Caso acontece dois dias depois do atentado na Basílica de Notre Dame, em Nice. Polícia francesa prende terceiro suspeito de envolvimento no ataque em Nice, enquanto Macron tenta aplacar mal-estar com muçulmanos
Pessoas deixam homenagens em frente à Basílica de Notre Dame, em Nice, onde três pessoas foram mortas em um ataque a faca Foto: VALERY HACHE / AFP
O Globo e agências internacionais
PARIS — Um padre da Igreja Ortodoxa Grega foi baleado no momento em que fechava as portas de sua igreja, na tarde deste sábado, em Lyon, na França. O caso acontece dois dias depois do ataque a faca que deixou três mortos em Nice, no Sul do país.
Segundo a polícia francesa, um suspeito foi preso horas depois. A polícia não conseguiu confirmar se o detido era o atirador, que fugiu da igreja após os disparos. Autoridades locais e promotores disseram que ainda não está claro quais foram os motivos do ataque.
De acordo com o jornal Le Monde, o agressor atirou duas vezes contra o clérigo antes de fugir. A polícia informou que o estado de saúde do padre é grave e que ele precisou receber atendimento de urgência no local. A área foi isolada rapidamente pela corporação e o Ministério do Interior emitiu um alerta sobre a operação.
Ainda não se sabe se o caso tem alguma ligação com o atentado em Nice nem se houve motivações religiosas. O ataque acontece em um momento em que a França vive uma tensão interna devido aos casos recentes de atentados envolvendo islamistas radicais. Em 17 de outubro, o professor de Geografia e História Samuel Paty foi decapitado por um extremista de origem chechena após mostrar caricaturas do profeta Maomé durante uma aula sobre liberdade de expressão.
O primeiro-ministro francês, Jean Castex, disse que ainda não sabia de todas as circunstâncias do incidente, mas afirmou que uma reunião de emergência será realizada pelo governo.
— Ainda não tenho informações específicas sobre as circunstâncias. Preciso lhes dizer que vocês devem contar com toda a determinação do governo para permitir que cada um e todos pratiquem o seu culto em total segurança e em total liberdade. A nossa vontade é forte: a nossa determinação não se debilitará — afirmou. Segundo o jornal Le Figaro, o padre é como Nicolas K., de 52 ans. Ele é pai de três filhos e foi atingido no abdome.
Nos últimos dias, o governo de Emmanuel Macron vem intensificando seus esforços contra possíveis novos atentados terroristas, em meio ao final do julgamento dos autores do atentado de 2015 que deixou 12 mortos na sede do semanário satírico Charlie Hebdo, onde as caricaturas de Maomé foram originalmente publicadas.
A defesa feita por Macron da publicação das caricaturas, em nome da liberdade de expressão, após o assassinato do professor, provocou reações em países de maioria muçulmana. O Islã não permite que Maomé e outros profetas sejam retratados, porque considera que isso é idolatria.
Neste sábado, a polícia informou que uma terceira pessoa foi presa por suspeita de envolvimento no ataque em Nice, onde na quinta-feira um tunisiano de 21 anos, que chegou à França naquele mesmo dia, matou as três pessoas dentro da Basílica de Notre-Dame.
Entre os mortos estava a brasileira Simone Barreto Silva, que morava no país havia quase 30 anos. O agressor foi identificado como Brahim Aouissaoui, que deixou seu país em 18 de setembro e chegou à Itália pouco depois, em um barco que atracou no porto da ilha de Lampedusa. A Tunísia informou que, no país, ele não era fichado como militante radical.
A segunda prisão relacionada ao atentado ocorreu ainda na quinta-feira. Um homem de 47 anos foi detido depois ter sido visto ao lado de Aouissaoui em imagens de câmeras de segurança de Nice. Aouissaoui também está preso, mas permanece sob custódia no hospital, em estado grave, depois de ter sido baleado.
O terceiro suspeito foi detido na noite de sexta-feira, durante uma operação de buscas na residência do segundo suspeito. Ele é um homem de 33 anos cuja identidade ainda não foi revelada. A polícia tenta apurar qual o papel dele no caso.
Macron fala à al-Jazeera
Macron tentou neste sábado aliviar a tensão com o público muçulmano com uma entrevista à rede de TV al-Jazeera. Ele buscou se contrapor ao que considera que é uma interpretação errônea de suas recentes declarações sobre o Islã e explicar o modelo laico do Estado e do ensino francês.
— As reações do mundo muçulmano ocorreram devido a muitas mentiras e ao fato de que as pessoas entenderam que sou a favor dessas caricaturas — disse Macron. — Sou a favor de podermos escrever, pensar e desenhar livremente no meu país pois considero isso importante, representa um direito e as nossas liberdades.
O mandatário também fez uma publicação em árabe no Twiter afirmando não ter "problemas com nenhuma religião" e que todos os credos "são praticados livremente" no país.
"Ao contrário de muito do que tenho ouvido e visto nas redes sociais nos últimos dias, nosso país não tem problemas com nenhuma religião. Todas essas religiões são praticadas livremente na nossa terra. Não há estigmatização: a França está comprometida com a paz e com a convivência", escreveu.
Macron também conversou com o Papa Francisco na sexta-feira e, segundo seu porta-voz, discutiu a importância da liberdade de expressão e do diálogo entre as religiões.
— Ele afirmou que continuaria a lutar contra o extremismo para que todos os franceses pudessem expressar sua fé em paz e sem medo — disse o porta-voz.
Investigação italiana
Promotores na cidade siciliana de Palermo, na Itália, estão investigando a passagem do autor do atentado em Nice por Lampedusa, incluindo pessoas com as quais ele teria entrado em contato. Depois de Lampedusa, ele ficou 14 dias em um centro de quarentena em Bari. Lá, recebeu uma ordem de expulsão da Itália, mas teria ido para Palermo antes de viajar para Nice.
O irmão do autor do atentado, Yassine, que mora em Sfax, na Tunísia, disse à AFP que ninguém teve informação sobre Aouissaoui até quarta-feira passada, quando ele ligou para a família.
— Ele nos disse que foi para a França porque era mais fácil encontrar trabalho lá — disse Yassine, que explicou que o irmão se voltou para a religião há dois anos. Fonte: https://oglobo.globo.com