Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita e Jornalista.
Convento do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. 4 de feveriro-2017.
A sua história não é apenas de glória e poder
Mas também de morte do seu amado caminhoneiro.
Ela não cruzou os braços e sempre lutou para sobreviver
Fazendo da viuvez uma defesa da vida do seu primeiro filho.
O abraço fraterno nos pobres não era campanha política
Mas uma recordação da sua família de 11 irmãos.
Ela enxugava as lágrimas das crianças não para ficar bonita na foto
Mas para recordar as lágrimas do cansaço aos 9 anos no trabalho diário.
Ela defendia a dignidade das trabalhadoras não para ganhar votos
Mas para recordar que também ela foi operária nos seus 19 anos.
Ela era firme em suas convicções e ideais políticos
Sem jamais perder a ternura da utopia do novo dia.
Não a conheci pessoalmente
Mas ela conheceu a nós, brasileiros e brasileiras.
Não tive o privilégio em dar um aperto de mão
Mas ela acariciou as mãos calejadas do povo.
Não lutei contra a ditadura Militar e suas mazelas
Mas pelo Brasil ela gritou contra as noites escuras do medo.
Não conheci o poder e seus encantos
Mas ela fez do poder uma nova vida para os pobres.
Não subi na rampa do Planalto
Mas ela ajudou os pobres a subir nas rampas da vida.
Não tenho um presidente na família
Mas ela fez da presidência um novo olhar para os excluídos.
Não fui denunciado ou injuriado
Mas ela viveu de perto as Bem-Aventuranças de Jesus.
Não fui discriminado ou renegado
Mas ela ouviu horrores contra um nordestino e operário.
Não conheci Herodes ou Pôncio Pilatos
Mas ela viu muitos traidores lavar as mãos.
Ela não foi perfeita, santa ou milagrosa
Mas fez das relações humanitárias um grande milagre.
Ela não foi uma luz ou exemplo de perfeição
Mas fez das limitações humanas um caminho de luz.
Ela não foi filha de políticos famosos ou famílias tradicionais
Mas de pequenos agricultores que sonharam com os pés no chão.
Marisa... Seu nome é Brasil, seu nome é utopia.