Dom Otacilio Ferreira de Lacerda, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, convida todos a refletirem sobre a preservação de nossa Casa Comum. A poesia e a dor dão o tom às palavras de dom Otacílio instigadas pelas tragédias de Brumadinho, de Bento Rodrigues e tantas outras que matam as pessoas e a natureza. Mas a esperança da conversão prevalece no convite a acolhermos a missão confiada por Deus: recriar o paraíso.
Ela está gritando
“Com efeito, sabemos que toda a criação, até o presente, está gemendo como que em dores de parto…” (Rm 8,22)
Posso ouvir seus gritos, porque sugada, pisoteada.
Impossível secar suas lágrimas, porque são como um mar.
Há que se ter um limite para ambição desmedida,
Sobretudo quando movida pelo interesse insano
Da produção, consumo, venda e lucro sem fim.
Posso ouvir seus gemidos, clamores subindo aos céus;
Ela não suporta nossa arrogância e falta de escrúpulos,
Com exploração abismal, graves consequências,
Muitas vezes, pagas por vidas de pobres e indefesos,
Que se sobrevivendo, sem direitos sagrados garantidos.
Posso ouvir seus suspiros profundos de esperança,
Como que dizendo: “convertam-se, enquanto é tempo!”
Retomemos o projeto do Criador no Paraíso:
“Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra” (Gn 1,18),
Desde que “dominar” não seja sinônimo de “destruição”!
Ela, nossa “casa comum”, Planeta Terra, apesar do que façamos,
Por desígnio divino, nos sacia, como um milagre, todos os dias,
Como rezamos ontem, hoje e sempre com o Salmista:
“Eu o sustentaria com a fina flor do trigo e
saciaria com o mel que escorre da rocha” (Sl 81,16).
Ela está gritando, agonizando…
Urge rever com ela nossa postura.
Amar e cuidar de nossa casa comum,
Recriar o Paraíso, sem adiamento,
Missão que Deus a nós confia. Amém.
*Referencial para a Região Episcopal Nossa Senhora Aparecida (Rensa)
Responsável pelo Vicariato Episcopal para a Ação Social. Fonte: http://arquidiocesebh.org.br