Geraldo Alckmin tem 11min03s de propaganda gratuita diária, um latifúndio audiovisual que ocupa 44,2% do tempo total de rádio e televisão; mas Geraldo Alckmin tem, no cenário com Fernando Haddad, apenas 7% das intenções de voto, segundo pesquisa Ibope/Estado/TV Globo divulgada ontem. O que vai acontecer com ele daqui para a frente vai ser interessantíssimo de observar, já que ele é um dos candidatos com pior penetração nas redes sociais, se não o pior. Apesar de ter 934 mil seguidores no Facebook e 972 mil no Twitter — muito para uma pessoa comum, mas pouco para quem está na vida pública há tanto tempo — ele gera pouquíssimo engajamento, e praticamente não “acontece” na internet.

Tenho uma TL bastante movimentada. Vivo, como todos os usuários, dentro de uma bolha mais ou menos uniforme mas, apesar disso, ao longo dos últimos meses, seguidores têm repostado na minha área de comentários vídeos de uma quantidade de candidatos, de Lula a Bolsonaro, passando por Ciro, Marina e Amoêdo. Detalhe: nunca, em momento algum, alguém trouxe qualquer post do Alckmin — sendo que, provavelmente, eleitores dele são maioria na minha página, frequentada por muita gente de centro.

Redes sociais são animais estranhos e imprevisíveis, que nunca se comportam exatamente como imaginamos ou esperamos; mas, se Alckmin vier a ter qualquer tração on-line, vou ficar muito surpresa. As suas páginas inexpressivas são quase um manual de como não fazer, das aberturas (a mesma foto posada e pesadamente fotoshopada dele e da vice Ana Amélia, sobre fundo neutro de tons clarinhos Brasil-bebê) aos posts, que nada fazem além de repetir todos os chavões da política mais convencional.

No domingo, por exemplo, ele esteve em Alter do Chão, no Pará. Mostrou alguma coisa da região? Conversou com alguém, manifestou espanto diante da natureza exuberante? Que nada. Gravou às margens do rio Tapajós como se estivesse num escritório, usando impecável camisa social button down, boa talvez para quem quer parecer descontraído numa reunião na Avenida Paulista, mas perfeitamente inadequada ao calor e à paisagem de resort amazônico que se via ao fundo. Disse que quer aumentar o turismo na área: dã. O filmete é péssimo sob todos os pontos de vista. Teve 1,3 mil curtidas no Facebook e 675 no Twitter, número que qualquer vídeo de gato ultrapassa com quatro patas nas costas.

É óbvio que Alckmin não tem a menor intimidade com redes sociais. Não vive a sua realidade, não conhece os seus mecanismos. Sua única esperança é o tempo gigantesco de propaganda gratuita que conquistou. E é aí que vai ser interessante observar seu desempenho nas pesquisas. Será que, nesses tempos de WhatsApp, de Facebook e de Twitter, a propaganda gratuita ainda faz a cabeça dos eleitores?

De modo que, além do natural embate entre candidatos, temos, nessas eleições, um novíssimo embate para acompanhar — o da internet contra as mídias tradicionais. João Amoêdo, que até outro dia ninguém sabia quem era, tem mais de 1,5 milhão de seguidores no Facebook, e seu Partido Novo tem tido imenso engajamento nas redes, mas ele tem apenas seis segundos de propaganda gratuita; Marina, com quase 2,4 milhões de seguidores no Facebook e 1,9 milhão no Twitter, mal vai conseguir dar “boa noite” aos ouvintes e telespectadores, assim como Bolsonaro, campeão das redes sociais com 5,5 milhões de seguidores no Facebook, e cerca de 1,3 milhão no Twitter. Fonte: https://oglobo.globo.com