Dom Murilo S.R. Krieger, scj - Administrador Apostólico de São Salvador da Bahia

 

É Páscoa! Cristo ressuscitou! Ele está vivo! Ele está nos dando uma nova oportunidade de construirmos a vida segundo o seu Evangelho. Não adianta procurarmos outros caminhos para sermos felizes. Só Ele, o Filho de Deus, o Salvador, será capaz de preencher os anseios de felicidade que sentimos em nosso coração.

Neste domingo de Páscoa Dom Murilo Krieger enviou aos padres da arquidiocese de São Salvador um homilia que, se eles quiserem, podem ler na Missa deste Domingo. Eis a íntegra do seu texto.

 

Caros irmãos,

caras irmãs em Jesus Cristo!

            Mesmo não podendo presidir esta celebração, quero entrar em sua casa e em seu coração neste Domingo da Páscoa. Desejo que esta minha mensagem seja um eco do que ouvimos nas três leituras que foram há pouco proclamadas: Cristo ressuscitou! Ele está vivo!

            O apóstolo Pedro, em Cesareia, disse isso de forma clara: “E nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez na terra dos judeus e em Jerusalém. Eles o mataram, pregando-o numa cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia!”

            O apóstolo Paulo, escrevendo aos Colossenses, acentuou: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus!”.

            E o evangelista João, que esteve com Pedro no sepulcro, em Jerusalém, na manhã da Páscoa, ao ver o túmulo vazio, testemunhou: “De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos”.

            Desde aquela manhã, pelos séculos afora, o anúncio que a Igreja faz, não só anualmente, mas dia por dia, é o mesmo: Jesus Cristo ressuscitou! Ele venceu o pecado e a morte! Verdadeiramente acontece o que ele prometeu em sua ascensão ao céu, ao partir para o Pai: “Eis que estarei convosco todos os dias, até a consumação do mundo!”

            Esse anúncio poderá soar estranho em meio à experiência que estamos vivendo. Ressurreição fala de vida, de vitória e de alegria! Ora, vivemos em uma situação que nunca havíamos imaginado que poderíamos viver. A pandemia do Covid-19 mudou os nossos planos, derrubou nossas certezas e nos está fazendo conhecer um número crescente de notícias tristes. Nossas relações foram interrompidas, o emprego de muitos está ameaçado e a necessidade de isolamento leva muitos à tristeza e depressão. Muitos se perguntam: O que está ocorrendo? O que não estão funcionando? O que devemos fazer? O que não devemos fazer? Quanto tempo isso durará? Quantos morrerão?

            Ao mesmo tempo, surpreendem-nos notícias e imagens que expressam solidariedade, amor e doação. Só na Itália, quase setenta sacerdotes faleceram por atenderem pessoas infectadas. Além disso, dezenas de médicos e profissionais da saúde morreram ou estão com a vida ameaçada. Voluntários socorrem necessitados. Multiplicam-se iniciativas para prestar ajuda a quem está sozinho. Mas as perguntas se renovam: O que está acontecendo? Por que isso? Será que Deus não está vendo aquilo que estamos vivendo?

            Na manhã da ressurreição, tanto as mulheres que foram ao túmulo de Jesus como os apóstolos Pedro e João, não viram nada de extraordinário. Viram apenas um túmulo vazio. Muito mais vazio, porém, estavam os seus corações. Depois disso, Jesus começou a aparecer a um e a outro discípulo; na tarde daquele domingo, apareceu aos apóstolos. Mesmo assim, não lhes foi fácil acreditar que Jesus havia ressuscitado. Tomé, inclusive, colocou uma condição para acreditar na ressurreição do Mestre: só acreditaria se pudesse colocar o seu dedo nas chagas de Cristo!  Quando, finalmente, os apóstolos e discípulos acreditaram que era mesmo Jesus que lhes aparecia, quando comeram com ele e Tomé pôde tocar em suas chagas, a vida deles mudou! De medrosos que eram, tornaram-se fortes e corajosos. Partiram pelo mundo para anunciar: Cristo está vivo! Ele está no meio de nós! A maioria deles chegou, inclusive, a dar a própria vida para confirmar isso.

            Hoje, não deixa de ser um desafio tomar consciência da presença de Cristo em meio a essa pandemia que deixa marcas profundas por toda a parte. Gostaríamos, como muitos que estavam aos pés da Cruz, que Jesus não ficasse em silêncio; desejaríamos que ele mostrasse a sua força – ou, como alguns lhe diziam ironicamente: “Se és mesmo o Cristo, desce da Cruz que acreditaremos!” Mas houve também, naquele momento, o testemunho belíssimo de um soldado pagão, que proclamou: “Verdadeiramente, Ele é o Filho de Deus!”

            Temos grandes desafios nesta Páscoa de 2020. Devemos prestar atenção a tais desafios para, então, perceber os sinais que Deus está enviando ao nosso mundo envolvido pelo coronavirus. Não é possível que, passado tudo isso, continuemos os mesmos, como se nada de significativo tivesse ocorrido. Lembro-lhes alguns dos desafios:

            - Quando tanta certeza se desmorona; quando a ideia de um progresso indefinido cai por terra; quando nosso conforto está ameaçado, perguntemo-nos: Qual o lugar que Deus tem ocupado em nossa vida? Em minha vida? Posso afirmar que o amo sobre todas as coisas? Ele é, realmente, o meu SENHOR?

            - Quando vemos cenas de ruas ou, mesmo, de bairros imensos, sem água, sem esgoto e sem o mínimo necessário para se falar em uma vida digna, perguntemo-nos: Colocamos em prática o ensinamento de Jesus, que devemos amar o próximo como a nós mesmos? Que devemos nos amar como ele nos ama? Que devemos repartir com os outros os bens que dele recebemos?

            - Quando procuramos afastar de nossa vida a ideia da morte, do juízo final e da eternidade, perguntemo-nos: Jesus deu sua vida por nós apenas para termos uma vida confortável aqui na terra? Ele veio até nós para fundar uma ONG ou para dar início à Igreja, que é a família daqueles que ele, Jesus, conquistou com o seu sangue?

            - Quando a humanidade procura construir um mundo no qual não há lugar para Deus; quando crianças e jovens crescem sem conhecer que “Deus é amor”; quando muitos se fecham em seu egoísmo e comodismo, perguntemo-nos: do alto da Cruz, o que Jesus nos ensina? O que ele quis dizer quando falou: “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem?”

            É Páscoa! Cristo ressuscitou! Ele está vivo! Ele está nos dando uma nova oportunidade de construirmos a vida segundo o seu Evangelho. Não adianta procurarmos outros caminhos para sermos felizes. Só Ele, o Filho de Deus, o Salvador, será capaz de preencher os anseios de felicidade que sentimos em nosso coração. Talvez as palavras do evangelista João se refiram também a nós: “De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos!” Hoje, neste domingo da Páscoa, voltados para Jesus, proclamamos:

Jesus, eu creio que ressuscitaste!

Eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!

Eu creio que tu tens palavras de vida eterna!

Dá-me a graça, dá-nos a graça de ressuscitar contigo para uma vida nova.

Tu tens esse poder!

O teu sangue tem poder!

Eu creio que tu estás presente no meio de nós!

Sim, eu creio, mas aumenta a minha fé!

Amém!

Fonte: https://www.vaticannews.va