Segundo o sacerdote, o invasor proferiu insultos por causa da pastoral de rua, fez ameaças e jogou o celular contra ele e os fiéis.

 

Por Louise Queiroga — Rio de Janeiro

Um homem entrou na igreja onde o padre Júlio Lancellotti celebrava uma missa na manhã desta sexta-feira (10) e interrompeu a celebração. Em dado momento, o invasor disse: "ah, vai sustentar vagabundo". Ele tinha como alvo a campanha de distribuição de alimentos a pessoas vulneráveis.

"Este morador da Moóca, hoje, invadiu a igreja interrompeu a missa aos gritos e me insultou por causa da pastoral de rua. Jogou o celular contra nós e proferiu ameaças", postou o sacerdote em rede social.

Segundo o padre, o autor das ameaças ainda voltou a lhe fazer provocações, já do lado de fora da igreja, depois da interrupção da missa. Ele criticava de forma exaltada as ações sociais que a comunidade da igreja realiza para as pessoas em situação de rua da região. Mais cedo, padre Julio havia realizado uma distribuição de alimentos num centro comunitário.

O ativista de direitos humanos Lucas Louback também fez uma postagem sobre o caso e apresentou mais detalhes. Lucas relatou que a invasão ocorreu no sacramento da Eucaristia, um momento importante da missa em que o sacerdote promove a transfiguração do pão e do vinho no corpo e sangue de Jesus Cristo, em memória de sua morte e ressureição, conforme ditam os dogmas do catolicismo.

"O padre é muito bom", disse uma das pessoas ajudadas, em vídeo publicado nesta sexta-feira.

"Durante o momento da Eucaristia celebrada pelo padre Júlio Lancelotti um homem interrompeu a violentamente missa. Isso ocorreu minutos antes a distribuição do café para população em situação de rua e vulnerabilidade", relatou Lucas.

O autor do post definiu a situação como "aporofobia". E explicou: "o ódio do homem era contra a população de rua e ao padre por ajudá-los", acrescentando que tal sentimento foi "direcionado a pessoas e a caridade e não ao que gera esse quadro".

Ao GLOBO, Lucas explicou que o invasor parecia querer culpar o padre pelo aumento da população de rua nas redondezas. O homem ainda teria atribuído ao religioso a responsabilidade pela suposta presença de tráfico de drogas no bairro. Segundo o ativista, a principal mensagem que ele passou, atrelada a uma série de preconceitos e proferida repetidamente, foi chamar as pessoas vulneráveis de "vagabundas" e "bandidas".

Essa não foi a primeira vez que o padre foi alvo de intolerância. Em dezembro de 2022, ele postou uma foto nas redes sociais segurando a imagem de um menino Jesus negro, diante da celebração do Natal. Lancellotti acabou recebendo críticas por causa da cor da pele do bebê na escultura. O religioso foi acusado de promover uma “militância”, "lacrar" e tentar “mudar a história”. Ao GLOBO, ele disse acreditar que o episódio pode ser entendido como um retrato do preconceito racial muito presente no país.

Numa entrevista anterior, feita em 2021, Lancellotti destacou que a manifestação de ódio aos pobres não é uma novidade.

— [Esse sentimento] Sempre existiu, mas aumenta na proporção em que aumenta a população de rua. Na Europa, eclodiu com o movimento dos refugiados e o termo foi cunhado pela filósofa Adela Cortina. É importante nominar um fenômeno que tem sido muito vivenciado aqui — afirmou na ocasião.

Com mais de 1,3 milhão de seguidores no Instagram e vinculado à Arquidiocese de São Paulo, o padre é conhecido por suas iniciativas de caridade. Nas redes sociais, ele mostra o trabalho que executa. Fonte: https://oglobo.globo.com