Dom Paulo Mendes Peixoto, Arcebispo de Uberaba
Uma grande parte do povo do Triângulo Mineiro, em agosto, cultua Nossa Senhora da Abadia, com uma devoção popular muito consistente e arraigada nos fatos da tradição católica. Neste ano está coincidindo com o momento agitado das eleições municipais que se aproximam. Momento muito difícil, porque ninguém tem a chamada “estrela na testa” para confirmar sua identidade de vida.
As marcas políticas perpassam por todos os tempos da história. Não foi diferente nos relatos bíblicos no período de vida da Mãe de Jesus Cristo, que tem entre nós o título de Nossa Senhora da Abadia. Ela viveu no governo do rei Herodes, tendo que fugir para o Egito, juntamente com José, na defesa do Filho, politicamente perseguido pelas arbitrariedades e politicagem do rei.
Mas o devoto de Nossa Senhora da Abadia, além de ser cristão, ele é cidadão. Nas palavras do Papa Francisco, os leigos e as leigas cristãos devem trabalhar na política, porque ela é uma das formas mais altas da prática da caridade, principalmente por realizar o bem comum. O Papa diz que a política está suja porque os cristãos não querem se envolver com ela, e simplesmente se omitem.
A paz é fruto de uma ação política dentro dos parâmetros do Evangelho, de honestidade e justiça. Não é hora de jogar a culpa nos outros pelos erros cometidos, mas de pensar o que estamos fazendo para que o caminho seja diferente. Não basta pedir a intercessão de Nossa Senhora da Abadia. A mudança vai depender da autenticidade de cada cidadão na hora de escolher e votar no seu candidato.
Mesmo com todo o progresso do Brasil dos últimos tempos, parece que os nossos sonhos estão frustrados. Perdemos a confiança nos nossos representantes. Mas teremos que escolher outros, porque as eleições municipais estão aí. Será que vamos continuar errando, assumindo as consequências de uma escolha mal feita, muitas vezes realizada com irresponsabilidade e sem critério de discernimento?
Jesus entendia o poder como serviço. Todo serviço em benefício do outro é uma ação política, porque é a realização do bem comum. A visita de Maria a Isabel foi um ato político, um ato de solidariedade, com um único objetivo, o bem de sua prima Isabel. A política hoje se transformou num poder-profissão, tendo como meta principal o bem próprio, acima do bem comum para todos.
Fonte: http://www.cnbb.org.br