Católicos rejeitam a afirmação dos bispos de que padres gays são uma causa de abuso sexual
Comentários recentes de vários bispos norte-americanos que tentaram ligar a homossexualidade ao abuso sexual cometido pelo clero. Apresentamos comentários de católicos que ou contrariam as afirmações desses bispos ou que ofereceram uma outra avaliação. A reportagem é de Robert Shine, publicada por New Ways Ministry, 04-09-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Duas vozes deram respostas imediatas à carta do bispo de Madison, Robert Morlino, na qual disse que os padres gays estão "causando grande devastação na vinha do Senhor", segundo o National Catholic Reporter.
Todd Salzman, teólogo da Creighton University em Omaha, rejeitou as tentativas de associar a identidade sexual e o abuso, dizendo que tais alegações "se desviaram fundamentalmente da questão do poder e das estruturas de poder na igreja, e o abuso de poder que requer uma reforma fundamental". A questão principal, disse ele, é o "pecado estrutural do abuso de poder", não a ética sexual.
Marianne Duddy-Burke, diretora executiva da DignityUSA, chamou essa associação de "uma tentativa repugnante de reforçar a atitude da igreja institucional de lavar as mãos sobre o abuso sexual de crianças".
Para Duddy-Buker, essa tentativa vem de funcionários da Igreja indispostos a "assumir qualquer responsabilidade por um problema que está sobre suas cabeças."
O padre James Martin, S.J., autor do livro sobre questões LGBT na Igreja Building a Bridge (Construindo uma Ponte, em tradução livre), escreveu a respeito do tema dos padres gays para a America Magazine. Martin reconheceu que, seguindo-se as novas revelações sobre abuso sexual, os católicos "têm o direito de estar zangados", mas escreveu: "a intensidade do ódio e o nível de raiva direcionados aos padres gays não tem precedentes em minha memória". Martincontinuou:
"Este ódio atualmente está sendo instigado por alguns líderes influentes e comentaristas da igreja, se não for controlado, nos levará a um lugar de grande escuridão, caracterizado por um ódio crescente contra indivíduos inocentes, a condenação de um grupo inteiro de pessoas e uma distração dos verdadeiros problemas latentes a esta crise de abuso sexual."
"Há muitas coisas que precisam ser abordadas quando se trata de abuso sexual por parte do clero... O que não é necessário é a demonização dos padres gays. O que não é necessário é mais ódio."
Francis DeBernardo, diretor executivo do New Ways Ministry, desafiou as políticas do Vaticano que impediriam os homossexuais de entrar no seminário. Disse ele ao Crux:
"Curiosamente, o que estamos descobrindo é que essa política encoraja as pessoas a mentirem... Se um homem se sente chamado ao sacerdócio, ele racionalizará que não deveria admitir sua sexualidade... Os líderes institucionais querem promover uma mensagem de que homens gays não deveriam existir no sacerdócio... Então, eles não oferecem exemplos saudáveis e santos de padres gays que vivem seu celibato de maneira efetiva."
Durante uma coletiva de imprensa no recente Encontro Mundial das Famílias na Irlanda, DeBernardo perguntou num painel composto por um sobrevivente de abuso e três especialistas na área o que eles pensaram da hipótese de que os padres gays eram a causa do abuso. Todos os quatro painelistas condenaram essa teoria.
Em um editorial sobre como os líderes da Igreja podem responder à crise dos abusos sexuais, os editores do National Catholic Reporter se dirigiram ao tratamento dos líderes da Igreja em relação à homossexualidade:
"[...] insistimos que os bispos, os líderes da igreja, recusem e refutem o argumento que surge daqueles que afirmam que a homossexualidade no sacerdócio está na raiz do problema do abuso sexual. O fato - e estudos estabeleceram o fato - é que o ataque a crianças dentro da estrutura da igreja não é mais produto da cultura gay do que o ataque a crianças dentro das famílias, onde a maioria ocorre, é produto da cultura heterossexual. O problema é uma doença, e a mais notável das ofensas à comunidade católica foi a estratégia deliberada dos bispos para encobrir esses crimes impensáveis."
Nathan Schneider, escrevendo na America Magazine, não apenas rejeitou falsas caracterizações de padres gays, mas também afirma positivamente o papel que as pessoas LGBT desempenharam em sua vida de fé: "[...] inúmeras vezes, as pessoas que salvaram minha fé quando ela estava à beira do abismo eram pessoas LGBT. Suspeito que isso não seja um acidente. Não posso ter certeza, mas creio que tenha sido a experiência de marginalização e sua humanidade contra isso que me ajudou a ver onde Deus está... As pessoas que salvaram minha fé quando ela estava à beira do abismo eram pessoas LGBT."
Schneider acrescentou: "Em certo sentido, há alguma verdade que o problema do abuso tem a ver com um problema de homossexualidade. É o problema de uma homossexualidade reprimida, negativista, imatura que se descobriu um pouco depois do Concílio Vaticano II, mas não foi capaz de ir além disso."
A questão dos homens gays no sacerdócio precisa ser resolvida em breve para que os líderes da igreja possam se concentrar nas causas reais da crise dos abusos e para que nenhum dano adicional chegue às pessoas LGBT. É por isso que é vital que os católicos falem publicamente sobre sua apreciação e gratidão pelos padres gays, contrapondo onde e como for possível as narrativas homofóbicas promovidas por Morlino e seus pares. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br