Dom Vital Corbellini

Bispo de Marabá (PA)  

 

A Igreja festeja o batismo do Senhor Jesus, marcando o início de sua missão de Salvador da humanidade e anúncio do Reino de Deus. Este batismo ilumina também o nosso batismo, pois ele nos torna filhos e filhas de Deus Uno e Trino. Jesus disse para os seus discípulos para irem ao mundo, fazerem discípulos seus com o compromisso de realizarem o batismo em nome de Deus Uno e Trino (Mt 28,20). Nós somos chamados a viver o nosso batismo que é a porta de entrada na vida eclesial e de todos os sacramentos.  

Na preparação ao Messias que deveria vir, João batizava com água o povo, mas ele mesmo disse que viria aquele que é mais forte do que ele, do qual ele não era digno de desamarrar a correia de suas sandálias (Jo 1,27). Quando Jesus foi batizado por João o Espírito Santo desceu nele em forma de pomba e a voz do céu que lhe disse que Jesus é o seu Filho amado, na qual o Pai põe o seu bem-querer (Lc 3,15-16; 21-22). O batismo de Jesus ajuda-nos a viver a nosso batismo.  

 

O significado de batismo. 

O batismo vem da palavra grega Baptismós e do latim eclesiástico Baptismus cujo significado é imersão. É o primeiro dos setes sacramentos na Igreja católica e é reconhecido como tal nas outras confissões cristãs1. Ele estava presente nos diversos grupos religioso no tempo de Jesus para a aceitação dos prosélitos, de seus iniciantes. O batismo era visto como a possibilidade de uma vida nova com Deus e com a comunidade. Na Igreja antiga era a prática sacramental na qual o catecúmeno rompia com o pecado e com as seduções do mal, do demônio e entrava numa nova relação, através da fé, com Deus Uno e Trino, e ficando agregado ao povo da nova aliança2. 

Vejamos a seguir como ele foi percebido nos padres da Igreja.  

 

A instituição do catecumenato 

A partir dos séculos II e III o catecumenato com São Justino de Roma, Tertuliano em Cartago e Orígenes em Alexandria tornou-se um caminho essencial, obrigatório para a recepção das pessoas ao batismo, e também à crisma e à eucaristia, colocando a seriedade com que se levavam em conta os fieis que queriam tornar-se cristãs. A pessoa era preparada para ter uma vida de compromisso com Deus, com a comunidade e com o mundo, no seguimento de Jesus Cristo e à sua Igreja. Tudo isso comportava uma conversão radical dentro de uma comunidade que tinha o seu olhar e para além, os céus3.  

 

O batismo na Igreja antiga. 

Pseudo Dionísio o aeropagita, autor cristão dos séculos IV e V, falou do batismo na Igreja antiga. As pessoas buscavam a participação na comunidade de modo a unir-se aos iniciados, aqueles que seriam batizados para serem apresentados ao bispo prometendo de seguir todas as disposições na vida com o Senhor, com a comunidade e também de serem acompanhados pelo padrinho, madrinha. Aquele cristão desejava santamente à salvação, sabendo também de suas limitações e pecados, mas o batismo lhes dava a purificação. Todos se reuniam ao redor da água para receberem o sacramento do batismo. O bispo advertia a todos a conversão de vida para seguir o caminho do bem e do amor. O fiel renunciava a Satanás e a todas as suas obras, a desunião por três vezes e depois ele fazia a sua profissão de fé no mistério de Deus Uno e Trino. Em seguida o sacerdote o emergia por três vezes na fonte batismal invocando as três pessoas da Santíssima Trindade. Em seguida ele era vestido com um hábito apropriado, e era conduzido ao bispo que o assinava com o óleo do crisma e o declarava digno de participar da santíssima eucaristia4.  

 

A santa fonte do divino batismo. 

São Cirilo de Jerusalém, bispo, século IV, afirmou que os catecúmenos eram conduzidos à santa fonte do divino batismo como foi para Cristo, descido da cruz, colocado diante do sepulcro. Os catecúmenos eram interrogados se eles criam no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo? Eles professavam a fé salutar e eram mergulhados por três vezes na água, e três vezes saiam de modo que eles significaram pela imagem e pelo símbolo a sepultura de Cristo por três dias. O bispo também ressaltou que na imersão qual noite, nada viam, mas pela emersão eles se encontravam como em pleno dia de modo que no mesmo momento eles morreram e nasceram, porque a mesma água abençoada foi para eles sepulcro e mãe. Assim o batismo apaga os pecados, confere o dom do Espírito Santo e é a expressão da paixão de Cristo e ressurreição com o Senhor5.  

 

Batizados em Cristo. 

Ainda em São Cirilo de Jerusalém, o bispo afirmou que os fieis batizados em Cristo e revestidos dele, tornaram-se conforme ao Filho de Deus. O Senhor Deus que nos predestinou à adoção, tornou-nos semelhantes ao corpo glorioso do Cristo. Ele dizia aos batizados que eles se tornaram cristos, ungidos porque receberam o símbolo que é o penhor do Espírito Santo, e, pois sendo dado neles, tornavam-se imagens de Cristo. Jesus, quando recebeu o batismo, foi ungido pelo Espírito Santo de modo que o semelhante pousou sobre o semelhante. De uma forma semelhante, afirmou São Cirilo, às pessoas que receberam o banho das sagradas fontes, foi dado o crisma, símbolo e penhor da qual foi ungido Cristo6.  

 

A morte ao pecado. 

Santo Agostinho disse que o batismo faz o fiel morto ao pecado. Cristo Jesus venceu o pecado, assumindo a realidade humana. Não tendo pecado, ele quis selar com a sua ressurreição a nossa vida nova, ressuscitando da morte antiga pela qual estávamos mortos ao pecado. É esta a grande virtude do sacramento do batismo que se celebra entre nós porque a todos quantos participam a tal graça morrem ao pecado, porque Cristo vencendo ao pecado deu caminho novo aos que recebem o batismo7.  

O domingo do batismo do Senhor nos ajude a refletir e praticar no sacramento que nós recebemos como graça, responsabilidade e ele nos fortaleça na prática das boas obras em favor do dom de Deus derramado em nossas vidas. Nós somos chamados a renunciar ao demônio, as suas obras, seduções e a todas as formas de desunião na vida da família, na comunidade e na sociedade e também a professar a nossa fé no Deus Uno e Trino e as verdades últimas para um dia participar da vida eterna com Deus. O batismo nos impulsione à vida comunitária e com o Senhor. Fonte: https://www.cnbb.org.br