Esta festa já era celebrada em Jerusalém, no século IV. Chamava-se festa do encontro,hypapántè , em grego. Em 534, a festa estendeu-se a Constantinopla e, no tempo do Papa Sérgio, chegou a Roma e ao Ocidente. Em Roma, a festa incluía uma procissão até à Basílica de S. Maria Maior. No século X, começaram a benzer-se as velas.

José e Maria levam o Menino Jesus ao templo, oferecendo-o ao Pai. Como toda a oferta implica renúncia, a Apresentação do Senhor é já o começo do mistério do sofrimento redentor de Jesus, que atingirá o seu ponto culminante no Calvário. Maria e José unem-se à oferta do seu divino Filho estando a seu lado e colaborando, cada um a seu modo, na obra da Redenção.

 

Evangelho de São Lucas 2, 22-40: Interpelações para nós, hoje.


A Festa da “Apresentação do Senhor” coincide com a celebração do Dia da Vida Consagrada. Ao olhar para o mistério da consagração aqui expresso, os consagrados são convidados a revisitar os fundamentos da sua consagração, vivida no seguimento de Jesus, por amor do Reino.

Poderíamos dizer que se celebra hoje em toda a Igreja um singular “ofertório”, no qual os homens e as mulheres consagradas renovam espiritualmente o dom de si. Agindo desta forma, ajudam as comunidades eclesiais a crescer na dimensão oblativa que as constitui intimamente, as edifica e as estimula a testemunhar Jesus pelos caminhos do mundo.

A “apresentação do Senhor” no Templo de Jerusalém revela que, desde o início da sua caminhada entre os homens, Jesus escolheu um caminho de total fidelidade aos mandamentos e aos projetos do Pai. Ao oferecer-Se a Deus em oblação, ao ser “consagrado” ao Pai, Jesus manifesta a sua disponibilidade para cumprir fiel e incondicionalmente o plano salvador do Pai até às últimas consequências, até ao dom total da própria vida em favor dos homens.

O “ecce venio” de Jesus é o modelo da doação e da entrega de todos os consagrados, chamados a seguir Jesus mais de perto, numa oblação total a Deus e ao Reino. A vocação de consagrados concretiza-se na entrega de toda a existência nas mãos do Pai, na fidelidade absoluta à sua vontade e aos seus planos.

Que valor e que importância tem na sua vida o projeto de Deus? Procuram identificar a vontade de Deus e com ela conformar a sua vida, em total doação e entrega, ou deixam que sejam os seus projetos e esquemas pessoais a ditar as suas opções e as coordenadas da sua vida?

Jesus é-nos apresentado, neste texto, como “a salvação colocada ao alcance de todos os povos”, a “luz para se revelar às nações e a glória de Israel”, o messias com uma proposta de libertação para todos os homens.

Que eco tem esta “apresentação” de Jesus no coração dos consagrados? Jesus é, de fato, a luz que ilumina as suas vidas e que os conduz pelos caminhos do mundo? Ele é o caminho certo e inquestionável para a salvação, para a vida verdadeira e plena? É n’Ele que colocam a sua ânsia de libertação e de vida nova? Este Jesus aqui apresentado tem real impacto na sua vida, nas suas opções, nos passos que dão no seu caminho de consagração, ou é apenas uma figura decorativa de um certo cristianismo de fachada?

Simeão e Ana são, na cena evangélica que nos é proposta, figuras do Israel fiel, que foi preparado desde sempre para reconhecer e para acolher o messias de Deus. Na verdade, quando Jesus aparece, eles estão suficientemente despertos para reconhecer naquele bebê o messias libertador que todos esperavam e apresentam-n’O formalmente ao mundo.
Hoje, os consagrados – discípulos que acolheram Jesus como a sua luz e que aceitaram segui-l’O – têm a responsabilidade de O apresentar ao mundo e de O tornar uma proposta questionadora, libertadora, iluminadora, salvadora, para os homens nossos irmãos.

É isso que acontece? Através do seu anúncio – feito com palavras, com gestos, com atitudes, com a fidelidade aos votos religiosos – Jesus é apresentado ao mundo e questiona os homens seus irmãos?

Se tantos homens ignoram a “luz” libertadora que Jesus veio acender ou não se sentem interpelados pelo projeto de Jesus, a culpa não será, um pouco, de um certo imobilismo e instalação, de algum “cinzentismo” na vivência da fé, da forma pouco entusiasta como é testemunhada na Vida Consagrada?

A Vida Consagrada é chamada a refletir de maneira particular a luz de Cristo. Olhando as pessoas consagradas, que procuram viver ao estilo das Bem-aventuranças, os homens e mulheres do nosso tempo têm de ver o “fermento” de esperança para a humanidade, o “sal” que dá sabor ao mundo, uma “luz” que se acende na escuridão do mundo e que indica caminhos de verdade e de liberdade, a “porta” entreaberta para o Reino de Deus e para os “novos céus e a nova terra” que Deus quer apresentar à humanidade.

É preciso que os consagrados sejam luz e conforto para cada pessoa, velas acesas que ardem com o próprio amor de Cristo, luz que ilumina as sombras do mundo e que profeticamente anuncia a aurora de uma nova realidade.

É isso que acontece? O seu testemunho interpela positivamente os homens e mulheres que todos os dias com eles se cruzam nos caminhos do mundo e aponta-lhes a realidade do Reino?

Os desafios de Deus, os seus planos, revelam-se, de forma privilegiada, na Palavra de Deus…
Que importância é que a Palavra de Deus assume na vida dos cristãos e dos consagrados e das nossas comunidades cristãs e religiosas? Procuram viver na escuta da Palavra, numa progressiva sensibilidade à Palavra de Deus, a fim de discernir os desafios de Deus? Encontram tempo, individualmente e a nível comunitário, para se reunirem à volta da Palavra de Deus, para partilhar a Palavra de Deus, para se deixarem questionar pela Palavra de Deus?

Pobreza, castidade e obediência são as características distintivas do homem redimido, interiormente resgatado da escravidão do egoísmo.

Livres para amar, livres para servir: assim são os homens e as mulheres que renunciam a si mesmos pelo Reino dos Céus. Seguindo Cristo, crucificado e ressuscitado, os consagrados vivem esta liberdade como solidariedade, assumindo os pesos espirituais e materiais dos seus irmãos.

Os votos são assumidos pelos consagrados como elemento desta entrega total nas mãos de Deus – a exemplo de Cristo – para o serviço do Reino e da humanidade, ou são vistos como uma carga insuportável que os limita e os torna infelizes?

*Leia a reflexão na integra. Clique no link- EVANGELHO DO DIA.