ÁGUA PARA QUEM TEM SEDE

 

Dom Leomar Antônio Brustolin 
Arcebispo de Santa Maria (RS)

No Evangelho de João (4, 5-42), encontra-se o famoso diálogo de Jesus com uma mulher samaritana, à beira do poço de Jacó. Falando das coisas da vida, como tirar água do poço, Jesus vai fazendo a mulher entender que é preciso buscar uma água que sacie toda a sede humana. Temos sede de vida, de sentido, de ética.  

Jesus, como bom Mestre, vai conduzindo uma conversa que parecia impossível. Os samaritanos eram discriminados pelos judeus porque haviam se casado com povos não judeus e acabaram adquirindo costumes estranhos e diferentes dos galileus e dos judeus. Quem conversasse ou tivesse contato com um samaritano seria considerado impuro.  

O encontro se realiza diante de uma fonte de água. Esse era um lugar de encontros, conversas e de proximidade entre as pessoas que iam buscar água. O horário era meio-dia, o sol estava quente e Jesus, cansado pela viagem.  

Quando a mulher chega, Jesus lhe pede de beber, expressão de quem tem sede, mas não é de água. Ele quer ser acolhido para ele mesmo matar a sede que existe em todo coração humano. Jesus inicia o diálogo com aquela mulher sem acusar seus erros e pecados, não trata do sentimento de culpa e fracassos de sua vida. Ele se aproxima e pede algo que ela pode oferecer. 

A mulher se espanta, pois seria muito estranho um judeu usar o mesmo jarro (copo ou balde) de um samaritano. Ele ficaria impuro! Entre Jesus e a mulher existem barreiras culturais que parecem muros intransponíveis. Jesus a provoca dizendo: “Se conhecesses o dom de Deus!” Ele mostra a ela que todo ser humano tem sede de felicidade, mas muitas vezes se engana em buscas e encontros.  

Jesus fala à mulher de uma água viva que ele conhece. Ela, porém, pensa somente na água material e pergunta-lhe como ele tiraria essa água do poço. Jesus, então, revela para aquela estrangeira a verdadeira água da vida que somente ele pode dar. Contrária à atitude da mulher que não quer dar de beber a Jesus, o Mestre oferece, gratuitamente, sua água que é, na realidade, o Dom de si mesmo. 

A mulher fica interessada pela água que Jesus revela. Então, ela passa a pedir água a Jesus. Era isto que Jesus queria: despertar seu interesse pela água viva.  No fundo, essa mulher, como todo ser humano, tem sede de Deus.  

  De repente, porém, Jesus, aparentemente, muda de assunto: pede que ela chame o seu marido. Jesus quer fazê-la descobrir que ela procura um amor e não encontra, por isso teve muitos maridos e muitos ídolos, mas não tem um amor verdadeiro. A mulher se envergonha da situação. Jesus a coloca diante da realidade de sua existência marcada por buscas e fracassos. A samaritana teve diversos maridos que a seduziram e depois a abandonaram. Ela confiou neles, mas foi traída. Os vários maridos apontam para as várias realidades nas quais ela acreditou, mas não encontrou o que procurava.  

A mulher atesta que também ela espera o Messias que virá. E aqui está uma surpresa: Jesus se revela como o Messias. Sou Eu. É o ponto alto do encontro entre Jesus e a mulher. A samaritana está ouvindo a própria palavra feita carne que lhe fala. A verdadeira sede é saciada quando a verdade revelada não oprime o ser humano, mas revela seus desvios e erros, propondo caminhos novos. Todos temos sede, muitas vezes buscamos saciá-la em descaminhos da vida. Quaresma é tempo de repensar o estilo de vida que estamos levando, buscando a fonte da água vida. Só Jesus sacia nossa sede! Fonte: https://www.cnbb.org.br