A liturgia deste domingo coloca no centro da nossa reflexão a figura de Jesus: quem é Ele e qual o impacto que a sua proposta de vida tem em nós? A Palavra de Deus que nos é proposta impele-nos a descobrir em Jesus o “messias” de Deus, que realiza a libertação dos homens através do amor e do dom da vida; e convida cada “cristão” à identificação com Cristo – isto é, a “tomar a cruz”, a fazer da própria vida um dom generoso aos outros.

O Evangelho confronta-nos com a pergunta de Jesus: “e vós, quem dizeis que Eu sou?” Paralelamente, apresenta o caminho messiânico de Jesus, não como um caminho de glória e de triunfos humanos, mas como um caminho de amor e de cruz. “Conhecer Jesus” é aderir a Ele e segui-l’O nesse caminho de entrega, de doação, de amor total.

A segunda leitura reforça a mensagem geral da liturgia deste domingo, insistindo que o cristão deve “revestir-se” de Jesus, renunciar ao egoísmo e ao orgulho e percorrer o caminho do amor e do dom da vida. Esse caminho faz dos crentes uma única família de irmãos, iguais em dignidade e herdeiros da vida em plenitude.

 

SEGUNDA LEITURA- Gal 3, 26-29

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas

Irmãos:
Todos vós sois filhos de Deus
pela fé em Jesus Cristo,
porque todos vós, que fostes baptizados em Cristo,
fostes revestidos de Cristo.
Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre,
não há homem nem mulher;
todos vós sois um só em Cristo Jesus.
Mas, se pertenceis a Cristo,
sois então descendência de Abraão,
herdeiros segundo a promessa.

 

MENSAGEM

Aos gálatas, tentados a voltar à escravidão da Lei, Paulo recorda a experiência libertadora que resultou da sua adesão a Cristo.

Pelo Batismo, os crentes foram “revestidos de Cristo” e tornaram-se “filhos de Deus”. Dizer que os crentes foram “revestidos de Cristo” significa que entre os batizados e Cristo se estabeleceu uma relação que não é apenas exterior, mas que toca o âmago da existência: pelo Baptismo, os cristãos assumiram a existência do próprio Cristo e tornaram-se, como Ele, pessoas que renunciaram à vida velha do egoísmo e do pecado, para viverem a vida nova da entrega a Deus e do amor aos irmãos.

Em todos os crentes circula, agora, a vida do próprio Cristo; essa vida veste-os completamente, da cabeça aos pés. A primeira consequência que daqui resulta é que os cristãos são livres: eles receberam de Cristo uma vida nova e não estão mais sujeitos à escravatura do egoísmo, do pecado e da morte.

A segunda consequência que daqui resulta é que os cristãos são iguais. Identificados com Cristo (porque todos – judeus e não judeus, homens e mulheres – foram revestidos da mesma vida), não há qualquer diferença ou discriminação quanto à raça, ou ao sexo; todos são “filhos”, com igual direito quanto à herança (todos são filhos do mesmo Pai e todos têm acesso, em Cristo, à mesma vida plena). A “salvação” que Cristo trouxe significa a igualdade fundamental de todos.

A questão é esta: depois de experimentar isto, os gálatas estarão dispostos a ser, outra vez, escravos?

 

ATUALIZAÇÃO

O cristão é, fundamentalmente, aquele que se “revestiu de Cristo”. Que significa isto, em concreto? Que assinamos um documento no qual nos comprometemos a viver como batizados? Que respeitamos apenas as leis e orientações da hierarquia? Que nos comprometemos somente a ir à missa ao domingo, a rezar o terço de vez em quando? Ou significa que assumimos o compromisso de viver como Cristo, de assumir os seus valores, de fazer da nossa vida um dom de amor, de nos entregarmos até à morte para construir um mundo de justiça e de paz para todos?

Para os judeus, contemporâneos de Jesus e de Paulo de Tarso, os pagãos e as mulheres eram gente discriminada. “Dou-te graças, Deus altíssimo – diz uma célebre oração rabínica – porque não me fizeste pagão, escravo ou mulher”. Paulo proclama, neste texto, que, a partir da nossa identificação com Cristo, toda a discriminação entre os homens e, sobretudo entre os cristãos, carece de sentido. A Igreja soube tirar as consequências deste fato? Como acolhemos os estrangeiros, os discriminados, os divorciados, os homossexuais, os drogados, as mulheres? Como filhos iguais do mesmo Deus, ou como irmãos “coitados”, que é preciso tolerar e tratar com caridade mas que não são iguais nem têm a mesma dignidade dos outros?

 

EVANGELHO – Lc 9,18-24: ATUALIZAÇÃO

 

- O Evangelho de hoje define a existência cristã como um “tomar a cruz” do amor, da doação, da entrega aos irmãos. Supõe uma existência vivida na simplicidade, no serviço humilde, na generosidade, no esquecimento de si para se fazer dom aos outros. É esse o “caminho” que eu procuro percorrer?

- Na sociedade em geral e na Igreja em particular, encontramos muitos cristãos para quem o prestígio, as honras, os postos elevados, os tronos, os títulos são uma espécie de droga de que não prescindem e a que não podem fugir. Frequentemente, servem-se dos carismas e usam as tarefas que lhe são confiadas para se auto-promover, gerando conflitos, rivalidades, ciúmes e mal-estar. À luz do “tomar a cruz e seguir Jesus”, que sentido é que isto fará? Como podemos, pessoal e comunitariamente, lidar com estas situações? Podemos tolerá-las – em nós ou nos outros? Como é possível usar bem os talentos que nos são confiados, sem nos deixarmos tentar pelo prestígio, pelo poder, pelas honras?

- Tem alguma importância, à luz do que Jesus aqui ensina, que a Igreja apareça em lugar proeminente nos acontecimentos sociais e mundanos e que exija tratamentos de privilégio?

- Quem é Jesus, para nós? É alguém que conhecemos das fórmulas do catecismo ou dos livros de teologia, sobre quem sabemos dizer coisas que aprendemos nos livros? Ou é alguém que está no centro da nossa existência, cujo “caminho” tem um real impacto no nosso dia a dia, cuja vida circula em nós e nos transforma, com quem dialogamos, com quem nos identificamos e a quem amamos?

-É na oração que eu procuro perceber a vontade de Deus e encontrar o caminho do amor e do dom da vida? Nos momentos das decisões importantes da minha
vida, sinto a necessidade de dialogar com Deus e de escutar o que Ele tem para me dizer?

*Leia a reflexão na íntegra. Clique no link- EVANGELHO DO DIA.