uma profunda noite escura espiritual, mas nem por isso deixou de sorrir.
Às vezes, em nossos grupos, pastorais e movimentos, nos deparamos com leigos e leigas emburrados, tristes e com a cara de 7º dia- para não dizer padres, bispos e freiras- como se religião fosse sinônimo de tristeza. Não, não! Com o apóstolo Paulo em Filipenses 4-4-7, queremos dizer; “Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos!
Óbvio que não estou falando da alegria regada a drogas, sexo, músicas e álcool. Essa é passageira e não nos satisfaz. Refiro-me a verdadeira alegria que brota do coração ansioso em busca de Deus, mas não de um Deus carrancudo e Pit Bull de olho em nossas falhas e limitações. Aqui falo de um Deus que se alegrou com o arrependimento de Maria Madalena, abençoou as criancinhas, multiplicou os pães para os famintos, jantou na casa de Zaqueu e, acima de tudo, se fez pobre no meio dos pobres.
Que todos nós- cristãos ou não- possamos fugir dessa religião triste e sonolenta. Muitas vezes opressora e sufocante que não nos permite sorrir e viver enquanto filhos e filhas de um Deus que se fez e se faz vida naquelas e naquelas que, apesar das labutas diárias de opressão, corrupção, desemprego e violência, ainda insistem e persistem em sorrir. Feliz carnaval povo de Deus!