*João Vicente Goulart, em artigo para a Fórum, analisa a viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos
A viagem da comitiva do presidente Bolsonaro, neste domingo (17), parece ser o êxtase do orgasmo estratégico da política externa de submissão gratuita do Brasil aos Estados Unidos da América. E bota continência nisso, puxa-saquismo, entreguismo, e comprometimento lacaio à política de guerra silenciosa, de guerra tarifária, que o Tio Sam vem travando com o mundo, com a China, com os países emergentes, entre eles o Brasil, e que pode comprometer nossa soberania de uma forma irreversível.
Será que veremos a dupla, Bolsonaro e o Beato Salú se curvar ante a Casa Branca gratuitamente, com aqueles discursos idiotas de que o aquecimento global é coisa do marxismo internacional, que o tratado do clima de Paris é coisa para ecologistas fanáticos e aderir a Trump para sair do acordo?
Sabemos que o discurso do nosso presidente, quase um mantra repetitivo de banir o comunismo, o socialismo, de metralhar adversários políticos, acabar com a ideologia de gênero e assim por diante é muito efetivo para seus fanáticos seguidores que ainda não desceram do palanque, mas pode ser um mico para imprensa ágil e ferina americana; pode ser um mico.
Mas tudo é suportável pela política externa americana, quando se trata de intervir nos países alheios, como fez repetidamente o Departamento de Estado americano, com sua política de instalar ditaduras na América Latina nos anos 60, 70 e 80.
Hoje, é claro com uma nova receita intervencionista: golpes parlamentários, títeres como presidentes do “mercado” internacional, bloqueios econômicos à semelhança do bloqueio de Cuba que dura quase 60 anos, apoio a presidentes autoproclamados, que ilegalmente acumulam duas presidências, legislativo e executivo, e se nada der certo, intervenção militar na soberania de outros povos. Invasões militares, bombas “democráticas”, assassinatos, bases militares e roubalheira do petróleo de outros povos.
E aí, também nesse entreguismo, está o grave acordo, que não conhecemos e que será assinado sobre a nossa base de Alcântara.
Entregar parte do território nacional à maior potência militar do mundo é colocar em nosso quintal alguém que, no futuro, não poderemos tirar. É colocar no seio de nossa Pátria o conflito do mundo, é tornarmos, daqui para frente, aliados incondicionais do servilismo da política externa americana e submeter o nosso pacífico e multicultural povo a ser alvo do terrorismo internacional, é termos que amanhã colocar a vida de brasileiros a serviço de intervenções armadas em países latino-americanos para entregar, de graça, o petróleo de outros povos irmãos, ao império do Tio Sam.
“Democraticamente”, através de guerras, tiros e bombas, os EUA dominam o petróleo do mundo em países que não cederam a sua “diplomacia”. Iraque, Síria, Iêmen, Somália, Líbia, Níger; isso recentemente, pois começou em 1953 no Irã, quando derrubaram o presidente Mossadegh para implantar uma capitania hereditária com o Reza Pahlavi.
Esse é o país ao qual o servilismo de nosso presidente e do ministro Ernesto Araújo, desprezado no Itamaraty e comicamente apelidado de Beato Salú, entregará de bandeja nossa soberania.
Seria melhor que explicassem ao presidente Trump nossa diversidade cultural, nossa religiosidade multifacetada, nossa alegria de um povo pacífico, livre e soberano; mas sabemos que os nossos dirigentes d suas respectivas sapiências sequer alcançam a explicação de um “golden shower”. Sequer sabem que o mundo e a política externa olham o Brasil bolsonarista como sabujos do Império.
*João Vicente Goulart
Filósofo, poeta e escritor. Autor dos livros “Entre Anjos e Demônios, poemas do exílio” e “Jango e eu: memórias de um exílio sem volta”, este foi finalista do prêmio de literatura Jabuti na categoria Biografia. Preside o Instituto João Goulart desde 2004. É colunista da Revista Fórum.