1) Oração
Ó Deus, cuja providência jamais falha, nós vos suplicamos humildemente: afastai de nós o que é nocivo, e concedei-nos tudo o que for útil. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 12,35-37)
35Continuava Jesus a ensinar no templo e propôs esta questão: Como dizem os escribas que Cristo é o filho de Davi? 36Pois o mesmo Davi diz, inspirado pelo Espírito Santo: Disse o Senhor a meu Senhor: senta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos sob os teus pés (Sl 109,1). 37Ora, se o próprio Davi o chama Senhor, como então é ele seu filho? E a grande multidão ouvia-o com satisfação.
3) Reflexão - Mc 12,35-37
No evangelho de anteontem, Jesus criticou a doutrina dos saduceus (Mc 12,24-27). No evangelho de hoje, ele critica o ensinamento dos doutores da lei. E desta vez, sua crítica não visa a incoerência da vida deles, mas sim o ensinamento que eles transmitem ao povo. Numa outra ocasião, Jesus tinha criticado a incoerência deles e tinha dito ao povo: “Os doutores da Lei e os fariseus têm autoridade para interpretar a Lei de Moisés. Por isso, vocês devem fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imitem suas ações, pois eles falam e não praticam” (Mt 23,2-3). Agora, ele mostra uma reserva com relação ao que eles ensinam a respeito da esperança messiânica, e ele baseia a sua crítica em argumentos tirados da Bíblia.
Marcos 12,35-36: O ensinamento dos doutores da Lei sobre o Messias.
A propaganda oficial tanto do governo como dos doutores da Lei dizia que o Messias viria como Filho de Davi. Era a maneira de ensinar que o Messias seria um rei glorioso, forte e dominador. Assim foi o grito do povo no Domingo de Ramos: "Bendito o Reino que vem do nosso pai Davi!" (Mc 11,10). Assim também gritou o cego de Jericó: "Jesus, filho de Davi, tem dó de mim!" (Mc 10,47).
Marcos 12,37: Jesus questiona o ensinamento dos doutores sobre o Messias
Jesus questiona este ensinamento dos doutores. Ele cita um salmo de Davi: “O Senhor disse ao meu senhor: senta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés!” (Sl 110,1) E Jesus acrescenta: “Se o próprio Davi o chama de meu Senhor, como é que o messias pode ser filho dele?” Isto significa que Jesus não concordava muito com esta ideia de um messias Senhor Glorioso, que viria como rei poderoso para dominar e se impor sobre todos os inimigos. Marcos acrescenta que o povo gostou da crítica de Jesus. De fato, a história informa que os “pobres de Javé “ (anawim) esperavam o messias não como dominador, mas sim como servidor de Deus para a humanidade.
As várias formas de esperança messiânica. Ao longo dos séculos, a esperança messiânica foi crescendo, tomando várias formas. Quase todos os grupos e movimentos da época de Jesus esperavam a chegada do Reino, mas cada um do seu jeito: fariseus, escribas, essênios, zelotes, herodianos, saduceus, os profetas populares, os discípulos de João Batista, os pobres de Javé. Pode-se distinguir três tendências na esperança messiânica do povo no tempo de Jesus.
- Messias como enviado pessoal de Deus: Para uns, o futuro Reino devia chegar através de um enviado de Deus, chamado Messias ou Cristo. Ele seria ungido para poder realizar esta missão (Is 61,1). Alguns esperavam que ele fosse um profeta; outros, que fosse um rei, um discípulo ou um sacerdote. Malaquias, por exemplo, espera o profeta Elias (Mal 3,23-24). O Salmo 72 espera um rei ideal, um Novo Davi. Isaías ora espera um discípulo (Is 50,4), ora um profeta (Is 61,1). O espírito impuro gritava: "Eu sei quem tu és o Santo de Deus! (Mc 1, 24). Sinal de que também havia gente que esperava um messias que fosse sacerdote (Santo ou Santificado). Os pobres de Javé (anawim) esperavam o Messias como o “Servo de Deus”, anunciado por Isaías.
- Messianismo sem messias. Para outros, o futuro chegaria de repente, sem mediação nem ajuda de ninguém. O próprio Deus viria em pessoa para realizar as profecias. Não haveria um messias propriamente dito. Seria um messianismo sem messias. Isto já se percebe no livro de Isaías, onde o próprio Deus vem chegando trazendo a vitória na mão (Is 40,9-10; 52,7-8).
- O Messias já chegou. Também havia grupos que já não esperavam o messias. Para eles a situação presente devia continuar como estava, pois achavam que o futuro já tinha chegado. Estes grupos não eram populares. Por exemplo, os saduceus não esperavam o messias. O herodianos achavam que Herodes fosse o rei messiânico.
- A luz da ressurreição. A Ressurreição de Jesus é a luz que, de repente, iluminou todo o passado. À luz da ressurreição, os cristãos começaram a reler o Antigo Testamento e descobriram nele sentidos novos que antes não podiam ser descobertos, porque faltava a luz (cf 2Cor 3,15-16). É no AT que eles buscavam as palavras para expressar a nova vida que estavam vivendo em Cristo. É lá que encontraram a maior parte dos títulos de Jesus: Messias (Sl 2,2), Filho do Homem (Dn 7,13; Ez 2,1), Filho de Deus (Sl 2,7; 2 Sm 7,13), Servo de Javé (Is 42,1; 41,8), Redentor (Is 41,14; Sl 19,15; Rt 4,15), Senhor (LXX) (quase 6000 vezes!). Todos os grandes temas do AT desembocam em Jesus e encontram nele a sua plena realização. Na ressurreição de Jesus desabrochou a semente e, no dizer dos Pais da Igreja, todo o Antigo Testamento se tornou Novo Testamento.
4) Para um confronto pessoal
1) Qual é a sua esperança para o futuro do mundo de hoje em que vivemos?
2) A fé na Ressurreição tem alguma influência na maneira de você viver sua vida?
5) Oração final
Espero, Senhor, o vosso auxílio, e cumpro os vossos mandamentos. Guardo os vossos preceitos e as vossas ordens, porque ante vossos olhos está minha vida inteira. (Sl 118, 166.168)