Dom Carlos José

Bispo de Apucarana (PR)

 “O povo que andava nas trevas viu uma grande Luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu. ”  (Is 9,1)

Irmãos e irmãs em Cristo, Jesus está batendo à porta, continuamente. Tenho lugar para Ele? Estamos novamente prestes a celebrar o Santo Natal, época propícia para renovarmos a nossa fé e, numa atitude de humildade e amor, escancarar todo o nosso ser para que Jesus entre e seja Luz em nossa vida, em nossa família e em nosso mundo! Vivenciar o Natal com a alegria de quem acredita verdadeiramente que tudo se renova em Cristo e com Cristo.

Recomeçar sempre é possível, dar o primeiro passo para a novidade, a Boa Nova de Jesus que deseja nascer em cada família, em cada coração que, por um motivo ou outro se encontra vazio de esperança, empobrecido pelas circunstâncias ou desejoso de recomeços. Jesus sempre É e será a Boa Notícia que reaviva o desejo de levantar os olhos para vislumbrar o futuro onde o Reino da Paz será instaurado. Para que o Natal não seja apenas um feriado ou uma data no calendário, é necessário que ele aconteça dentro de nós, como aconteceu com os pastores e os magos que, ao encontrarem o Menino, deixaram-se transformar por Ele. Lembrarmos do primeiro Natal e dos acontecimentos o envolveram, servirá para que pensemos em como aproveitar essa celebração da maneira mais cristã possível.

Lá, na longínqua Belém, a Sagrada Família não encontrou hospedagem, e Jesus nasceu numa cocheira, num estábulo rodeado de animais, sob a luz das estrelas, em meio ao frio da madrugada. Lá, em Belém, sua Luz iluminou as trevas, mas muitos O ignoraram, pois não tinham nem tempo nem lugar recebê-Lo. Tudo e todos estavam mais ocupados com seus próprios afazeres e problemas que não se deram conta da graça que chegava, e a Graça ficou do lado de fora. Os poderosos sabiam que o Messias viria e O temiam, não por causa de sua Divindade, mas por receio de perderem seus poderes e riquezas.

Como um grande contraste, o Rei dos Reis nasceu em extrema pobreza, sendo visitado e reconhecido   pelos humildes pastores que O adoraram. Também os Reis Magos, peregrinos de outras terras foram transformados ao se encontrarem com o Messias recém-nascido, oferendo a Ele, o que tinham de melhor em sua bagagem. Já no primeiro Natal, Jesus nos revela que nasceu para todos, sem distinção de classes ou raças.  Se, naquele tempo, em que a promessa da vinda do Messias, anunciada por tantos profetas, passada de geração em geração e esperada por tantos séculos quando aconteceu, passou despercebida por tantos, imaginemos agora, depois de mais de 2000 mil anos de seu nascimento, com tantos feitos, registros e provas desse grande feito, tantos anúncios e propagandas sobre o Natal, quando temos tempo e lugar para acolhê-Lo, ainda muitos permitem que esta data se desvincule de sua verdadeira essência que é Cristo em meio a nós! Ah, se alcançássemos a grandeza desse fato: a Encarnação do Verbo, a Palavra que se faz Carne e habita em meio a nós, Deus que assume nossa humanidade e caminha conosco, certamente essa verdade mudaria nossa vida de forma inenarrável e espetacular! Esse acontecimento é o marco divisor da história da humanidade!

Temos o tempo da humanidade contado em Antes de Cristo (A.C.) e Depois de Cristo (D.C), revelando os acontecimentos anteriores e posteriores à encarnação do Verbo Divino. Isso deveria nos bastar para abrir o coração para Cristo viver de fato em nós. Somos um povo infinitamente abençoado, temos os ensinamentos da Sagrada Escritura ao alcance das mãos, dos ouvidos e dos olhos, pois, “A graça de Deus se manifestou trazendo a salvação para todos os homens. ”   (2Tit 11,14).

Essa Graça é Jesus que caminha conosco. Jesus, a Palavra que já existia antes de tudo e, ao Encarnar-se, santifica o humano com sua presença.  “O Verbo era a verdadeira Luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Mas a todos aqueles que o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus. ” (Jo 1, 9-13) Ao nascer, Jesus sela a promessa de Paz, não a paz que o mundo dá, mas a verdadeira paz que vem do Alto, que brota do Coração do Pai e se dá gratuitamente a quem Nele crê. Cristo, o Filho de Deus, ao Encarnar-se, deu-nos a dignidade de sermos seus irmãos, não de sangue, mas de fé, pois, banhados nas águas do Batismo, recebemos a mesma  Luz que O fecundou no ventre de Maria e dissipa qualquer treva.

Deixemo-nos iluminar por essa Luz que nunca se apaga, e, uma vez iluminados, ao desejarmos FELIZ NATAL, lembremos que a manjedoura foi o começo. Hoje, Jesus habita o nosso coração, então, juntemo-nos aos Anjos e declaremos jubilosamente nosso louvor “Glória a Deus no mais alto dos céus e na terra paz aos homens de boa vontade”, pois a tão sonhada paz virá, o Reino de Deus se instalará eternamente em meio a nós, filhos e filhas amados do Pai, redimidos em Cristo, guiados pelo Espírito Santo e abençoados pela Virgem Maria e São José.

“Eu vos trago a boa nova de uma grande alegria: é que hoje nasceu o Salvador, o Cristo, o Senhor! ”. (Lc 2, 10-11)

Abençoado e Santo Natal!

Fonte: https://www.cnbb.org.br