Depois de defender a própria mãe de um ataque do presidente Rodrigo Duterte, um bispo das Filipinas teve seu perfil no Facebook temporariamente suspenso. A reportagem é de Charles Collins, publicada em Crux, 07-04-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Há muito tempo, Dom Pablo Virgilio David, bispo de Kalookan, é um crítico da brutal campanha do presidente contra o tráfico de drogas, que grupos de direitos humanos dizem que levou a milhares de assassinatos extrajudiciais.
Duterte sempre repreendeu o bispo pelas críticas, chegando a ameaçá-lo com a decapitação em novembro do ano passado e insinuando que ele era um usuário de drogas que rouba as coletas das missas. Mais tarde, David confirmou que recebeu ameaças de morte anônimas após as declarações do presidente.
No dia 2 de abril, o presidente chamou David de “filho de uma prostituta” – um epíteto comum de Duterte, que ele também usou no passado para descrever o Papa Francisco e Barack Obama.
“Esse David, ele não faz nada além de reclamar”, disse o presidente. “Você sabe, se você for um padre e quiser me criticar – David, é melhor você ouvir, seu filho de uma prostituta –, saia do púlpito. Não use a sua religião.”
No dia seguinte, David postou uma homenagem à sua mãe, Bienvenida Siongco David, que morreu no ano 2000, em seu perfil pessoal no Facebook. “Ela é a mulher que o presidente do nosso país chamou de prostituta em seu discurso ontem. Ele me chamou de filho de uma prostituta por supostamente atacá-lo no púlpito da Igreja, o que eu nunca fiz. O púlpito nunca é para esse propósito. A menos, é claro, que ele pense que pedir o fim da violência e do assassinato extrajudicial na minha diocese equivale a atacá-lo”, escreveu o bispo.
David falou da fortaleza de sua mãe durante a ocupação japonesa na Segunda Guerra Mundial, do seu apoio à carreira de seu marido no serviço público e de seus esforços para cuidar de seus 13 filhos depois que ela ficou viúva aos 58 anos de idade.
“Ela conseguiu criar um sociólogo, um arquiteto/urbanista, dois advogados, um engenheiro civil, um corretor imobiliário, um banqueiro, um tecnólogo médico, um enfermeiro de cuidados intensivos, um bispo, um nutricionista, um dentista e um economista. Seus esforços não foram em vão; nenhum de seus filhos se tornou um fardo para o país”, continuou o bispo.
“A nossa família não espera que ninguém no governo dê a ela o reconhecimento por sua imensa contribuição na construção da nação. Mas também não esperamos que alguém insulte a sua memória e a chame de prostituta. ELA NÃO MERECE ISSO”, escreveu ele.
Na quinta-feira, o Facebook bloqueou a sua conta, acusando-o de “phishing” – ou seja, de tentar acessar os dados pessoais de uma pessoa por meios fraudulentos. “Eu fui bloqueado. Recebi alguns conselhos sobre como reativar a conta”, disse David ao CBCPNews, o serviço oficial de notícias da Conferência Episcopal.
O Facebook possui muitos sistemas antiphishing automatizados, e as contas podem ser bloqueadas temporariamente por diversos motivos, inclusive se um grande número de pessoas denunciar um usuário por cometer tal prática. Isso pode tornar o perfil de uma pessoa vulnerável a uma campanha coordenada de falsas denúncias de atividade de phishing.
O perfil do bispo foi restaurado mais tarde naquele dia.
Duterte tem estado em desacordo com a Igreja Católica do país desde antes de assumir o cargo em 2016. Duterte alegou ter sido abusado por um padre quando frequentava a Davao High School, uma instituição administrada pelos jesuítas, no fim dos anos 1950.
Em 24 de março, o presidente disse que seria “um mundo melhor” se todos os padres molestadores fossem “mortos hoje à noite”. No mesmo discurso, Duterte também chamou os bispos da nação de “filhos da puta”, que “servem aos ricos e à elite, aos donos de bancos e de outros negócios”.
Em dezembro, o presidente chegou a pedir que as pessoas “matem [os bispos], esses tolos não servem para nada. Tudo o que eles fazem é criticar”. Seu porta-voz disse que o presidente estava usando “hipérboles” e “faz certas declarações de efeito dramático”. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br