Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita e Jornalista.

Convento do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. 2 de fevereiro-2017.

 

Quando eu morrer, seja mentiroso, conte grandes obras da minha vida.

Quando eu morrer, seja falso e fale que éramos os melhores amigos.

Quando eu morrer, não poupe palavras vazias para enaltecer-me.

Quando eu morrer, invente histórias bonitas que eu não vivi.

Quando eu morrer, minta, diga que fui honesto, íntegro e verdadeiro.

Quando eu morrer, fale que fui um santo e só fiz o bem.

 

Quando eu morrer, chore ao lado do meu caixão

Mesmo que sejam lágrimas de crocodilo.

Quando eu morrer, faça uma prece fúnebre na Missa de 7º Dia

Mesmo que o teu coração louve pela minha partida.

Quando eu morrer, escreva palavras tristes de despedida

Mesmo que o teu coração esteja em festa pela minha partida.

 

Quando eu morrer, diga que fui um autêntico defensor dos pobres

Mesmo que em vida você tenha jogado pedras no meu ideal.

Quando eu morrer, não tenha medo de falar do meu silêncio diário

Mesmo que você tenha condenado a minha vida contemplativa.

Quando eu morrer, diga que fui autêntico nos meus objetivos

Mesmo que você tenha excomungado a minha sinceridade.  

 

Quando eu morrer, diga que sempre me apoiou nos meus sonhos igualitários

Mesmo que você tenha me deletado e jogado pedras nos meus ideais.

Quando eu morrer, finja que foi meu amigo e cante uma música minha

Mesmo que em vida você tenha criticado as minhas composições.

Quando eu morrer, não pense duas vezes e diga que fui um autêntico religioso

Mesmo que você tenha criticado diariamente a minha religiosidade popular.

 

Quando eu morrer, fale que sempre gostei da natureza e da sustentabilidade

Mesmo que em vida você tenha sido um trator destruindo toda a minha carreira.

Quando eu morrer, escreva elogios nas Mídias Sociais sobre a minha vida

Mesmo que em vida você tenha sido um eterno censor dos meus escritos.

Quando eu morrer, minta, fale para todos que fui um lutador e vencedor

Mesmo que em vida, às 24 horas, você tenha lutado para me jogar na sarjeta.

 

Quando eu morrer... Ah! Quando eu morrer....

Nada melhor para santificar que a morte

Nada melhor para mudar de opinião que a morte

Nada melhor para “aproximar as pessoas” que a morte

Nada melhor para “reconhecer o amigo” com a chegada da morte.

Morte, bendita e santa irmã morte!