Frei Carlos Mesters, O. Carm

Os doze apóstolos e as outras pessoas, homens e mulheres, que seguiam a Jesus não eram santas nem perfeitas. Eram pessoas comuns, como todos nós. Tinham suas virtudes e seus defeitos. Os evangelhos informam muito pouco sobre o jeito e o caráter de cada um e cada uma. Mas o pouco que informam é motivo de consolo para nós. Eis o que se pode afirmar a respeito de algumas destas pessoas chamadas por Jesus:

Pedro:

Era uma pessoa generosa e entusiasta (Mc 14,29.31; Mt 14,28-29), mas na hora do perigo e da decisão, o seu coração encolhia e ele voltava atrás (Mt 14,30; Mc 14,66-72).

Tiago e João:

Estavam dispostos a sofrer com Jesus (Mc 10,39), mas eram muito violentos (Lc 9,54). Jesus os chamou “filhos do trovão” (Mc 3,17).

Filipe:

Tinha jeito de colocar os outros em contato com Jesus (Jo 1,45-46), mas não era prá­tico em resolver os problemas (Jo 6,5-7; 12,20-22). Jesus chegou a perder a paciência com ele: “Mas Filipe, tanto tempo que estou com vocês, e você ainda não me conhece?” (Jo 14,8-9)

André:

Era uma pessoa muito prática. Foi ele que encontrou o menino com cinco pães e dois peixes (Jo 6,8-9). É a ele que Filipe se dirige para resolver o caso dos gregos que queriam ver a Jesus (Jo 12,20-22), e é André que chama Pedro para encontrar-se com Jesus (Jo 1,40-43).

Tomé

Era cabeçudo, capaz de sustentar a sua opinião, uma semana inteira, contra o testemunho de todos os outros (Jo 20,24-25). Mas era humilde. Quando viu que estava errado, não teve medo de reconhecer sua falta (Jo 20,26-28).

Natanael:

Era bairrista e não podia admitir que algo de bom viesse de Nazaré (Jo 1,46). Este Natanael aparece só no evangelho de João. Alguns o identificam com o Bartolomeu que aparece na lista do evangelho de Marcos (Mc 3,18).

Mateus

Era um publicano, pessoa excluída pela religião dos judeus (Mt 9,9). Sabemos pouco da vida dele. No evangelho de Marcos e de Lucas ele é chamado Levi (Mc 2,14; Lc 5,27). O nome Ma­teus significa Dom de Deus. Os excluídos são um "mateus" (dom de Deus), para a comunidade.

Simão:

Era um zelote (Mc 3,18). Dele só sabemos o nome e o apelido. Ele era zelote, isto é, fazia parte do movimento popular da época. (Veja página 4 de "Jesus frente à realidade do seu povo").

Judas

Guardava o dinheiro do grupo (Jo 12,6; 13,29). Tornou-se o traidor de Jesus (Jo 13,26-27). O nome completo era Judas Iscariot (Mc 3,19; Mt 10,4). Alguns acham que ele era de Kariot, um lugarejo que ficava na Judéia. Judas seria o único judeu num grupo de onze galileus. Setenta anos depois da traição, no fim do primeiro século, o autor do evangelho de João ainda tem raiva de Judas e o chama de "ladrão" (Jo 12,4-6).

Nicodemos

Era membro do Sinédrio, isto é, do Supremo Tribunal da época. Homem importante. Ele aceita a mensagem de Jesus, mas não tem coragem de manifestá-lo publicamente (Jo 3,1).

Joana e Susana

Era a esposa de Cusa, procurador de Herodes, que governava a Galileia. Junto com Susana e outras mulheres, ela seguia a Jesus e o servia com seus bens (Lc 8,2-3).

Maria Madalena

Era nascida da cidade de Magdala. Daí o nome Maria Ma(g)dalena. Jesus a curou de sete demô­nios (Lc 8,2). Ela foi uma das maiores amigas de Jesus e o seguiu até ao pé da Cruz (Mc 15,40). Depois da páscoa, foi ela que recebeu de Jesus a ordenação de anunciar aos outros a Boa Nova da Ressurreição (Jo 20,17; Mt 28,10).

E muitas outras e outros....

A maior parte dos que seguem Jesus para formar comunidade com ele eram pessoas simples, sem muita instrução (At 4,13; Jo 7,15). Entre eles havia homens e mulheres, pais e mães de família (Lc 8,2-3; Mc 15,40s). Alguns eram pescadores (Mc 1,16.19). Outros, artesãos e agricultores. Mateus era publicano (Mt 9,9). Simão, do movimento popular zelote (Mc 3,18). É possível que alguns tenham sido do grupo dos revoltosos, pois carregavam armas e tinham atitudes muito violentas (Mt 26,51; Lc 9,54; 22,49-51). Outros ainda tinham sido curados por Jesus de doenças ou libertados de algum mau espírito (Lc 8,2).

  1. Havia também alguns mais ricos: Joana (Lc 8,3), Nicodemos (Jo 3,1-2), José de Arimatéia (Jo 19,38), Zaqueu (Lc 19,5-10) e outros. Estes sentiram na carne o que quer dizer romper com o sistema e aderir a Jesus. Nicodemos, ao defender Jesus no tribunal, foi vaiado (Jo 7,50-52). José de Arimatéia, ao pedir o corpo de Jesus, correu o risco de ser acusado como inimigo dos romanos e dos judeus (Mc 15,42-45; Lc 23,50-52). Zaqueu devolveu quatro vezes o que roubou e deu a metade de seus bens aos pobres (Lc 19,8). Todos eles, tanto os pobres como os poucos ricos, podiam dizer com Pedro: "Nós deixamos tudo e te seguimos!" (Mt 19,27). Todos eles tiveram que fazer a "mudança de vida", a "conversão" que Jesus pedia (Mc 1,15).
  2. Jesus passou uma noite inteira em oração antes de fazer a escolha definitiva dos doze apóstolos (Lc 6,12-16). Rezou para saber a quem escolher. E escolheu as pessoas cujos retratos, conserva­dos nos evangelhos, acabamos de olhar. É com este grupo que Jesus começou a maior revolução da história do Ocidente! Não escolheu a elite, não escolheu gente formada e estudada, de altas qualidades. Escolheu pessoas que se sentiam atraídas pela mensagem de vida que ele trazia. Tem esperança para nós da família carmelitana!