1) Oração

Ó Deus, que mostrais vosso poder sobretudo no perdão e na misericórdia, derramai sempre em nós a vossa graça, para que, caminhando ao encontro das vossas promessas, alcancemos os bens que nos reservais. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (Lucas 9,51-56)

51Aproximando-se o tempo em que Jesus devia ser arrebatado deste mundo, ele resolveu dirigir-se a Jerusalém. 52Enviou diante de si mensageiros que, tendo partido, entraram em uma povoação dos samaritanos para lhe arranjar pousada. 53Mas não o receberam, por ele dar mostras de que ia para Jerusalém. 54Vendo isto, Tiago e João disseram: Senhor, queres que mandemos que desça fogo do céu e os consuma? 55Jesus voltou-se e repreendeu-os severamente. [Não sabeis de que espírito sois animados. 56O Filho do Homem não veio para perder as vidas dos homens, mas para salvá-las.] Foram então para outra povoação.

 

3) Reflexão   Lucas 9,51-56

O evangelho de hoje conta como Jesus decide ir para Jerusalém. Descreve também as primeiras dificuldades que ele encontra nesta caminhada. Traz o começo da longa e dura caminhada da periferia para a capital. Jesus deixa a Galileia e segue para Jerusalém. Nem todos o compreendem. Muitos o abandonam, pois as exigências são grandes. Hoje acontece o mesmo. Na caminhada das nossas comunidades também há incompreensão e abandono.

“Jesus decide ir para Jerusalém”. Esta decisão vai marcar a longa e dura viagem de Jesus desde a Galileia até Jerusalém, da periferia até a capital. Esta viagem ocupa mais de uma terça parte de todo o evangelho de Lucas (Lc 9,51 até 19,28). Sinal de que a caminhada até Jerusalém teve uma importância muito grande na vida de Jesus. A longa caminhada simboliza, ao mesmo tempo, a viagem que as comunidades estavam fazendo. Elas procuravam realizar a difícil passagem do mundo judeu para o mundo da cultura grega. Simbolizava também a tensão entre o Novo que continuava avançando e o Antigo que se fechava cada vez mais. E simboliza, ainda, a conversão que cada um de nós tem que fazer, procurando seguir Jesus.  Durante a viagem, os discípulos e as discípulas tentam seguir Jesus, sem voltar atrás. Nem sempre o conseguem. Jesus dedica muito tempo à instrução dos que o seguem de perto. Um exemplo concreto desta instrução temos no evangelho de hoje. Logo no início da viagem, Jesus sai da Galileia e leva seus discípulos para dentro do território dos samaritanos. Ele procura formá-los para que possam entender a abertura para o Novo, para o “outro”, o diferente.

Lucas 9,51: Jesus decide ir para Jerusalém

O texto grego diz literalmente: "Quando se completaram os dias da sua assunção (ou arrebatamento), Jesus firmou o seu rosto para ir a Jerusalém”. A expressão assunção ou arrebatamento evoca o profeta Elias que foi arrebatado ao céu (2 Rs 2,9-11). A expressão firmar o rosto evoca o Servo de Javé que dizia: “Faço meu rosto duro como pedra, certo de não ser enganado” (Is 50,7). Evoca ainda uma ordem que o profeta Ezequiel recebeu de Deus: "Fixa a teu rosto contra Jerusalém!" (Ez 21,7). Usando tais expressões, Lucas sugere que, com a caminhada em direção a Jerusalém, começa uma oposição mais declarada de Jesus contra o projeto da ideologia oficial do Templo de Jerusalém. A ideologia do Templo queria um Messias glorioso e nacionalista. Jesus quer ser o Messias-Servo. Durante a longa viagem, esta oposição vai crescer e, no fim, vai terminar no arrebatamento ou na assunção de Jesus. A assunção de Jesus é a sua morte na Cruz, seguida da ressurreição.

  1. Lucas 9,52-53: Fracassa a missão na Samaria

  Durante a viagem, o horizonte da missão se alarga. Logo no início, Jesus ultrapassa as fronteiras do território e da raça. Ele manda seus discípulos preparar a sua vinda numa aldeia da Samaria. Mas a missão junto dos samaritanos fracassou. Lucas diz que os samaritanos não receberam Jesus porque ele estava indo para Jerusalém. Porém, se os discípulos tivessem dito aos samaritanos: “Jesus está indo para Jerusalém para criticar o projeto do Templo e para exigir maior abertura”, Jesus teria sido aceito, pois os samaritanos eram da mesma opinião. O fracasso da missão deve-se, provavelmente, aos discípulos. Eles não entenderam por que Jesus “firmou a cara contra Jerusalém”. A propaganda oficial do Messias glorioso e nacionalista impedia-os de enxergar. Os discípulos não entenderam a abertura de Jesus, e a missão fracassou!

  1. Lucas 9,54-55: Jesus recusa o pedido de vingança

  Tiago e João não querem levar desaforo para casa. Não aceitam que alguém não concorde com a ideia deles. Querem imitar Elias e usar o fogo para se vingar (2 Rs 1,10). Jesus recusa a proposta. Não quer o fogo. Certas Bíblias acrescentam: "Vocês não sabem de que espírito são movidos!" Significa que a reação dos dois discípulos não era do Espírito de Deus. Quando Pedro sugeriu a Jesus para não seguir pelo caminho do Messias Servo, Jesus chamou Pedro de Satanás (Mc 8,33). Satanás é o mau espírito que quer mudar o rumo da missão de Jesus. Recado de Lucas para as comunidades: os que querem impedir a missão junto dos pagãos são movidos pelo mau espírito!

*  Durante os dez capítulos que descrevem a viagem até Jerusalém (Lc 9,51 a 19,28), Lucas, constantemente, lembra que Jesus está a caminho de Jerusalém (Lc 9,51.53.57; 10,1.38; 11,1; 13,22.33; 14,25; 17,11; 18,31; 18,37; 19,1.11.28). Raramente, porém, ele diz por onde Jesus passava. Só aqui no começo da viagem (Lc 9,51), no meio (Lc 17,11) e no fim (Lc 18,35; 19,1), você fica sabendo algo a respeito do lugar por onde Jesus estava passando. Isto vale para as comunidades de Lucas e para todos nós. O que é certo é que devemos caminhar. Não podemos parar. Nem sempre, porém, é claro e definido por onde passamos. O que é certo é o objetivo: Jerusalém.

 

4) Para um confronto pessoal

1) Quais os problemas que já apareceram em sua vida como consequência da decisão que você tomou de seguir Jesus?

2) O que aprendemos da pedagogia de Jesus com seus discípulos que queriam vingar-se dos samaritanos?

 

5) Oração final

Hão de vos louvar, Senhor, todos os reis da terra, ao ouvirem as palavras de vossa boca. E celebrarão os desígnios do Senhor: Verdadeiramente, grande é a glória do Senhor. (Sl 137, 4-5)