Líderes debandam da candidatura de Marcelo Crivella e se aproximam de Eduardo Paes; em SP, há união em torno de Covas contra Boulos
Maiá Menezes, João Paulo Saconi e Gustavo Schmitt
RIO E SÃO PAULO - A uma semana do segundo turno, líderes evangélicos estão redefinindo apoios nas duas principais capitais do país. Em São Paulo, a saída de Celso Russomanno (Republicanos) aumentou o arco do prefeito Bruno Covas (PSDB), candidato à reeleição, enquanto no Rio, a perspectiva de vitória de Eduardo Paes (DEM) tem provocado baixas entre apoiadores do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), sobrinho de Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, e que tem no segmento seu principal trunfo em busca da reeleição.
Paes e Crivella já estiveram em templos de Madureira, Campo Grande e Barra da Tijuca. Nesses locais, eles não podem pedir votos e, em geral, pastores e bispos apenas oferecem uma oração em nome da pessoa presente. Paes, que não é evangélico, foi convidado pelo bispo Abner Ferreira, da Assembleia de Deus de Madureira, a participar de um culto conhecido como Santa Ceia, celebração mensal que é das mais relevantes para a igreja. Ontem, num encontro com pastores na Barra da Tijuca, o candidato do Republicanos pediu que eles abordassem os fieis na porta de suas igrejas para tentar virar a eleição.
Na reta final do primeiro turno, lideranças evangélicas chegaram a enviar vídeos de apoio a Crivella, estimuladas pelo presidente Jair Bolsonaro. Agora, no entanto, o presidente recusou o pedido do prefeito para vir ao Rio, e o desempenho ruim nas pesquisas desanimou nomes importantes do segmento. R.R. Soares, fundador Igreja Internacional da Graça de Deus, autorizou o uso de um vídeo seu de apoio a Crivella, de 2017, na campanha, mas aliados garantem que não gravará novamente. Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, voltou atrás na decisão de gravar para o prefeito diante da perspectiva de derrota. Santiago, por outro lado, embarcou na campanha de Bruno Covas (PSDB), em São Paulo.
— O voto evangélico não garante a eleição do Crivella. Foi suficiente para colocá-lo no segundo turno, mas não para definir —avalia o professor José Eustáquio Alves, doutor em demografia pela UFMG.
Já Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, declarou que vai ficar neutro no Rio — seu irmão, o deputado Samuel Malafaia (DEM-RJ), já declarou apoio a Paes — e agora está concentrado em produzir vídeos contra Guilherme Boulos. A união dos líderes evangélicos contra o candidato do PSOL reflete a ojeriza às posições do partido sobre gênero, a descriminalização das drogas e do aborto.
Sem Russomanno na disputa, a oposição a Boulos consolidou o apoio a Covas. O atual prefeito tem o apoio das principais denominações, como a Assembleia de Deus Ministério Belém e Ministério Madureira, além de avançar na base da Universal, que estava com o candidato do Republicanos. Levantamento do Datafolha anterior ao primeiro turno já apontava uma liderança de Covas no segmento, enquanto Boulos ficou apenas em 5º.
A bancada de vereadores evangélicos na Câmara também pesa a favor do tucano. Dos 11 vereadores, ao menos oito fazem parte da sua base. O principal é o presidente da Casa, Eduardo Tuma (PSDB), que abriu caminho para Covas entre pastores. A gestão já fez gestos ao grupo ao longo da pandemia, ao permitir o funcionamento das igrejas, desde que respeitassem uma série de protocolos sanitários. Além disso, no começo do ano, o prefeito aprovou uma resolução que facilita isenção de IPTU para templos religiosos. (Colaborou Alice Cravo). Fonte: https://oglobo.globo.com