Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita e Jornalista.
Convento do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. 23 de outubro-2017.
Quando nos deparamos com histórias de inveja no mundo da produtividade, na política, no esporte e na sociedade como um todo, até achamos “normal” tal situação frente a uma ideologia que, para crescer, produzir e se auto afirmar, sacrificam vidas, excluem e colocam na “geladeira” aqueles que não geram lucro ou estão ultrapassados. Mas quando nos deparamos com a maldita inveja atrás dos muros conventuais é coisa do “outro mundo”! Bem... Não que a vida do frade e da freira seja do “outro mundo”, mas justamente na vida claustral o que se presa é o respeito, o perdão, a tolerância e a vivência diária da Boa Nova de Jesus Cristo.
Alguém pode dizer; “Frei Petrônio de Miranda, a inveja faz parte da vida desde o início da criação (Gênesis 4. 8). Nessa passagem- Por inveja- Caim matou o seu irmão”. Sim, até acredito que ela perpassa toda a história da salvação, mas na vida conventual não! Nós, com os votos de pobreza, castidade e obediência, nos comprometemos a fugir das tentações do mundo e termos como único objetivo o Cristo. Óbvio que tudo isso é bonito e espiritual, e se não vigiarmos às 24 horas, seremos contaminados com o veneno da maldita inveja.
Na carta de Tiago (3, 16), nos deparamos com a seguinte passagem; “Pois onde há inveja e ambição egoísta, aí há confusão e toda espécie de males”. Esta passagem do apostolo, confirma o desvio e o foco da espiritualidade conventual quando é contaminada com a inveja. Quando isso acontece, é “normal” nos depararmos com frades e freiras feridos, depressivos, machucados e esquecidos nos “depósitos conventuais” vítimas de disputas pelo poder e pelo prestígio, desviando assim a linha condutora que inspiraram os fundadores e fundadoras.
Se o grupo dos apóstolos tiveram ciúme e inveja? Se os primeiros cristãos foram contaminados com a erva daninha da inveja? Bem, vejamos o que diz as Sagradas Escrituras; Em 1º Coríntios (12-16) nos deparamos com uma certa “divisão invejosa”, alguns afirmavam que eram de Paulo, outros de Apolo, outros de Cefas”. Essa divisão foi cortada pela raiz pelo apóstolo Paulo mostrando que o objetivo central era Jesus Cristo. Talvez, o que falta em nossos conventos -masculinos e femininos- é de fato a volta às origens. Digo, até que rezamos, até que meditamos, até que vivemos em comum, até que temos objetivos bonitos, mas esquecemos de algo fundamental em nossas vidas de consagrados e consagrada- JESUS CRISTO.
Aqui, vale lembrar a homilia do Papa Francisco na Casa Santa Marta no dia 21 de janeiro de 2016 e seu comentário sobre (1 Sam 18, 6-9: 19,1-7). Nesta passagem, nos deparamos com o ciúme de Saul, Rei de Israel, em relação a Davi. Segundo Francisco; “Por ciúme se mata com a língua. Alguém tem inveja daquele, daquele outro e começam os fuxicos: e os fuxicos matam!”. Talvez um frade ou uma freira responda; “Eu matar o meu confrade!? A minha irmã!? Nunca”! Matar fisicamente não, mas espiritualmente e moralmente talvez já tenha assassinado diversos e diversas.
Por último, vale ainda lembrar a mensagem do apóstolo Paulo em 1º Coríntios (13, 4); “O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha”. Se assim o fizermos, não seremos frades e freiras invejosos, rancorosos e feridos pela eterna disputa por cargos, prestígios e poder- que aliás são passageiros- e, muitas vezes, nos faz sofrer e ferir os nossos confrades e irmãs.
E tenho dito!....