No último encontro do primeiro e muito intenso dia no Chile (cinco compromissos e cinco discursos), o Papa Francisco encontrou-se brevemente, na Catedral de Santiago do Chile, com os bispos do país. Uma breve saudação, um encontro quase fugaz, que se transforma na ocasião para chamar as hierarquias a não cair no clericalismo e a se considerar parte do Povo de Deus, sem tratar os leigos como "servos" que devem "repetir como papagaios" o que dizem os bispos e os sacerdotes. A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 17-01-2018. A tradução é de André Langer.

No início do encontro, o Papa saudou o bispo mais idoso do mundo, Bernardino Piñera Carvallo, de 102 anos, que participou como padre conciliar das quatro sessões do Concílio Vaticano II.

Francisco enfatizou a importância da paternidade do bispo com o seu presbitério: "Uma paternidade que não é nem paternalismo nem abuso de autoridade. É um presente. Fiquem perto dos seus padres ao estilo de São José".

Depois convidou para recuperar a consciência de ser parte do povo: "Um dos problemas que as nossas sociedades enfrentam todos os dias é o sentimento de ser órfãos, ou melhor, sentir que não pertencemos a ninguém. Esse sentimento "pós-moderno" pode penetrar em nós e no nosso clero; então, começamos a pensar que não pertencemos a ninguém, esquecemos que somos parte do santo povo fiel de Deus e que a Igreja não é e nunca será uma elite de consagrados, sacerdotes ou bispos. Não poderemos sustentar nossa vida, nossa vocação ou ministério sem esta consciência de ser povo".

A ausência desta consciência "de pertencer ao povo de Deus como servos e não como patrões" – acrescentou o Pontífice ­– "pode nos levar a uma das tentações que mais prejudicam o dinamismo missionário que somos chamados a promover: o clericalismo, que é uma caricatura da vocação recebida".

"A falta de consciência do fato de que a missão é de toda a Igreja, e não do sacerdote ou do bispo" – disse Bergoglio –, "limita o horizonte e, o que é pior, limita todas as iniciativas que o Espírito pode suscitar no meio de nós. Digamos claramente: os leigos não são nossos servos nem nossos funcionários. Eles não devem repetir como 'papagaios' o que dizemos".

"Vigiemos, por favor, contra esta tentação, especialmente nos seminários e em todo o processo de formação – exortou Francisco. Os seminários devem colocar o acento no fato de que os futuros sacerdotes sejam capazes de servir o santo povo fiel de Deus, reconhecendo a diversidade de culturas e renunciando à tentação de qualquer forma de clericalismo. O sacerdote é ministro de Cristo, que é o protagonista que se faz presente em todo o povo de Deus".

"Os sacerdotes do futuro – concluiu – devem formar-se olhando para o futuro: seu ministério se desenvolverá de um modo secularizado e, portanto, cabe a nós pensar como prepará-los para desenvolver sua missão nesse cenário concreto, e não em nossos "mundos ou estados ideais". Uma missão que se dá em união fraterna com todo o povo de Deus. Ombro a ombro, dando impulso e estimulando o laicato em um clima de discernimento e sinodalidade, duas características fundamentais do sacerdote de amanhã. Não ao clericalismo e a mundos ideais que entram apenas em nossos esquemas, mas que não tocam a vida de ninguém". Fonte: http://www.ihu.unisinos.br