Três padres : Severino, Amaro e Geraldo. Uma paróquia, a do Alto de São Sebastião, em Surubim. Uma carta-testamento de quatro páginas relatando rivalidades, divergências, agressões leves, discriminação, mágoas. Um desfecho trágico e inesperado.
Na noite de ontem, terça-feira, (1°/02) o
padre Geraldo de Oliveira, de 77 anos, foi encontrado morto no interior da Igreja de São Sebastião. O padre estava aposentado mas ainda fazia celebrações e um reconhecido trabalho social. Ao seu lado foi encontrada a carta digitada. Dirigida "ao padre Severino Correia da Silva e comunidades, assinada com letra visivelmente trêmula, o padre falecido relata uma série de divergências e episódios desagradáveis, principalmente entre ele e o padre Amaro. Quizilhas não exatamente raras no ambiente eclesiástico. Nada que indique um desfecho imediato ou justifique um assassinato ou suicídio.

TEMPO DO VERBO

Na carta, o padre Geraldo, nascido em São Caetano, diocese de Caruaru, indica inclusive que, "no futuro" quer ser enterrado em Surubim. Claro que ninguém manifesta o desejo de ser enterrado "no presente" porém o conjunto do texto lembra mais um testamento amargurado que uma despedida imediata.



ESTENDIDO
Segundo a Polícia Civil, o corpo estava no chão, com a cabeça em um travesseiro, entre os bancos, perto da porta principal do templo. Em uma lixeira, próxima ao cadáver, foram achados uma garrafa de champanhe quebrada e dois frascos de uma substância que a polícia acredita numa conclusão, baseada apenas nas aparências, ter sido utilizada pelo sacerdote para tirar a própria vida.



PREPARAÇÃO
Na segunda-feira (31/01), ele celebrou uma missa e quando os fiéis saíram, pediu ao sacristão que fechasse as portas e ficou sozinho na igreja.
Ao lado do corpo, foi encontrada também uma bolsa com uma corda. O sacristão contou à polícia que o padre havia pedido para ele deixar a porta de acesso à escadaria da torre da igreja aberta, mas a solicitação não foi atendida.



IMPACTO
Tão logo a notícia da morte se espalhou, Surubim não tratou de outro assunto. Dezenas de pessoas se concentraram ao redor da matriz. A área foi isolada pela Polícia Militar até a chegada dos peritos. O corpo foi encaminhado na madrugada de hoje, (02/02) para o Instituto de Medicina Legal, no Recife.
Padre Geraldo era religioso há cinco décadas, comemoradas no último dia 2 de janeiro. Há 27 anos ele morava em Surubim. Antes, foi pároco nas cidades de Agrestina e São Caetano. Também foi professor de Filosofia da extinta faculdade Fafica, em Caruaru.
Uma das marcas da atuação de Padre Geraldo era o trabalho social. Ele construiu 78 casas em Surubim e outras 20 em Nazaré da Mata para famílias carentes. Realizava também, de forma permanente, campanhas para doação de cestas básicas, colchões e roupas. Nestas ações filantrópicas, contava com a colaboração de amigos que residem na Alemanha, país que visitava regularmente. Devoto de Padre Cícero, criou a Missa dos Romeiros em Surubim e na cidade vizinha de João Alfredo. Nem a família nem a Diocese de Nazaré, até agora, divulgaram informações em relação a velório e sepultamento.


ESCLARECIMENTOS
Depois da perícia, muitas perguntas deverão ser respondidas. Foi mesmo envenenamento ? (o povo fala no uso do popular chumbinho, veneno para ratos). Quem foi responsável pela administração da substância? Onde foi adquirida e por quem? O padre Geraldo tinha notórios problemas de visão além de grande dificuldade para o uso de equipamentos eletrônicos. Quem digitou e imprimiu a carta? Ele mesmo? Ou contou com a ajuda de um terceiro?
Mistérios a serem esclarecidos após a perícia, com a ação cautelosa e criteriosa da polícia. Fonte: https://www.jornalopoder.com.br