Por Carol Scorce
Para especialistas, o ódio disseminado nas redes tem como pano de fundo o uso político de um afeto comum a todos: o medo
Um discurso não é apenas a fala de uma pessoa, mas o que essa fala cria em um contexto. É comum, em especial na discussão feita dentro das redes sociais, encontrar comentários que dizem respeito ao contexto político carregados de ofensas, palavrões e intimidações. É o discurso de ódio emergindo na crista de uma onda conservadora que avança em todo o mundo.
Em tempos de eleições, é oportuno falar, como pondera o professor da USP e psicanalista Cristhian Dunker, sobre a função política dos afetos. É verdade que a agressividade e o conservadorismo não são prerrogativas de apenas um ou outro político, ou do seu respectivo discurso político. Este ano, no entanto, o candidato à presidência pelo Partido Social Liberal, Jair Bolsonaro, possui a maior fatia do sermão reacionário.
A cientista política e professora da PUC-SP Rose Segurado, acredita que assim como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Bolsonaro responde ao fenômeno do homem comum que se viu contemplado nos espaços das novas mídias, em especial nas redes sociais, por questões que de modo geral o “politicamente correto” não permite.
É verdade que eleição após eleição cresce o debate político feito dentro das mídias digitais. Na mesma medida o candidato e seu respectivo discurso têm força nas redes sociais. Segundo o DataFolha, entre os eleitores do deputado federal com acesso à internet, 87% têm conta no Facebook, e 40% deles dizem compartilhar noticiário político-eleitoral na plataforma; 93% têm conta no WhatsApp, e 43% declaram disseminar o conteúdo.
Também segundo o DataFolha, 60% dos eleitores de Bolsonaro têm entre 16 e 34 anos. Desses, 30% têm menos de 24 anos. Justamente os mais novos são o que estão entrando pela primeira vez no debate sobre política.
“No final, é uma fala cheia de desinformação e preconceito, e extremamente perigosa para uma democracia. Não se fala hoje que o Holocausto foi uma coisa boa, mas nas redes tem gente propagando isso. Isso é feito para ancorar o ódio e a dominação contra determinados sujeitos da sociedade.” Fonte: www.cartacapital.com.br