Frei Carlos Mesters, O. Carm

 

Para que possamos segui-lo, devemos nós também carregar a cruz. Ele disse: “Tome a sua cruz, e siga-me!” Jesus não pede para a gente carregar a cruz dos outros, nem para carregar a cruz que ele carregou, mas pede que cada um carregue sua própria cruz, não de qualquer jeito, mas sim “atrás de Jesus e por amor a ele e ao evangelho” (Mc 8,35). Isto é, eu devo carregar-me a mim mesmo com as minhas limitações, defeitos e pecados; devo procurar ser eu mesmo sem pretensão nem arrogância, e colocar-me a serviço, atrás de Jesus, do jeito que Jesus carregou a sua cruz. Foi assim que ele realizou sua missão: “Eu não vim para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45).

Junto ao nosso povo não convém insistir demais nesta obrigação de que devemos sofrer, como se Deus quisesse aumentar o nosso sofrimento. Não! Deus não quer o nosso sofrimento. Ele quer é que tenhamos vida e vida em abundância (Jo 10,10). Não há necessidade de insistir sempre no sofrimento, pois o povo já vive cercado de sofrimento. O sofrimento já faz parte do quotidiano da sua vida. É algo normal que o povo já aceitou e vive, desde criança. Não se deve pedir um compromisso a mais neste ponto.

O compromisso que se pede consiste em não buscar saídas individuais para problemas coletivos. A Cruz de Jesus pede que coloquemos o bem comum acima do bem pessoal ou familiar (de sangue, classe, cultura e demais extensões do meu 'eu'). Este é o resumo de toda a Bíblia: "Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles. Pois nisso consistem a Lei e os Profetas." (Mt 7,12).

É importante aprofundar o significado da Cruz de Jesus com a ajuda de textos da Bíblia, sobretudo das cartas de Paulo. É importante também olhar e experimentar de perto o sofrimento que marca a vida humana, sobretudo a vida dos pobres, aqui no Brasil, no meio do qual vivemos nós Carmelitas. Completamos assim o que falta à paixão de Cristo (Col 1,24).

 

Refletindo sobre o símbolo da Cruz de Jesus

A cruz era o pior instrumento de tortura inventado pelo império romano para dissuadir e abafar qualquer rebeldia contra o poder central. Visava desumanizar as pessoas a ponto de destruir nelas qualquer auto-estima ou sentimento de humanidade, e as matava através de uma agonia cruel e prolongada. Para um crucificado não havia sepultura. Ele ficava pendurado na cruz até o corpo apodrecer ou ser comido pelos bichos.

Em Jesus, a consciência da sua dignidade humana foi mais forte que a desumanidade do poder romano. Em vez de odiar e vingar, Jesus perdoava e rezava: “Pai, perdoai, eles não sabem o que fazem!” (Lc 23,34). O amor ao Pai e aos irmãos levou-o a perdoar seus próprios torturadores e assassinos. Com este gesto incrível de perdão Jesus mostrou que um grande amor é capaz de vencer o ódio que mata.

Esta resistência humana e humanizadora de Jesus destruiu na raiz o instrumento do ódio. Em Jesus, a força desumanizadora da cruz, esse terrível instrumento de tortura do império, foi esvaziada. A cruz de Jesus tornou-se o símbolo da vitória do amor sobre o ódio, da vida sobre a morte. O amor levou Jesus ao dom total de si mesmo e, assim, tornou-se fonte de esperança para todo ser humano.

 

Perguntas reflexão pessoal

1-Criar em nós uma atitude de doação a Deus e aos irmãos;

2-Colocar o bem dos outros acima do próprio bem-estar individual;

3-Aprender a viver melhor a fé na ressurreição que acontece

4-Quando em nós o amor vence o ódio,

5- Quando nossa esperança derruba o desespero,

6- Quando em mim a atitude de serviço supera o egoísmo.