Irmã Maria Elizabeth da Trindade (Elizabeth Fátima Daniel) Carmelo São José, Passos (MG), BRASIL.

(Este trabalho contou com a preciosa colaboração  de Irmã Maria Madalena da Cruz, do Carmelo de Brasília, e Irmã Maristella do Espírito Santo, do Carmelo de Montes Claros, ambos Carmelos da Associação São José, no Brasil)

SOLIDARIEDADE: REFAZER O RELACIONAMENTO HUMANO   

A solidariedade é algo muito próprio de nosso carisma. Esta palavra que vem do latim “Solidare” e significa solidificar, é para nós um impulso a um ideal necessário e urgente na humanidade atual e onde exista uma comunidade. Somos relação, nascemos de uma relação e somos chamados a uma gama de relacionamentos, por isso devemos aprender a nos relacionar, pois é na relação que vão se solidificando os valores essenciais da vida.

Se isto acontece inevitavelmente com cada pessoa, parece que a nós, onde tocou a graça de um chamado a uma comunidade como monjas carmelitas contemplativas, estes relacionamentos se revestem de uma essência que ilumina todo o sentido de nossa vida. É o mandamento do amor, amai-vos uns aos outros, vendo em nossas Irmãs o rosto concreto diante do qual devemos manifestar esse amor, elas são o nosso “próximo mais próximo”. Os nossos relacionamentos se fazem e se refazem neste Amor com que Deus nos amou e “nos juntou aqui”! Pois, peculiarmente, por vivermos sempre num mesmo mosteiro com as mesmas Irmãs, temos um vasto terreno para, na solidariedade, refazermos continuamente esses relacionamentos. “Todas hão de se amar, todas hão de se querer, todas hão de se ajudar”, é este o ideal no qual se constrói e se reconstrói a comunidade.

            Aqui as margens de erros, de fragilidades, de pecados, de diferenças existem e têm que nos levar a esta solidariedade umas com as outras. Isto requer duas atitudes importantes:

- acreditar na importância do relacionamento;

- ser solidárias e misericordiosas como Cristo foi conosco descendo às nossas fraquezas.

Como construir e refazer os relacionamentos dentro da comunidade?

  • Trabalhando na formação para o diálogo;
  • Criando ambiente de amor que gere confiança e liberdade para sermos quem somos, conhecer a nós mesmas e às outras, valorizando seus dons e fazendo-os frutificar, sem nunca desistir diante das dificuldades dos relacionamentos, nem deixar interromper nem romper o diálogo;
  • Exercitando a paciência e o sentido do rezar juntas diante do que não está em nossas mãos resolver;
  • Protegendo e defendendo o andamento de todo o grupo diante dos problemas.

Sentimos nascer em nossa comunidade, como algo que quase não nos damos conta, a maturidade de acolher o outro como ele é e uma preocupação recíproca de sermos família, de ver que a outra é verdadeiramente minha irmã. Isto torna sólida a Comunidade. Se não damos importância aos nossos relacionamentos e deixamos, mesmo dentro de uma vida claustral, que nossas Irmãs se isolem, que nossas Irmãs não frutifiquem seus dons a serviço da comunidade, que nossas Irmãs não tenham direito de errar e fazer a experiência do perdão e do recomeçar, podemos perder a sensibilidade diante da enfermidade, da crise, do trauma que certamente encontramos dentro de nossas comunidades. Assim por falta de solidariedade nos relacionamentos podemos matar o espírito em nome da lei.

            Nisto abrimos caminho para seguirmos o Mestre no amor: sentindo-nos amadas e amando como somos amadas! “É necessário aos que servem a Deus, apoiarem-se mutuamente para irem em frente.”[1]  Este apoio mútuo tem seu alicerce no conhecimento mútuo. É a partir daí que se constrói o edifício do verdadeiro amor, pois se não nos deixamos conhecer - quem somos e como somos - como damos ao outro a chance de amar-nos? Como amarmos o que não conhecemos?  Isto fez Jesus quando se encarnou, quis descer até nós para ter um encontro conosco no profundo de nossa miséria, não veio encontrar-nos somente nos nossos dons e talentos, mas nos nossos pecados; veio para aqueles que precisam de médico;  e aí refaz toda a pessoa, refazendo a saúde do corpo e da alma, sem deixar de acrescentar como dom maior a “restauração do relacionamento com Deus”. Nisto temos luz e caminho a imitar o Mestre, descer às fraquezas de nossas Irmãs para que, refazendo nossos relacionamentos, possamos experimentar a essência do verdadeiro amor.

Como construir e refazer os relacionamentos fora da comunidade?

            Toda a mística e profecia de nossa vida contemplativa, ou seja, a oração de amizade e intimidade e o anúncio desta união com Deus, refulgirão de nossos claustros quando se puder dizer de nós: “vede como se amam!” A partir de nosso testemunho estaremos dando uma boa contribuição à solidariedade, mas também podemos criar meios de refazer relacionamentos extra-muros através do aconselhamento que efetuamos em nossos atendimentos, cartas e outros meios que o Senhor pode nos proporcionar, sem ferir o que é específico de nossa vocação.

*II-Congresso ALACAR. Tema:  Mística e Profecia no Carmelo. BOGOTÁ, COLOMBIA. OUTUBRO 2009- Na experiência e na vivência das monjas, por Irmã Maria Elizabeth da Trindade (Elizabeth Fátima Daniel) Carmelo São José, Passos (MG), BRASIL

[1] V 7,22