Dom Antonio de Assis Ribeiro

Bispo auxiliar de Belém (PA)

A palavra presépio (praesepium em latim), significa manjedoura.  A manjedoura é o prato no qual os animais domésticos comem, ou mais comumente chamado do cocho. O Papa Francisco com a carta apostólica Admirabile Signum (Admirável Sinal, 2019) convidou os fiéis católicos a valorizar a beleza do simbolismo do presépio com seu significado humano e conteúdo teológico na sua totalidade.  

O Sumo pontífice afirma que “representar o acontecimento da natividade de Jesus equivale a anunciar, com simplicidade e alegria, o mistério da encarnação do Filho de Deus” (N. 1). 

 

A popularidade do presépio 

A cada celebração do Natal do Senhor, somos chamados a aprofundar o significado do presépio. Atualmente constatamos o fato de encontrarmos presépios por todo lugar: nos templos religiosos, residências, lojas, repartições públicas, escritórios, na beira das estradas, nas ruas, nas praças, shoppings centers, clubes, ginásios, escolas, universidades etc. Contudo, nem sempre as motivações e as intenções da sua montagem são as mesmas. Na maioria das vezes, o presépio é concebido e reduzido a uma pura peça artística, decorativa e lúdica, servindo como instrumento de atração, curiosidade, distração, entretenimento, espetáculo.  

Em muitas cidades pelo mundo afora, promovem-se até concursos de presépios; cada um mais sofisticado do que o outro. Mas em muitos ambientes os personagens e o contexto apresentado no presépio nem sempre fazem referência ao seu sentido religioso original. Contudo, a preservação do verdadeiro sentido do presépio é impossível sem a fé e a explícita referência a Jesus Cristo.  

 

A finalidade do presépio

O presépio sem a fé em Deus que se fez humano sem deixar de ser divino, torna-se paganizado, ou seja, despido da sua finalidade e sentido original. Na sua origem nunca foi produto da cultura, mas da autêntica Piedade. Parece que hoje a cultura do espetáculo mercantilista forja à supressão do senso de fé, piedade, contemplação, adoração e louvor do mistério de Deus veiculado pelo presépio. 

O presépio foi concebido por São Francisco de Assis em Greccio, na Itália, no ano 1223. Sua ideia consistiu em remontar a cena do nascimento de Jesus com seus diversos personagens, elementos e condições em estreita fidelidade às narrações dos Evangelhos. O presépio é uma realidade que nos convida à meditação, à oração, à ação de graças, renovação interior e ao aprofundamento da fé cristã. A condição fundamental para isso é conhecermos as narrações contidas nos Evangelhos sobre o nascimento do Messias. O inventor do presépio tinha uma intenção catequética ao concebê-lo, colocando a arte a serviço da evangelização! 

Cada um dos personagens do presépio tem identidade própria, atitudes propositivas, significado bíblico, explora uma dimensão específica da fé, e nos convida ao confronto e nos sugerem lições para a nossa vida. Porém, nenhum deles deve ser tomado e interpretado isoladamente. A totalidade dos elementos do presépio forma uma unidade, uma verdadeira sintonia da fé no mistério de Deus que vem ao encontro do ser humano, fazendo-se um de nós sem perder o que lhe é próprio.  

 

As personagens do presépio

Ao centro do presépio está um frágil bebê deitado numa manjedoura. Nele está o mistério do Deus onipotente presente na fragilidade humana, totalmente dependente dos cuidados da humanidade.  Deus escolhe a família como lugar de sua revelação e santifica a célula mãe da sociedade. O presépio nos estimula a perceber um grande movimento de convergência, encontro, harmonia e paz. Onde há a centralidade de Jesus Cristo, lá há cuidado, simplicidade, superação da solidão, solidariedade, humildade, paz.  

Os anjos, conforme o relato de São Lucas (cf. Lc 2,13-14), são os mensageiros de Deus que anunciam a boa notícia provocadora de grande alegria para os pastores. Os pastores representam os pobres, que são dos destinatários prioritários do anúncio do nascimento do Messias. Nos pastores estão reunidos todos os pobres que esperavam o Messias. Crentes e alegres vão às pressas para se encontrarem com o recém-nascido e de lá voltam maravilhados contando tudo o que viram e ouviram sobre o menino (cf. Lc 2,2.16-18). Os pobres não são somente beneficiários do anúncio do evangelho, mas também são chamados a ser protagonistas do anúncio aos demais através da experiência missionária. Algo semelhante observamos também em relação o primeiro anúncio da ressurreição de jesus às mulheres (cf. Lc 24,1-11). 

No presépio estão presentes também os animais (os bois, as ovelhas, o jumento). É natural imaginarmos a presença deles ao lado da Sagrada Família, pois o menino Jesus nasceu num estábulo e, sem cama onde colocá-lo, Maria cuidadosamente o acomodou numa manjedoura (cf. Lc 2,7). Mas essa imagem tem um sentido teológico. O Messias é o restaurador de todas os níveis das relações humanas: consigo mesmo, com seus semelhantes, com a natureza e com Deus. A salvação tem uma dimensão cósmica, ecológica, socioambiental. Onde há fé professada em Cristo, o filho de Deus, lá deve haver harmonia entre o homem e a natureza. Também a natureza é beneficiária da acolhida do Messias (cf. Is 66,25; Rm 8,22). 

No presépio está também a estrela que guia os magos do oriente, citada quatro vezes por Mateus; é uma narração unicamente desse Evangelista. O significado dessa estrela está atrelado à identidade dos magos. Eles representam os pagãos, ou seja, todos os povos que reconheceriam a Jesus Cristo como o Salvador guiados pela razão que busca a verdade iluminados pela luz da fé. A meta da estrela guia é o encontro com Jesus. Assim também nós, e todos os povos, à luz da razão  iluminada pela fé vivemos dando sentido para a nossa existência indo ao encontro definitivo com Jesus Cristo, o Senhor. Assim como os magos não se fecharam em sus verdades, da mesma forma quem se deixar guiar honestamente pela estrela da sua consciência, caminha ao encontro do Verdadeiro Deus, reconhecendo sua realeza, sua divindade e humanidade. A razão saudável nunca aprisiona o ser humano.  

Na experiência dos magos, não há inicialmente uma revelação divina (como no caso dos pastores), mas somente o concurso da inquietude existencial, da inteligência, vontade, da ciência, assim vão ao encontro da Verdade. 

Para concluirmos podemos dizer que o presépio nos estimula a perceber um grande movimento de convergência, encontro, harmonia e paz. Onde há a centralidade de Jesus Cristo, ali certamente haverá cuidado, simplicidade, superação da solidão, solidariedade. A contemplação do presépio nos educa! 

 

PARA REFLEXÃO PESSOAL: 

Você já meditou sobre o presépio? 

Qual é a finalidade do presépio? 

Além da sagrada família (Jesus, Maria e José), quais outros personagens do presépio mais lhe chamam a atenção? Por quê? 

Fonte: https://www.cnbb.org.br