Um pároco colocou a faixa tricolor [da República italiana] sobre a batina e casou civilmente duas mulheres. O bispo da sua diocese o removeu. Mas a demissão pode não ser a única consequência. A reportagem é de Ugo Baldi e Giorgio Renzetti, publicada em Il Messaggero, 21-07-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Tudo ocorreu na pequena localidade de Sant’Oreste (província de Roma), aos pés do Monte Soratte. Lá, na semana passada, o Pe. Emanuele Moscatelli, pároco da Igreja de São Lourenço há cerca de oito anos, pediu e obteve do prefeito a delegação para poder unir em matrimônio com rito civil, conforme previsto pela lei, duas residentes na localidade.

A primeira cidadã, Valentina Pini, eleita em uma lista cívica e próxima ao Movimento Cinco Estrelas, não hesitou diante do pedido. E o rito foi celebrado.

“O nosso pároco me pediu para poder ter a delegação para casar duas mulheres – disse Pini –, já que é prerrogativa do prefeito concedê-la. Estamos em um Estado laico, ele é um cidadão italiano, e, não querendo ferir os direitos de ninguém, eu a concedi a ele”.

Assim, a celebração na prefeitura uniu civilmente em matrimônio Francesca, 38 anos, e Beatrice, 50 anos. Mas, no dia seguinte, na Diocese de Civita Castellana (na província de Viterbo, com a qual Sant’Oreste faz divisa), o matrimônio não pôde passar despercebido.

No domingo passado, o próprio bispo, Romano Rossi, foi até a missa na paróquia de Sant’Oreste para anunciar na homilia a chegada de um novo pároco em breve. Na presença do próprio Pe. Emanuele, como concelebrante.

Nessa segunda-feira, Dom Rossi especificou que o pároco “demitiu-se espontaneamente. Ele entendeu a falta de oportunidade e fará um período de reflexão. Eu conversei longamente com ele, dialogamos, e não se tratou de uma decisão de autoridade. Então, ele decidiu que era oportuno demitir-se. O pároco é um cidadão livre, mas existe um cânone que impede que os sacerdotes oficiem cerimônias civis, independentemente de quem se casa”.

O Pe. Emanuele, natural da vizinha Bassano Romano e que já esteve de serviço em Bracciano, corre o risco de pagar caro pela repercussão midiática que o seu gesto laico provocou. O pedido de excomunhão poderia vir da cúpula da Igreja.

Sobre as consequências da decisão do seu pároco, a prefeita Pini não se deixa abater: “O nosso Estado é laico, e eu acredito que também chegou a hora de a Igreja rever algumas posições”.

Em Sant’Oreste, com pouco mais de 3.500 habitantes, a união civil celebrada pelo Pe. Emanuele foi a segunda registrada na prefeitura. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br