Em meio à escalada de violência pela qual passa o país, a Igreja no Brasil lançou recentemente a Campanha da Fraternidade 2018 com o tema “Fraternidade e Superação da Violência”. O fato é que a temática foi escolhida ainda em 2016, quando o Brasil teve recordes de mortes violentas, como homicídios e latrocínios. Foram cerca de 62 mil vítimas, o equivalente a 168 por dia, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Em 2017, os dados não relevaram estatísticas diferentes, a não ser o aumento no número de assassinatos, divulgados pela Secretaria de Segurança Pública. No primeiro semestre foram cerca de 1800 homicídios a mais do que no mesmo período em 2016, indicando uma severa crise na segurança pública do país. Tal crise foi vivenciada já no início de 2018, após a onda de violência registrada no Estado do Rio de Janeiro, no período do carnaval. Houve arrastões, assaltos, roubos, além do registro de mortes.

Após a série de ataques, o presidente Michel Temer decretou intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. Com a medida as Forças Armadas assumem a responsabilidade do comando das Polícias Militar e Civil no Estado. A decisão passa pelo crivo do Congresso Nacional. Segundo o arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta, o decreto é uma nova tentativa de fazer com que a ordem e a segurança aconteçam no estado.

 “Claro que isso vai passar ainda pelo Congresso Nacional, pela aprovação do Senado e da Câmara, como é normal quando é algo relativo à Constituição. Dessa vez, será de maneira um pouco diferenciada. Se até agora temos a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) – medida que ocorre em casos em que há o esgotamento das forças tradicionais de segurança pública, em graves situações de perturbação da ordem –, com a atuação das Forças Armadas, a partir de agora teremos um interventor na segurança pública e todas as questões estaduais estarão sujeitas a essa intervenção, afirma dom Orani.

O cardeal espera que a medida seja uma renovação dos vários componentes do militarismo e estima que a mesma ajude às forças que não dependem do estado para que todos trabalhem em conjunto para que se tenha “dias melhores, paz e liberdade de ir e vir na cidade”. “Esperamos que seja um momento especial, que muitas questões sejam resolvidas, questões essas que já estão se acumulando há anos. Creio que essas tentativas de intervenção já existiram há muito tempo, seja através das invasões nas comunidades ou com o GLO que já está presente. Porém, vendo as coisas piorarem cada vez mais, essa é uma atitude, recente, nova e extraordinária”, garante o bispo.

Superação da violência

Na busca de caminhos para a Superação da Violência, tema da CF 2018, dom Orani lançou uma carta pastoral, na qual fala a todos que estão preocupados com a violência e buscam soluções para o problema. No texto o bispo conclama a todos, especialmente os cariocas, para que se unam no tempo quaresmal à Igreja e em todo o Brasil, para trabalhar a favor da superação da violência.

Na carta, dom Orani afirma que o enfrentamento da violência é feito através de vários caminhos. O primeiro deles, segundo o bispo, é a tomada de consciência de que a violência não se encontra apenas fora de “nós”. Ele afirma que a mesma já tomou conta de cada pessoa. O segundo caminho, ainda de acordo com o bispo, seria a denúncia de todas as formas de violência, suas causas e consequências. “Não há como calar. Não há como manter-se afastado das vítimas, consolando-se com o fato de a violência não ter nos atingido. Se um irmão sofre, todos sofrem com ele, pois nós todos, lembra-nos o lema da Campanha da Fraternidade deste ano, somos irmãos”, enfatiza. Fonte: http://cnbb.net.br