Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)
Esperar alguém ou um compromisso importante com dia marcado e hora exata permite se organizar e se preparar. Seguramente se toma todas as medidas para ter tudo planejado, encaminhado e, assim, o encontro ou evento ocorra sem sobressaltos. A maioria dos nossos compromissos são possíveis de prever e tomar as medidas cabíveis. Porém, muitos fatos acontecem de forma imprevista. Por não estarem previstos nem sempre se toma medidas para viver os imprevistos.
Jesus aborda com os seus discípulos e hoje conosco tudo que se refere à vida humana. Hoje, como nos relata Lucas 12, 32-48, nos convida a refletir sobre o dia imprevisto da morte. “Por que o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes”. Na profissão de fé cristã afirmamos que Jesus “há de vir a julgar os vivos e os mortos”. Além de afirmar que cremos “na vida eterna”. Estas realidades últimas chamamos de morte, juízo final, eternidade, inferno e paraíso. Escatologia é o nome técnico usado na teologia para estas realidades últimas.
O dia da morte é imprevisível, mas o morrer é uma certeza. Como viver esta incerteza e esta certeza? Jesus ajuda a viver até aquele dia imprevisível de uma maneira que traga felicidade. Começa ensinando: “não tenhais medo”. A consciência da morte pode levar a uma vida de constante angústia. Jesus conduz os discípulos confiarem Nele e diz que a morte não é o fim da jornada, mas é o retorno à casa do Pai. Viver com medo impede de tomar atitudes, além de trazer tristeza.
Os seguintes ensinamentos tirados da vida cotidiana convida os discípulos a saírem da acomodação e terem uma vida muito ativa, propositiva e dispostos para qualquer hora. “Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas”. Para entender a força deste ensinamento se faz necessário recordar as vestes daquele tempo. As vestes eram largas e quando se precisava trabalhar ou correr era preciso amarrá-las na cintura. O mesmo refere-se à lâmpada, não havendo ainda fósforo, era muito demorado acender o fogo. Portanto, o discípulo deve estar pronto para o trabalho e ter o fogo aceso para não perder tempo de agir.
Estar preparado e em constante atenção não é simplesmente um dever, mas também exprime atenção e amor para com Deus. Relação que traz alegria e recompensa. “Felizes os (…) que o senhor encontrar acordados quando chegar. Em verdade eu vos digo: Ele vai cingir-se, fazê-los sentar-se à mesa e, passando, os servirá”. Quem ficou em prontidão, sentir-se-á feliz, além de receber a gratidão e de ser servido por Deus.
“A passagem do Evangelho nos educa a viver em plenitude o nosso tempo, tornando plena e frutuosa a espera mediante uma vigilância amorosa e uma fidelidade a toda prova. A responsabilidade de amar faz passar o tempo veloz e frutuosamente. Vigiar significa ter em mãos a direção da situação e operar eventuais correções de rota, servir o presente com fidelidade e direcionar-se ao futuro com esperança. O cristão não é chamado a conservar o status quo de uma situação oxidada e mumificada da rotina, porque o Evangelho deslegitima o estado sonolento de um cristianismo opaco e apagado. A vigilância requer capacidade de ler e interpretar os sinais dos tempos, é brilhante imaginação que cria novas situações e se adapta àqueles presentes, conservando a fidelidade ao Senhor que veio, na espera do Senhor que virá, vivendo em comunhão com o Senhor sempre presente” (Mauro Orsatti). Fonte: https://www.cnbb.org.br