As histórias de quem aceitou sua sexualidade nunca envelhecem. São como joias: envolvem superar medos, lidar com a rejeição, às vezes se surpreender com a aceitação e sentir a liberdade de ser autêntico. Essas são situações que todos enfrentam, não importa a idade, identidade ou orientação sexual. Por isso é sempre bom ouvir as histórias de quem saiu do armário.
Damian Torres-Botello, SJ, membro do departamento de artes cênicas da Universidade de Detroit-Mercy, recentemente compartilhou a sua com o jornal estudantil da faculdade de Michigan, o The Varsity. A entrevista aconteceu depois de ele compartilhá-la num evento organizado pelo grupo acadêmico Rainbow Task Force. A reportagem é de Francis DeBernardo, publicada por New Ways Ministry, 17-11-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Ele conta que começou a ter consciência de sua identidade na sexta série, quando viu um programa sobre homossexualidade da apresentadora Ricki Lake na televisão e percebeu que se encaixava na descrição.
Sua primeira reação foi esconder e torcer para mudar: "Ele não conseguia se aceitar plenamente. Dizia que já era o suficiente ter de lidar com o fato de ser uma criança pobre, gordinha, negra numa escola católica de brancos de classe alta em Kansas City, no estado de Missouri.”
"Quando era criança, apesar de saber o que sentia, ele só queria que esses sentimentos fossem embora.”
"'Rezei uma novena para São Judas Tadeu, padroeiro das causas impossíveis, para não ser gay. Tentei rezar para mandar a homossexualidade embora'"', conta.
Revelou também que se preparou por muito tempo para contar aos pais, sua família que o criou com tanto amor. Mas foi expulso da casa quando contou. Depois, os pais "voltaram a se aproximar", embora ainda não apoiem totalmente.
Sua comunidade jesuíta, no entanto, apoia. Em 2015, seus superiores permitiram que ele compartilhasse sua identidade sexual. Torres-Botello refletiu sobre o quanto sua fé e sua sexualidade formam uma intersecção: "'Há um mal-entendido em certos círculos que dizem que ser gay quer dizer ser sexualmente ativo, mas eu não sou'”, observa. 'Os homens e mulheres católicos fazem três votos, e um deles é a castidade. Para conversar sobre identidade, é crucial saber como a pessoa se identifica.'"
“Embora sair do armário tenha sido importante para Torres-Botello, não é isso que o define”, revela. "'Sou muitas coisas. Ser gay é só mais uma dessas identidades', disse. 'Todos os aspectos do meu ser constroem minha fé, minha vida e o que eu amo. Sou um conjunto, não uma única peça.'"
Esta última frase diz tanto... Primeiro, seria ótimo se o arcebispo da Filadélfia Charles Chaput ouvisse essa declaração antes de dizer ao Sínodo sobre os jovens que as pessoas LGBT veem sua orientação/identidade como sua principal identificação. Todos são feitos de uma variedade de identidades e colocam uma ou outra em primeiro plano dependendo das circunstâncias.
Respeitar essas identidades é importante porque, como afirma Torres-Botello, "todos os aspectos do meu ser constroem minha fé, minha vida e o que eu amo”. Não podemos esquecer a noção profundamente inaciana de que Deus se encontra em toda parte, em toda a criação. Quando se rejeita as pessoas LGBT, a mensagem é que em alguns aspectos da vida da pessoa Deus não existe. Um grande equívoco. Somos a soma de todos os nossos aspectos, experiências, ideias. Não existe nada sem Deus.
Por fim, a afirmação “Sou um conjunto, não uma única peça” resume lindamente a realidade espiritual de toda vida humana. Somos um conjunto. Nenhuma parte de nós é uma peça isolada, e nenhuma pessoa é um enigma que precisa ser decifrado. Todos nós somos um mistério. Acho que um dos motivos por que as pessoas LGBT desafiam alguns religiosos é a negação do mistério que existe em suas vidas. As pessoas ficam mais felizes e confortáveis com respostas diretas e compartimentos organizados. O mistério transcende essas gavetinhas. Ele nos mostra que o todo é maior do que o que pensava nossa imaginação míope.
Damian Torres-Botello é um presente para os funcionários e alunos da Universidade de Detroit-Mercy! E também para a Igreja. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br