Frei Petrônio de Miranda, O. Carm

Comunidade Capim, Lagoa da Canoa/AL. Domingo, 27 de dezembro-2020.

 

Bom dia, Boa Tarde e Boa Noite amigo Diário! A sua família é sagrada? É o quê! Sagrada cara. O que significa esta palavra no velho dicionário? Bem, ele diz que; “Sagrada é o feminino de sagrado. O mesmo que: sacra, santa, sacrossanta”. Ah tá, nesse sentido considero a minha família sagrada, uma vez que os meus pais são de  Igreja, digo; Festa de Padroeiro, Encontros... Estas coisas. Mas vem cá, e as famílias que não estão na Igreja por não ter padres na cidade ou as famílias que, mesmo tendo filhos, moram embaixo de viadutos e perambula durante o dia a procura de um pouco de comida? E as mães solteiras ou divorciadas, será que elas são também sagradas? Cara, agora você me deixou embananado. 

Então meu camarada, você deve saber que, mesmo antes do Estado e da Religião, a família já existia, porém na ótica Bíblica, encontramos a seguinte passagem em (Gn 2, 24).  “O homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne”.  Já a Constituição Pastoral do Concílio Vaticano II sobre a Igreja no mundo de hoje, Galdium Et Spes, “Definiu o matrimônio como comunidade de vida e amor” (GS 48). Ah tá, tudo isso de Bíblia e Documento da Igreja é muito bonito, mas você sabe que milhares de famílias não tem acesso a Sacramentos, Bíblia e tudo mais. Logo, estas famílias estariam fora desta sacralidade inspirada na Sagrada Família de Nazaré, Jesus Maria e José? Espera aí um pouco, que tal aprofundar este tema? Claro, tou aqui não apenas para debater o assunto, mas para encontrar respostas para as minhas dúvidas.

Então cara, o Concílio Vaticano II chamou a família de a Igreja doméstica (LG, 11). Concílio o quê? Vaticano II, aquele grande encontro da Igreja que o então Papa, João XXIII idealizou e, graças a sua inspiração, botou a Igreja de cabeça para baixo. E foi! Conte mais sobre este tal de Vaticano II? Prometo outro dia falar.

Mas voltando o nosso assunto sobre a família e a Igreja, em 2015, outro Papa- desta vez- Francisco, realizou o 2º Sínodo dos Bispos sobre a família. No Documento final, número 35, responde a tua e as nossas dúvidas sobre os vários casos de famílias. Como assim? Diz o texto final que; “A primeira verdade da Igreja é o amor de Cristo. E, deste amor que vai até ao perdão e ao dom de si mesmo, a Igreja faz-se serva e mediadora junto dos homens. Por isso, onde a Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai” (MV, 12). Tudo bem, é muito bonito e tudo mais, mas na prática, o que quer dizer estas palavras? Bem meu caro, sabemos que existem diversos modelos de famílias e que, a partir da misericórdia, a Igreja vai olhar cada questão familiar sob a ótica do amor de Jesus. Tá bom, até parece! Sabia que existem padres que são piores que delegados e juízes, pra eles, se não andar na linha tá fora da Igreja! Claro que eu sei, mas nem por isso vamos deixar de seguir a amorosidade de Jesus.  

Mas vem cá, e as famílias partidas e repartidas vítimas do feminicídio? E as mães e pais ao mesmo tempo? E as famílias em situações de vulnerabilidade- milhares sem direito a trabalho, moradia, saúde, educação, segurança publica e os mais grave, discriminadas em nossas Igrejas através de Movimentos, Pastorais - elas também são sagradas? E as famílias indígenas, refugiadas, quilombolas, faveladas e estropiadas que, até no censo do governo federal, não aparecem porque são anônimas, elas também são sagradas?  Eu sei cara que esta realidade é polêmica e, sem duvida alguma, nós Igreja não podemos fechar os olhos para tal realidade. Acho que a Exortação Apostólica Pós-sinodal Amoris Laetitia, tem a resposta que você quer na ponta da língua! Quem é esta Amoris Laetitia? É uma Exortação Apostólica Pós-sinodal do Papa Francisco publicada em 20161- Aliás, neste domingo, dia 27 o Papa proclamou o “Ano especial dedicado à Família Amoris laetitia”, que será inaugurado em 19 de março de 2021, dia de São José e quinto aniversário de publicação da Exortação Apostólica, e o encerramento está marcado para junho de 2022- Neste documento fica bem baste claro que, toda família é sagrada. Eu disse toda!

Mas você pensa que vai cair fora antes de me responder uma perguntinha básica? Qual? Seguinte, lá em (Mt 19, 6) afirma que; “Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe”. Isso é ficção né? Como assim? Não entendi. Fale aí vai, pode rasgar o verbo meu chegado. Bem, você sabe que milhares de casais são divorciados, você também sabe que muitos casamentos não passa de rito e contrato social, você também sabe que uma coisa é a Igreja bonita para o casório- Algumas, parecem até produção de Hollywood- E aí, o que tem a me dizer? Respondo-te com aquela citação do Documento final do Sínodo dos Bispos sobre a família, numero 35. Qual? Já te falei cara. Fale de novo, é sempre bom para não termos dúvidas. Pois bem, diz o documento que; “onde a Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai”. Ou seja, todos os casos a Igreja vai olhar com a misericórdia. Misericórdia! Vai falar isso para o padre da minha paróquia? E se forem famílias pobres, tadinhas, Ai, ai... 

Bem, acho que o nosso Bate-papo nos ajudou a olhar além dos muros paroquiais e perceber que existem diversas situações de famílias que não são exatamente aquela de Nazaré que nós contemplamos em Jesus, Maria e José, mas também aprendemos que para todas as famílias a misericórdia do Senhor deve prevalecer. E tenho dito!